A Ferrari 250 GTO é um dos carros mais raros e valiosos do planeta – se não for o mais raro e valioso de todos, chega muito perto disso: fizeram apenas 39 delas, sendo que um exemplar foi vendido por US$ 38,1 milhões em 2014. Isto dá pouco mais de R$ 130 milhões hoje em dia, já com a inflação do período corrigida.
Agora, quanto vale uma réplica? Bem, depende da réplica. Se for o carro da foto acima, estamos falando de pelo menos US$ 585 mil, ou mais de R$ 2 milhões. Claro, ainda é muita grana mas, se considerarmos que esta é uma recriação da 250 GTO feita sobre uma legítima Ferrari 330GT 2+2, até que é um preço camarada…
Questões monetárias à parte, estamos diante de um trabalho impressionante: quem olha para este carro e não lida com Ferraris preciosíssimas todos os dias jamais desconfiaria que não se trata do real deal. Mas, veja bem, também não dá para encher o peito e dizer que é uma réplica.
Este carro é o que se costuma chamar, no meio das Ferrari clássicas, de recriação: usar componentes originais – estrutura, suspensão e conjunto mecânico – e uma carroceria nova, feita à mão, para recriar um clássico. No caso deste carro, uma Ferrari 330 GT 2+2 doou suas peças para a recriação de uma 250 GTO. Não dá para chamar isto de réplica, dá?
A 330 GT 2+2 foi um dos primeiros grand tourers de quatro lugares fabricados pela Ferrari, bem como um dos primeiros carros de rua da fabricante equipados com o novo V12 de quatro litros (aproximadamente 330 cm³ por cilindro, daí seu nome) e 300 cv a 6.600 rpm.
Era um carro e tanto: com entre-eixos de 2.650 mm, podia levar quatro pessoas com relativo conforto e ainda contava com amortecedores ajustáveis Koni, freios a disco de circuito duplo e até sistemas de ar-condicionado e direção com assistência hidráulica como opcionais. Entre 1964 e 1967, 1.099 exemplares foram fabricados – um número alto, considerando que naquela época as Ferrari eram carros ainda mais exclusivos do que hoje em dia.
Um dia, este carro foi uma 330 GT 2+2 perfeita. No entanto, no início da década de 1990, um cara chamado Mark Gerisch a transformou na “250 GTO” que você vê nestas fotos.
Mark Gerisch ficou famoso na década de 2000 depois que sua companhia, a Gennadi Design Group, criou uma versão sem teto do Ford GT chamada GTX1, que teve cerca de 100 unidades produzidas entre 2006 e 2008 e tornou-se um cobiçado item de colecionador. Antes disso, ele fez este carro.
A estrutura da 330 GT 2+2 foi aproveitada até onde foi possível, com os devidos reparos e modificações para que tudo coubesse sob uma carroceria feita em alumínio – esculpida por Mark de forma artesanal o, usando ferramentas tradicionais como a roda inglesa. Ele teve acesso a um exemplar da 250 GTO fabricado em 1962 e pode, assim, tirar todas as medidas e confeccionar os moldes necessários. O que nos leva a crer que a estrutura original teve o entre-eixos reduzido de 2.650 mm para 2.400 mm (que são as medidas da 330 GT 2+2 e da 250 GTO, respectivamente). As proporções parecem todas corretas – se o entre-eixos fosse mais longo, o resultado não ficaria tão convincente.
Além disso, de acordo com a descrição do carro no , o carro foi feito para as pistas tal como a GTO original. O entre-eixos curto, como já dissemos várias vezes, é preferível em um carro de pista pois faz com que o carro sofra menos com a inércia polar e mude de direção mais rápido nas curvas. Um grand tourer fica melhor com entre-eixos mais longo, pois é mais confortável em alta velocidade e em pisos mais irregulares, pois “pula” menos.
Para garantir a autenticidade da recriação, foi utilizada a maior quantidade de componentes originais possível – faróis, lanternas, para-choques e acabamentos em geral são genuínos, assim como bancos, volante, mostradores e outros detalhes do interior.
O resultado é mesmo impressionante. É uma Ferrari de verdade, com o visual de uma 250 GTO e um motor ainda mais potente – o V12 foi todo retrabalhado, teve o deslocamento ampliado para 4,5 litros e, segundo a descrição do anúncio, entrega 410 cv a 7.663 rpm (aferidos em dinamômetro). Estamos começando a achar que o valor é uma pechincha.
Agora uma curiosidade: das 39 Ferrari 250 GTO fabricadas entre 1962 e 1964, três foram equipadas com o motor V12 de quatro litros da 330, sendo chamadas de “330 GTO”. Para reconhecê-las, basta observar o capô e procurar por um enorme “caroço”, necessário para acomodar o motor maior.
Foto: robertknight16/Flickr