Qual o nome verdadeiro do Fusca? Não sei se você já reparou, mas a Volkswagen só começou a chamá-lo desse jeito no início dos anos 1970, quase 20 anos depois de sua chegada ao Brasil. E ninguém além dos brasileiros o chamam de Fusca — na verdade, em algumas regiões do Sul do Brasil ele é o “Fuca”, sem S. Ou seja: nem mesmo seu nome popular é um consenso.
A Volkswagen o chamava apenas de “Volkswagen”, mesmo depois de ele deixar de ser o único Volkswagen. Havia a Kombi e o Volkswagen. Quando o motor 1300 foi lançado, substituindo o antigo 1200, ele também foi chamado de “Volkswagen 1300” — e, mais tarde, de “Volkswagen 1500”, pouco antes de a fabricante assumir o nome Fusca.
Seu nome oficial é Typ 1 — ou seja: tipo 1, por ser o primeiro carro da Volkswagen. Mas esse nome só apareceu depois que o volkswagen se tornou a Volkswagen, depois da Segunda Guerra. Antes disso, ele era conhecido como KdF-Wagen ou… Typ 60.
Typ 60 ou Type 60, dependendo de quem escreve, é o nome do projeto do Fusca, um código usado por Ferdinand Porsche e sua equipe de engenheiros para identificar tudo o que vinha sendo feito para o carro do povo encomendado pelo governo alemão. O número do projeto não tinha nenhum significado especial, era apenas o próximo da , quando ele abriu seu escritório de engenharia, e atualizada constantemente por Karl Rabe, seu engenheiro chefe e braço-direito.
É dessa lista que vêm os nomes dos Porsche mais famosos da história. Em 1947, por exemplo, a Porsche trabalhou em três projetos: o 354, o 355 e o 356. O primeiro deles, 354, era uma carreta de reboque feita para transportar o projeto 356. O segundo, 355, era uma van baseada nos Kastenwagen e Kubelwagen, enquanto o terceiro, 356, era um roadster de motor central-traseiro — o carro que deu origem ao Porsche 356. O 550 teve a mesma origem: foi o 550º projeto da lista.
A lista da Porsche
Nem todos os projetos são de carros completos, contudo. O Typ 22 é um projeto de carro de grand prix, com motor central traseiro de 16 cilindros, que foi encomendado pela Auto Union em 1933. Sim, a origem das flechas de prata da Auto Union, pilotadas por Bernd Rosemeyer e Hans Stuck antes do início da Segunda Guerra. O número 595 foi usado para identificar um estudo preliminar para um novo motor Porsche, e o número 819 é um câmbio manual desenvolvido para a Mercedes no fim dos anos 1950.
Por razões que nunca saberemos, em algum momento houve saltos no número do projeto. Algumas fontes indicam que, ao desenvolver o sucessor do 356, a Porsche queria evitar a sensação de continuidade e, por isso, pulou os 700 e 800 para chegar aos 900. Assim, o sucessor de 356 foi desenvolvido sob o código 901, que seria o nome do carro se não fosse uma chamada amistosa da Peugeot, tradicionalmente conhecida por batizar seus carros com números que têm o zero no meio, como 901.
Eles poderiam ter simplesmente invertido o zero e o 1, transformando-o no 910, mas optou por trocar apenas o algarismo central e criou o 911. Como os números de 902 a 999 ainda estavam disponíveis, a Porsche racionalizou o uso dos códigos e tudo o que foi desenvolvido posteriormente para o 911, como motor boxer 2.7 do Carrera RS, foi identificado com o código interno 911 como raiz — o motor 2.7 é o projeto 911/83.
A era dos 9
A partir do 911 todos os projetos de carros feitos pela Porsche foram iniciados pelo número 9. O 912, versão de quatro cilindros do 911, era o projeto 902. Depois vieram o 904, o 906, o 907, 908, 909, 914, 917, 924, 935 e por aí segue.
Nem tudo foi exatamente sequencial, pois havia projetos desenvolvidos para mais de um modelo, então, em vez de usar o código do modelo como raiz (ex: 911/83), eles ganharam uma denominação própria, como o câmbio Sportomatic, que é o projeto 905, um motor de três cilindros e comando duplo (913), uma série de transmissões de quatro marchas (915) e motores e transmissões de competição (916).
Até meados dos anos 1980 a Porsche seguiu esse sistema de batizar o carro com o nome do projeto. A segunda geração do Porsche 911, o 964, tem esse nome porque foi realmente o projeto 964. O Porsche 924, o Porsche 944, o Porsche 935, o 956 e o 959 também. Mas já naquela época havia alguns saltos aleatórios na numeração.
O Porsche 994 foi feito antes do Porsche 993, e era a versão turbo do 964, desenvolvida em 1989. E o 995 foi feito antes do 994: no final dos anos 1970 a Porsche desenvolveu um estudo aerodinâmico para o governo alemão baseado no 928 e deu a ele o código 995. Também especula-se que o código 993 foi escolhido devido ao ano do lançamento do carro, 1993, mas não há fontes oficiais sobre isso.
Já o 996, aparentemente foi escolhido pela relação com o projeto 986, o Boxster de primeira geração do qual o 911 996 foi derivado. Desde então os 911 têm essa relação numérica com o Boxster (e desde 2006, o Cayman). A segunda geração do Boxster foi o 987, seguida pelo 981 e pelo atual 982 — tal como o 911 teve o 997, 991 e 992. Como o 993 já foi usado há 30 anos, a próxima geração do Boxster certamente não será a 983…
Com essa mudança em meados dos anos 1990, ficou claro que a Porsche abandonou a relação com o número sequencial de projeto. Afinal, o código 919 não se refere a um carro híbrido com motor V4 para corridas de endurance, e sim ao protótipo do câmbio PDK, iniciado em… 1969! O código 918 também não era originalmente um carro híbrido com motor V8 para as ruas, e sim um estudo feito em 1968 para um esportivo de motor central-traseiro e seu motor flat-8 de 3,2 litros.
A questão é que os Porsche acabaram fortemente associados aos nomes iniciados por 9 — tal como a Peugeot é associada ao zero no meio do nome. O fato de a Porsche ter reaproveitado códigos antigos de projetos obscuros como nome comercial para seus esportivos modernos, deixa claro que ela deverá aproveitar esses números para os futuros modelos, evitando um Porsche 1000 depois do 999.
Os outros nomes/sufixos
Além dos números, a Porsche também passou a usar nomes propriamente ditos mais recentemente, quando colocou o Boxster no mercado. Seu nome é uma contração de boxer e roadster, seu motor e sua carroceria, respectivamente.
A versão cupê do Boxster, lançada em 2005, acabou batizada com o nome de um tipo de crocodilo de pequeno porte e também muito ágil encontrado na América Central, o caimão (cayman em inglês). A temática zoológica também foi usada no Macan, que é uma das palavras indonésias para designar os tigres, e no Taycan, que, segundo a Porsche, é uma palavra de origem turca que significa “espirituoso como um cavalo jovem”.
Já “Cayenne” não tem nada a ver com o mundo animal. À primeira vista, ele parece um nome toponímico (que deriva de um lugar) como o Cayman (Ilhas Cayman), afinal, Cayenne (Caiena) é a capital da Guiana Francesa. A Porsche, contudo, diz que escolheu Cayenne devido à pimenta caiena.
Carrera e Panamera, apesar de batizarem carros tão diferentes, têm a mesma origem: a Carrera Panamericana, corrida disputada no México, durante os anos 1950, que foi uma das primeiras vitórias da Porsche com o 550 Spyder. O nome Spyder, aliás, também é uma tradição da Porsche, e vem de antigas carruagens abertas e leves para apenas duas pessoas. Dizem que o nome “spider” (aranha em inglês) vem da semelhança com as aranhas por ser um corpo pequeno sustentado por grandes rodas.
Outra derivação de Carrera é a antiga sigla SC, usada no 911 nos anos 1970: SC significa Super Carrera. A ideia era fazer dele o último dos Carrera, como o 356 SC era o último 356 C (Super C). Como a Porsche decidiu manter o nome Carrera como versão do 911, ela acabou abandonando a sigla.
A Porsche também usa a letra T em sua nomenclatura, que originalmente designava o 911 Targa, mas hoje significa Touring, que são as versões esteticamente mais comportadas dos GT.
O S, como em 964S ou 911S, além do “Super” como nos exemplos acima, também pode significar “Sport”, uma versão com o motor mais forte, como no caso do 911 Carrera S, que é um Carrera com motor mais potente, porém não a ponto de ser um GTS. E GTS, você sabe o que é: Gran Turismo Sport, uma definição tradicionalmente usada por várias fabricantes, assim como GT (Gran Turismo), que identifica os Porsche das classes GT da FIA.
Por último, a Porsche ainda tem uma variação própria dos GT que são os RS e RSR, siglas para Renn Sport (esportivo de corrida) e Renn Sport Rennwagen (esportivo de corrida para corrida). Não parece fazer sentido à primeira vista, mas na Porsche os RS são os modelos de rua, e os RSR são os modelos de competição.
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