A barreira dos 500 km/h foi finalmente quebrada: no dia 10 de outubro de 2020, o SSC Tuatara tornou-se o novo carro produzido em série mais veloz do mundo depois de atingir a velocidade média de 508,7 km em duas medições.
A aferição foi feita em um trecho State Highway 160, em Nevada, na Califórnia, com o piloto britânico Oliver Webb ao volante. Como mandam os critérios da Guinness World Records, é preciso fazer duas medições em sentidos opostos, e a velocidade final é obtida tirando a média entre a velocidade aferida em ambas. Agora, falta apenas a certificação oficial, que deve ocorrer nos próximos dias.
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Na primeira medição, o Tuatara chegou aos 484,5 km/h. Na segunda, a velocidade máxima foi de impressionantes 532,9 km/h. Tirando a média entre ambas as aferições, chegou-se ao número oficial do recorde: 508,7 km/h. E, diferentemente do que ocorreu com o Bugatti Chiron Super Sport 300+, o recorde foi quebrado por um Tuatara idêntico ao hipercarro vendido pela SSC.
Fora as duas medições, o recorde também foi registrado com duas testemunhas escolhidas pela Guinness World Records, medido usando um aparelho de GPS certificado pela organização com dados de 15 satélites diferentes. Assim, embora o certificado ainda não seja emitido, deve ser questão de tempo até que o recorde seja validado.
Movido por um V8 biturbo de 5,9 litros feito pela Nelson Racing Engines, famosa por seus motores de arrancada, o SSC Tuatara dispõe de 1.774 cv quando abastecido com etanol E85 – o que, em um carro com 1.247 kg (seco), significa uma relação peso/potência de insanos 0,7 kg/cv. Não por acaso, desde o início a SSC dizia que a meta do Tuatara era uma velocidade máxima superior aos 482 km/h (300 mph).
Unidades do motor foram testadas exaustivamente em um dinamômetro para garantir que nada desse errado – segundo a SSC, a ideia era mesmo tentar quebrar os motores para ver o quanto de stress eles podiam suportar. “Passamos meses literalmente acelerando estes motores no limite, com a pressão no máximo, até tudo ficar laranja, e ainda assim eles não quebraram”, disse Jerod Shelby após o recorde. “Posso estar testando nossa sorte aqui, mas em todos esses anos de design e no último ano de testes no mundo real, ainda não tivemos nenhuma quebra de motor ou câmbio.” E continuou: “Aprendemos já nos anos 2000 que muita gente pode fazer um motor de indução forçada ou turbo. A grande diferença é fazê-los robustos e capazes de funcionar no limite por vários minutos sem quebrar.
O SSC Tuatara é o mais recente modelo da Shelby Super Cars (que foi fundada por Jerod Shelby em 1998 e não tem relação alguma com Carroll Shelby) e sucessor do SSC Aero. Apresentado em 2011 como conceito, o Tuatara ainda passou sete anos em desenvolvimento antes de ser revelado em sua forma definitiva no Goodwood Festival of Speed, em 2018. E só em 2020 a produção começou, com 100 exemplares previstos para deixar a fábrica da SSC em Richland, Washington – um número que lhe confere exclusividade mas, ao mesmo tempo, é mais que suficiente para que o Tuatara seja considerado um modelo produzido em série.
E também para colocar uma pedra na dúvida sobre qual é o carro mais veloz do mundo, afinal. Isto porque este tópico era controverso havia muito tempo.
Você deve lembrar do recorde do Bugatti Chiron Super Sport 300+, que em 2 de agosto de 2019 atingiu os 490,5 km/h no circuito de Ehra-Lessien, na Alemanha. Mas há uma questão imporatnte: a velocidade foi alcançada com uma unidade modificada pela Bugatti: tinha ainda mais potência no motor W16 quadriturbo – 1.600 cv contra 1.500 cv da versão comum – e uma carroceria modificada, mais longa, a fim de reduzir o arrasto aerodinâmico e, consequentemente, obter maior velocidade final.
Depois de anunciar que esta será sua última tentativa de quebrar recordes, a Bugatti anunciou o Chiron Super Sport 300+, edição especial limitada a 30 unidades, que começarão a ser entregues a partir de 2021 – o que, tecnicamente, torna o recordista de velocidade um carro produzido em série de forma retroativa. O Chiron Super Sport 300+ terá o mesmo motor de 1.600 cv, a carroceria mais longa e o mesmo esquema de pintura, com fibra de carbono exposta e detalhes em laranja. Contudo, seu limitador de velocidade só permitirá atingir os 483 km/h em uma pista como Ehra-Lessien.
A velocidade foi certificada pela Associação de Inspeções Técnicas da Alemanha (TÜV), mas não foi considerado um recorde pela Guinness World Records, pois foi aferido apenas em uma direção. A Bugatti disse que uma segunda aferição, no sentido contrário, não seria possível pois com tantos restes realizados em Ehra-Lessien em sentido horário, a granulação do asfalto aponta para aquela direção – e, com isto, uma volta no sentido anti-horário representaria risco à segurança do piloto.
Assim, tecnicamente, o recorde quebrado pelo SSC Tuatara pertencia a outro carro: o Koenigsegg Agera RS. Em novembro de 2017, ele chegou aos 447,2 km/h no mesmo trecho de rodovia em Nevada, com o piloto de testes Niklas Lija ao volante. O recorde seguiu todo o procedimento exigido pela Guiness World Records, com duas aferições feitas no mesmo trecho de rodovia em Nevada, nos EUA. Na primeira, o Agera RS chegou aos 457,4 km/h. Na segunda, foram 436,4 km/h. A média entre as duas aferições foi de 447,2 km/h.
O recordista anterior ao Agera RS, sim, era um Bugatti: o Veyron Super Sport, que lá em 2010, chegou aos 431,1 km/h em Ehra-Lessien – um recorde oficial da Guinness, obtido após duas aferições. Na primeira, o carro chegou aos 427,9 km/h, enquanto a segunda trouxe a marca de 434,2 km/h. Foi em julho de 2010 – sim, já faz bastante tempo.
Talvez o mais interessante disto tudo, porém, seja o fato de o recorde do SSC Tuatara ser o fechamento de um ciclo para a empresa. Isto porque o recordista anterior ao Veyron Super Sport era o antecessor do Tuatara: o SSC Ultimate Aero TT, que já usava um V8 biturbo baseado no motor LS6 da General Motors, com 6,3 litros de deslocamento, 1.196 cv e 152,9 kgfm de torque.
Em duas aferições realizadas em uma rodovia de Washington, nos EUA, o SSC Ultimate Aero TT chegou aos 410 km/h – e superou o antigo recordista, o primeiro Bugatti Veyron, que havia chegado aos 408,5 km/h em Ehra-Lessien em abril de 2005.
Como última observação, devemos notar que, em dez anos, o salto de velocidade máxima do carro mais veloz do mundo foi de quase 100 km/h: 434,2 km/h do Veyron Super Sport em 2010, e 532,9 km/h do SSC Tuatara em 2020. E sem a ajuda de motores elétricos – o que é simbólico, para dizer o mínimo.