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Carros Antigos Sessão da manhã

12 cilindros e apenas dois litros: o incrível ronco da Ferrari 212E Montagna

A Ferrari é praticamente uma definição do automobilismo. Seus modelos são reconhecidos facilmente até mesmo por pessoas sem um conhecimento muito aprofundado da história da marca. Ou melhor dizendo: alguns de seus modelos. Outros, são desconhecidos até mesmo por fãs da marca.

É o caso da Ferrari 212E Montagna, que foi criada em 1968 para participar de provas de subida de montanha e venceu quase todas as corridas das quais participou. Além disso, é um carro único no mundo.

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Mas o que realmente chamou nossa atenção para a Ferrari 212 E Montagna (nome bacana, não?) foi o ronco de seu motor. Trata-se de um impressionante flat-12 (na prática, um V12 com ângulo de 180°, não um boxer verdadeiro) de apenas dois litros (ou, mais especificamente, 1.991 cm³). Com comando duplo nos cabeçotes, quatro válvulas por cilindro e injeção mecânica de combustível, o motor era capaz de entregar, de início, 280 cv.

O curso dos pistões e o diâmetro dos cilindros – apenas 55 mm e 65 mm, respectivamente – garantiam que o motor girasse a mais de 12.000 rpm com tranquilidade. Para se ter uma ideia, o VW Up! TSI (leia a avaliação aqui) tem curso/diâmetro de  76,4 mm/74,5 mm. Os pistões da Ferrari deviam ter mais ou menos do tamanho de um cookie!

Pistões de um motor Ferrari nunca foram tão deliciosos

Duas unidades do motor foram fabricadas – uma para fins de desenvolvimento e outra para as subidas. Depois de algumas melhorias, o motor passou a entregar 320 cv a 11.800 rpm. E o que você tem quando acelera um motor de 12 cilindros tão pequeno? Isto:

Este vídeo foi gravado em 2003 e resgatado pelos caras do Jalopnik US. São só 55 segundos, mas são 55 segundos tão intensos que valem por cinco minutos e meio. Dizem que os Wankel da Mazda soam como enxames de abelhas furiosas, mas o pequeno flat-12 Ferrari é forte candidato a novo dono desta metáfora, não?

A prova do vídeo é um subida de montanha para carros de corrida clássicos e mostra que a 212E Montagna está em plena forma. Se pensarmos bem, nada mais natural: o carro teve uma carreira curta, e se tornou um vencedor quase por acaso.

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Seu desenvolvimento começou depois que a Ferrari conquistou o título no Mundial de Carros Esporte (World Sportscar Championship) de 1967 (fato que raramente é lembrado, pois quem venceu as 24 Horas de Le Mans naquele ano foi o Ford GT40). Para o ano seguinte, a Ferrari começou a desenvolver um ousado protótipo com o tal flat-12 de dois litros.

Em algumas sessões de testes na pista da Ferrari em Modena, o carro mostrou-se muito rápido, mas não muito confiável. Por isso, colocá-lo em uma prova de longa duração como as 24 Horas de Le Mans não era uma ideia muito boa. Em vez disso, a Scuderia decidiu inscrever a Ferrari 212E Montagna no Campeonato Europeu de Hillclimb.

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Contudo, a estreia do carro nas pistas teve que esperar mais um ano. Isto porque, em 1968, o chassi tubular do protótipo (que era baseado naquele da Ferrari Dino) foi emprestado para um carro conceito, a Ferrari 250 P5 Berlinetta Speciale que foi apresentada nos salões de Genebra, Turim e Los Angeles daquele ano.

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Enquanto isso, o flat-12 de dois litros continuava sendo aperfeiçoado, até chegar a sua potência final de 320 cv. Assim, em 1969, o carro estava pronto para competir: o motor foi devolvido ao chassi, e a nova carroceria spyder foi instalada. No total, o carro pesava apenas 500 kg e, com suspensão independente por braços sobrepostos nos quatro cantos, era absurdamente veloz.

Tanto que, em 1969, a 212E Montagna venceu todas as corridas do Europeu de Hillclimb, com o suíço Peter Schetty ao volante. Ainda que alguns acreditem que seu sucesso se deva ao fato de que simplesmente não havia concorrentes à altura, a verdade é que alguns dos recordes estabelecidos naquele ano pelo carro permaneceram em pé por décadas.

Como as provas de subida de montanha não eram prioridade da Ferrari, em 1970 o carro não competiu. Vários pilotos tentaram comprar o carro para competir de forma independente e, no fim das contas, quem conseguiu ficar com ela foi o italiano Edoardo Lualdi-Gabardi, que correu com a 212E Montagna em 1971. O detalhe é que ele encomendou uma nova carroceria, desenhada pelo filho de Enzo Ferrari, Piero.

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Depois de competir no Campeonato Italiano de Hillclimb (com resultados apenas razoáveis), Lualdi-Gabardi vendeu o carro novamente. A Ferrari 212E Montagna, então, trocou de mãos outras três vezes, sendo que a última delas aconteceu em 2006, em um leilão organizado pela RM Auctions. Na época, foram pagos US$ 1,65 milhão pelo carro – o equivalente a US$ 1,95 milhão, ou R$ 7 milhões, em 2015.