Hoje é o Dia Internacional da Mulher, por isso em homenagem a elas, vamos falar sobre a pessoa responsável por transformar uma interminável experiência de garagem em um produto revolucionário. Esta é a história de Bertha Benz, a primeira pessoa a fazer uma viagem dirigindo um carro.
Como vocês devem ter adivinhado pelo nome, Bertha era casada com Karl Benz, o engenheiro que desenvolveu o Patent Motorwagen em 1886, considerado ancestral direto do automóvel moderno. Vinda de uma família rica, Bertha ajudou a financiar o trabalho de Karl e a construção dos três protótipos iniciais, e por isso estava muito envolvida com todo o processo, além de ter uma boa noção de engenharia.
Karl já vinha trabalhando havia quase duas décadas em sua “carruagem sem cavalos”, e tinha certa propensão a surtos nervosos e depressão. Ele trabalhava infinitamente em seus carros e não queria promovê-los antes que estivessem absolutamente perfeitos, o que é impossível até hoje. Imagine então em 1888, quando ninguém sabia o que era um carro perfeito.
Por outro lado, Bertha tinha duas coisas que faltavam a Karl: dinheiro e liberdade da depressão e do perfeccionismo. Bertha era sua esposa, mas também era a investidora do projeto e uma comerciante sagaz. Ela sabia que as pessoas precisavam ver os carros andando e segundo guiados, mas também sabia que seu marido jamais tentaria algo além dos pequenos testes que fazia nos arredores de sua oficina.
Bertha sabia que seria preciso algo mais radical e por isso, em uma manhã de agosto de 1888, ela acordou antes do marido e pegou o protótipo nº3 na oficina e foi visitar sua mãe.
A sogra de Karl vivia a pouco mais de 100 km de distância, em Pforzheim, e Bertha baseou sua rota em boticários, onde ela poderia comprar benzina, que era um destilado de petróleo usado como solvente, limpador, e também como combustível para o carro de Benz. Ela foi com seus dois filhos, Eugen, de 14 anos e Richard, de 15, e o mais legal de tudo é que ela não avisou Karl.
Seu marido nunca a deixaria viajar em uma máquina interminada, mas ela estava confiante e acreditava na invenção. Seus filhos empurraram o carro para fora da garagem para poder dar a partida sem acordar o pai e partiram.
Isso não parece grande coisa hoje, mas ela usou uma máquina que ninguém conhecia e decidiu dirigir por mais de 100 km em uma época em que não haviam oficinas, nem postos de combustível — aliás, não havia sequer um combustível padronizado para as máquinas de combustão interna da época.
Cara… essa mulher teve coragem. A viagem não foi fácil, como você pode imaginar. Não havia roteiros, pois as viagens de longa distância eram feitas por trens já havia quase 100 anos, então ela precisava fazer seu próprio caminho pelos vilarejos e cidades entre Mannheim e Pforzheim. Ela teve contratempos, mas isso não a impediu de seguir em frente.
Ela conseguiu ajuda para alguns reparos, como o ferreiro que consertou a corrente de transmissão, ou o sapateiro que pregou couro nos blocos de freio, o que significa que ela inventou as pastilhas de freio, de certa forma.
Os outros reparos ela fez por conta própria, com uma desenvoltura incrível e detalhes característicos das mulheres daquele tempo: ela desentupiu uma linha de combustível com o alfinete do broche de seu chapéu, e improvisou um isolamento para um cabo (que deve ter sido um cabo de ignição — que outro tipo de cabo haveria ali?) com a liga de sua meia.
No final do dia, Bertha e seus filhos chegaram à casa da vovó. Em Pforzheim, Bertha enviou uma mensagem por telégrafo ao marido, avisando que tudo havia corrido bem. A primeira viagem de carro da história estava completa e todos que cruzaram o caminho de Bertha estavam falando da incrível carruagem sem cavalos, que acabou batizada como Benz Patent Motorwagen.
Depois de três dias na casa da mãe, ela subiu no carro e fez a viagem de volta para casa — a segunda viagem de carro da humanidade.
Foi um enorme sucesso como ação publicitária, e também serviu como uma prova de testes — o que faz de Bertha Benz a primeira piloto de testes da história do automóvel — levando Karl a adicionar uma marcha mais baixa ao motor de 0,68 cv para ajudar nas subidas que Bertha não conseguiu vencer com o carro, e também a adotar o aperfeiçoamento que sua esposa fez no sistema de freios.
Todo entusiasta tem uma dívida impagável com esta brava senhora. Sem ela, Karl Benz talvez tivesse passado sua vida inteira tentando finalizar seu carro. Danke, Frau Bertha.
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