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A “Highway to Hell” da música é uma estrada de verdade

Highway to Hell. Você sabe, aquela música que toca nos bares de rock, pubs, encontro de Harley-Davidson, Homem de Ferro e nas playlists do MAO. Um clássico do rock, oficialmente uma das músicas mais australianas da história e uma metáfora que simboliza um caminho para a perdição. Ou seria uma estrada de verdade?

Bem… as duas coisas.

Se você procurar por “highway to hell real road” no Google, ele irá te apresentar um link para a US Highway 431, nos EUA. Trata-se de um trecho de 570 km que se estende entre os estados do Alabama e do Tennessee, no sudeste americano. Ela é conhecida como “Highway to Hell” — a rodovia para o inferno — devido à sua reputação como a “rodovia mais mortal do mundo”.

O título, claro, é questionável pelas estatísticas: a rodovia teve cerca de 50 mortes nos últimos 25 anos — algo que está longe de qualquer recorde de fatalidades, mesmo considerando um trecho de 150 km. Mas o trecho tem uma série de características que a tornam extremamente perigosa, como a visibilidade baixa em curvas e subidas cegas, estreitamentos de pista repentinos e várias cidades nos arredores, com carros lentos acessando e transitando localmente. Isso, sem contar uma longa e tediosa reta.

O caso da “Highway to Hell” americana, contudo, é que seu apelido foi inspirado pela música e não o contrário. A letra de “Highway to Hell” trata claramente de uma pessoa se preparando para uma curtição forte, com pouco trabalho, amor livre, sem julgamentos, sem motivos, só festa com os amigos. Por isso é uma “higwhay to hell”? Se você for puritano, é isso mesmo. Um caminho para o inferno.

Mas a segunda parte da musica dá a pista de que se trata de uma estrada mesmo — ainda que ela tenha duplo sentido. A letra diz que “não há sinal de ‘pare'”, nem “limites de velocidade”, e que “ninguém irá pará-lo” nessa “highway to hell”. Pode ser uma metáfora: o lugar para onde ele vai não tem limites, não tem ninguém para impedi-lo de fazer a farra premeditada.

E talvez seja mesmo uma metáfora, mas o que acontece é que ela foi mesmo inspirada por uma estrada real. O autor da música, o finado vocalista Bon Scott, era um consumidor voraz de álcool — tanto que ele morreu aos 33 anos por consequências de sua bebedeira. E seu local preferido para beber sem limites era o bar do Raffles Hotel, que ficava em uma rodovia chamada Canning Highway, próximo a um cruzamento perigoso, onde, previsivelmente, muitos acidentes aconteciam.

Pra chegar ao Raffles, Bon Scott dirigia pela Canning Highway e, de forma espirituosa, a apelidou de Highway to Hell. A música em si fala da vida na estrada, em uma banda de rock que está prestes a conquistar o mundo — algo que aconteceria justamente com o álbum “Highway to Hell”, que continha a canção de mesmo nome.

Bon Scott, tragicamente, morreu em uma rodovia, dentro de um carro, em consequência de seus excessos ébrios. Na noite de 18 de fevereiro de 1980, ele e seu amigo Alistair Kinnear foram beber em um bar chamado Music Machine e, já embriagado, Scott foi levado para casa no banco de trás do Renault 5 de Alistair. Ao chegar na casa, Scott estava dormindo no carro e Alistair não conseguiu acordá-lo. Sem poder entrar na casa de Scott, Alistair seguiu para seu próprio apartamento na Overhill Road e, depois de tentar retirar o amigo do carro, acabou desistindo e o deixou dormindo dentro do carro.

Na manhã seguinte, Scott estava sem sinais vitais no banco traseiro do carro e, apesar de ter sido levado imediatamente para o hospital, foi declarado morto ao dar entrada no pronto-socorro. O atestado de óbito declarou que Scott morreu “acidentalmente” durante a madrugada por “intoxicação alcóolica aguda”, mas especula-se também que as baixas temperaturas da madrugada provocaram uma crise de asma e colaboraram para a morte do cantor.

A Austrália é conhecida por ser um dos países com o maior consumo de álcool per capita, o que, claro, influencia a segurança no trânsito local. Nos anos 1970, o governo travou uma batalha contra os trechos de rodovias sem limites que havia no país. Na prática, na zona rural, os motoristas australianos poderiam dirigir o quão rápido seus carros fossem, com limites impostos apenas na aproximação das cidades.

Supercar scare: a guerra contra a velocidade na Austrália dos anos 1970

Mesmo após a imposição do limite rural de 110 km/h, a fiscalização era praticamente inexistente, então os motoristas ainda dirigiam loucamente pelo interior do país. Talvez tenha sido essa a inspiração para “no stop signs/speed limits”, cantada por Bon Scott na música.

Desde então, houve um único trecho rodoviário australiano sem limites de velocidade, a Stuart Highway. Desde sua criação, nos anos 1940, até 2007, a Stuart Highway não teve nenhum tipo de limite de velocidade. Contudo, em 2006, quando o partido trabalhista chegou ao poder no Território do Norte, o novo governo decidiu adotar um limite de 80 km/h, semelhante ao do resto do país.

Após a imposição dos limites o número de acidentes aumentou. Por isso, quando o partido de oposição chegou ao poder em 2011, o ministro dos transportes do Território do Norte, analisou os acidentes de 2001 a 2011 e percebeu que eles não eram relacionados à alta velocidade. Diante dos fatos, ele concluiu que abolir os limites era seguro e assim o fez. Em 2016, quando o partido trabalhista voltou ao poder, ele decidiu voltar a impor limites naquele trecho da Stuart Highway, algo que efetivamente aconteceu no final daquele ano, porém agora com limites de 130 km/h.

E sobre a Canning Highway, em 2020 ela foi fechada e transformada na “Highway to Hell” para uma grande homenagem popular ao AC/DC e, claro, ao homem que a tornou famosa, Bon Scott.


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