Você não caiu em uma página de erro: 404 é como se chama este carro, e você deve ter deduzido se tratar de um Peugeot antes mesmo de continuar lendo o título do post. Além disso, apesar do nome e do visual exótico conferido pela pequena cabine, o Peugeot 404 Diesel Record Car definitivamente não foi um erro.
A reputação da Peugeot entre os entusiastas é das melhores, e com razão: na década de 1980, o Peugeot 205 T16 dominou o Grupo B de rali e o 405 T16 fez história em Pikes Peak; em 2009, o Peugeot 908 HDi FAP acabou com uma sequência de três vitórias da Audi nas 24 Horas de Le Mans. Sem falar no clássico Peugeot 205 GTI, hot hatch oitentista que é reconhecidamente um dos melhores de todos os tempos.
No entanto, ninguém fala do Peugeot 404 Diesel. Vamos fazer isto agora!
Se hoje a Peugeot é conhecida pelos seus cupês bonitos que não andam muito e hatchbacks que andam mais do que parecem, na década de 1960 os franceses eram conhecidos como fabricantes de carros robustos e duráveis. O melhor símbolo disto era, sem dúvida, o Peugeot 404. Produzido de 1960 a 1975 na França e até 1991 no Quênia, o 404 tinha versões sedã, perua, conversível, cupê e picape, visual clássicos e motores de quatro cilindros que não eram exatamente potentes, mas serviam muito bem seu propósito: dois quatro-cilindros a gasolina, de 1,5 e 1,6 litro, sendo que o mais potente (1.6 com injeção mecânica) tinha 96 cv; e um motor a diesel de 1,9 litro e 64 cv – nossa estrela de hoje.
Na década de 1960, a Peugeot foi uma das primeiras fabricantes a investir de verdade na produção em série de carros com motores a diesel, sendo que o outro grande expoente era a Mercedes-Benz – que acabou, na década seguinte, tomando para si o título de referência no mercado graças a modelos como o icônico 300D. No entanto, para se ter uma ideia, o motor 1.9 de 64 cv do 404 garantiu que ele fosse o carro a diesel mais veloz de seu tempo, sendo capaz de chegar aos 100 km/h em… 25,5 segundos, com máxima de 130 km/h.
Mas como um carro que levava quase meio minuto para chegar aos 100 km/h conseguiu bater recordes de velocidade? Com baixo peso e aerodinâmica, claro!
Tal conquista era exatamente o que a Peugeot precisava para promover seu modelo a diesel. Para isso, eles pegaram um 404 cupê (ou conversível, isso nunca ficou claro) e o transformaram em um monoposto, removendo parte da área envidraçada e mantendo apenas um pequeno canopi para o piloto, de modo a cortar melhor o ar.
A redução de peso também incluiu a remoção dos para-choques, de todos os emblemas e do painel de instrumentos original, que foi substituído por dois mostradores simples. A inclinação do para-brisa, que também foi aumentada por questões aerodinâmicas, exigiu que se fabricasse uma nova porta e que o volante fosse recuado. Como resultado, o monoposto pesava 950 kg – 80 kg a menos que a versão de rua.
O motor era o mesmo quatro-cilindros de 1,9 litro e, segundo consta, não foram feitas modificações mecânicas. Mesmo assim, em junho de 1965, o Peugeot 404 Diesel Record car percorreu 5.000 km a uma velocidade média de 160 km/h no Autódromo de Linas-Montlhéry, na França, em uma bateria que durou 72 horas. A pista, que fica a cerca de 30 km de Paris, possui um oval de 2,5 km de extensão e inclinação bastante acentuada, projetado especialmente para provas de alta velocidade.
No mês seguinte, agora com uma versão de 2,163 cm³ do mesmo motor, o 404 Diesel Record Car percorreu nada menos que 11.000 km a uma velocidade média de 161 km/h. Além destes, outros 38 recordes foram batidos pelo 404 Diesel naqueles dois meses, ainda que encontrar quais são eles seja uma tarefa virtualmente impossível.
Não se fala muito mais sobre o assunto, talvez porque a Peugeot prefira mesmo lembrar de seu passado nos ralis e nas 24 Horas de Le Mans. Aliás, o 908 HDi FAP era movido por um V12 de 5,5 litros… a diesel.
Por outro lado, a notícia boa é que o Peugeot 404 Diesel Record Car ainda existe, e até pouco tempo atrás ainda era visto em eventos para carros de corrida históricos. Olha só ele no Goodwood Festival of Speed de 2010:
E, se você for ao Museu da Peugeot, em Sochaux, na França, certamente não vai ter problemas para encontrá-lo.