Em 1952 a Ferrari tinha apenas cinco anos, mas já estava no topo do automobilismo mundial. Eles já haviam conquistado a 24 Horas de Le Mans e estavam liderando o mundial de Fórmula 1 — o qual conquistariam pelas mãos de Alberto Ascari. Apesar dessa grandiosidade nas pistas, a Ferrari ainda era uma fabricante de automóveis artesanais, produzindo pequenas quantidades de carros de rua para bancar seus carros de corrida.
Enzo sabia que para tornar sua marca ainda mais conhecida, ele precisaria conquistar o maior mercado de automóveis do planeta, os EUA. E para isso, ele pensou em uma ação de relações públicas como poucas vezes havia sido feita na história do automóvel até então. Enzo decidiu dar um de seus carros ao mais personalista dos fabricantes de automóveis dos EUA: Henry Ford II. Se ele impressionasse o “Deuce”, todos ficariam sabendo que o sr. Ford também dirigia uma Ferrari. Além disso, era uma ponte que se construía — algo fundamental para uma fabricante tão pequena e tão jovem como a Ferrari.
Para impressionar Henry Ford II, Enzo pegou o mais novo dos seus modelos, a 212 Inter, encomendou aos seus amigos da Carrozzeria Touring Superleggera uma carroceria ao estilo barchetta, porém com alguns toques americanos, como as lanternas traseiras e a linha de cintura do carro.
A 212 Inter foi o segundo carro de rua da Ferrari, equipado com o V12 Colombo, projetado por Gioachinno Colombo para as pistas. daí o nome — que começou pequeno, com apenas 1,5 litro (seus cilindros tinham 55 mm de diâmetro!) e 118 cv na Ferrari 125S. Na versão de Fórmula 1, sobrealimentada por um compressor, a potência saltava para 230 cv. Era um motor avançado, com comando simples no cabeçote, alimentado por três carburadores.
Na 212 Inter, o deslocamento era de 2,5 litros (212 cm³ por cilindro) graças ao diâmetro dos cilindros ampliado para 68 mm, e a potência variava entre 150 cv (com um carburador) e 165 cv (três carburadores). A suspensão dianteira era independente, com braços triangulares duplos, e a traseira trazia um eixo rígido.
Quatro carrozzieri ficaram encarregadas de finalizar as 212 Inter: Ghia, Pininfarina, Vignale e Touring — e cada carro podia ter suas características definidas pelo cliente. Ao todo, 82 unidades da 212 Inter foram produzidas ao longo de dois anos, e a Touring ficou com aquela que, talvez, seja o mais especial de todas elas: a 212 Inter de Henry Ford II.
Até hoje não se sabe exatamente por que Enzo Ferrari mandou fazer uma 212 Inter para Henry Ford. Dizem que Enzo costumava dar carros para gente importante no mundo e, assim, fazer fama. Há quem diga também que Henry Ford II comprou o carro. O caso é que o primeiro dono deste carro foi Ford, e esta relação entre os dois pode ter sido o primeiro passo para a futura negociação frustrada da Ford para tentar comprar a Ferrari — e, consequentemente, à ferrenha batalha das duas marcas em Le Mans que culminou com a dominância do Ford GT40 entre 1966 e 1969.
Além da carroceria especial, ele também tinha um segredo sob o capô: em vez do motor 212 (2,6 litros) ele tinha um 225 (2,7 litros) vindo diretamente das 212 Export de corridas. Enzo queria agradar o Deuce, afinal.
Talvez a parte mais curiosa da história deste carro, contudo, seja a sua suposta influência no design de um dos Ford mais icônicos de todos os tempos: o Thunderbird — algo que pode ser notado nas proporções, na grade, nas lanternas traseiras redondas e, principalmente, nas saídas de escapamento que atravessam a carroceria.
Aqui é importante lembrar que o Thunderbird foi a aposta (mal-sucedida) da Ford na onda dos carros esporte nos EUA dos anos 1950, quando Max Hoffmann criou o Mercedes-Benz 300SL, o Porsceh 356 Speedster, o BMW 507 e o Alfa Romeo Giulietta Spider, e a Chevrolet, criou seu esportivo europeu nos EUA, o Corvette.
Ironicamente, o Thunderbird nunca conseguiu chegar perto destes carros e, dizem, foi este um dos motivos pelos quais a Ford decidiu comprar a Ferrari no início dos anos 1960. A Chevrolet tinha o Corvette, mas a Ford não tinha um esportivo à altura. A Ferrari seria o caminho mais curto para conseguir isso. O resto é história – uma história que contamos em 2019, antes de ela ser contada na tela do cinema.
Quanto à Ferrari 212S de Henry Ford, ela está guardada desde 2005 no Petersen Museum, em Los Angeles, com as mesmas 13.000 milhas e com a mesma pintura, rodas, motor, pneus e couro com os quais deixou a Itália para viver nos EUA.
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