voce certamente ja ouviu falar sobre aquele garoto de oito anos que vive em algum canto escondido do cerebro de todo homem nao se nunca ouviu sabia que ele aparece quando voce ve um carro muito legal quando voce esta sozinho em uma estrada de serra quando voce perde horas vendo anuncios de carros com 25 anos ou mais esse tipo de coisa esse habito de ficar vendo carros anunciados alias tem relaçao com outro fascinio deste garoto de oito anos os barnfinds eles sao a versao adulta da caça ao tesouro aquela fantasia de desbravar o territorio em busca de algo valioso nao e a toa que pescaria magnetica e detecçao de metais sao hobbies muito populares entre adultos — quem resiste a possibilidade de se encontrar algo interessante ou valioso em um lugar que todos veem mas nao olham com atençao com os carros e a mesma coisa o nome e a seçao do flatout achados meio perdidos veio justamente disso — foi uma ideia dos dois leo do jalopnik brasil o leo nishihata veio com o nome e o leo contesini com o conceito de publicar carros raros ou versoes interessantes que estavam a venda no brasil; so depois que o foco mudou e mesmo hoje ha dezenas de perfis nas redes sociais dedicados a isso por que e algo que mexe com o nosso imaginario agora imagine voce encontrar algo muito melhor que um barnfind ou fazer caça ao tesouro com um detector de metais imagine voce chegar a um dos maiores e mais populosos paises do mundo e descobrir que ha nao um mas dezenas de tesouros semi descobertos prontos para serem coletados nao eu nao estou falando da esquadra de pedro alvares cabral estou falando de colin crabbe se voce nunca ouviu falar dele nao culpe seu professor de historia crabbe nao era um navegador europeu do seculo 16 ele e um nobre britanico e ex integrante dos scots guards que se envolveu com os carros antigos ainda muito jovem logo apos deixar o serviço militar aos 22 anos em 1964 naquele ano ele abriu sua oficina a antique automobiles e começou a comprar e restaurar carros antigos para revenda foi o ponto de partida para uma carreira que se tornaria talvez a mais bem sucedida o pelo menos a mais famosa no ramo de caça de carros por ser um dos pioneiros na restauraçao comercial de carros antigos crabbe logo se tornou um nome bem estabelecido e requisitado pelos poucos envolvidos nesse ramo na epoca lembre se estamos falando de meados dos anos 1960 os carros antigos nem eram tao antigos — um alfa romeo 8c tinha a mesma idade que um alfa romeo 164 tem em 2022 — e nao havia tanta gente interessada nisso mas os poucos que se interessavam precisavam recorrer aos poucos que os restauravam e aos poucos que os comercializavam no final dos anos 1960 colin foi chamado a italia para inspecionar um alfa romeo 2 9 touring le mans — sim um carro feito pela alfa para vencer le mans com a carroceria touring o carro estava todo restaurado e ainda tinha as chancelas de vistoria da corrida na coluna de direçao crabbe pagou 5 000 libras cerca de 68 000 libras em 2022 e levou o carro para o reino unido onde terminou os reparos que precisavam ser feitos e o revendeu ali sua carreira de caçador de carros começou de verdade o primeiro achado de grande valor de crabbe foi o mercedes benz w125 sim um dos lendarios silberpfeil dos anos 1930 com motor oito em linha de 5 3 litros que correu em 1937 crabbe estava no quenia em 1968 quando um amigo alemao ligou dizendo que soubera de um mercedes de corrida escondido proximo a fronteira da alemanha oriental com a polonia crabbe foi a alemanha e descobriu que o carro era o w125 que ele fora guardado durante a guerra para evitar ser destruido e havia sido encontrado por uma produtora de video que ao descobrir que o carro nao rodava colocou um motor 1500 da volkswagen no carro por sorte o motor original estava guardado em uma caixa e assim o carro pode ser recuperado apos a compra por 10 000 libras 135 000 em valores atualizados depois do w125 crabbe se especializou nesse tipo de descoberta e recuperaçao ainda na alemanha oriental ele achou um mercedes w154 tambem dos anos 1930 que lhe custou pouco mais de 3 400 libras 46 000 em 2022 e mais tarde um auto union type d tambem no lado de tras da cortina de ferro para crabbe estava claro que havia carros para salvar em todo o mundo os tesouros brasileiros nos anos 1970 colin crabbe ja era experiente nesse negocio sua fama fazia com que muitos carros chegassem a ele e nao o contrario alguem sabia de um possivel tesouro sobre rodas e o avisava crabbe achei um carro velho que tem uma cobra comendo um homem no logotipo coisa do tipo e nos anos 1970 crabbe recebeu algumas fotos de antigos carros de corrida em um ferro velho que provavelmente seria no brasil crabbe havia conhecido carlos avallone nos anos 1960 quando se envolveu com o automobilismo e chamou o amigo brasileiro para confirmar a localizaçao por meio dele conheceu seu principal parceiro comercial no brasil dino weiss — um alemao com apelido italiano que morava no brasil e revendia rolls royces trazidos da florida em seu livro crabbe descreveu o brasil como um mercado virgem onde seu sucesso como descobridor so aumentou ao longo dos anos sem nenhum outro concorrente se aventurando por aqui na verdade houve alguns nomes como david llewelyn que encontrou um dos varios alfa romeo 8c que rodaram no brasil nos anos 1930 e 1940 https //flatout com br/como um alfa romeo de r 100 milhoes quase acabou sucateado no brasil/ mas o sucesso de crabbe e realmente indiscutivel — a ponto de ele dedicar um capitulo inteiro ao brasil em seu livro foi aqui que ele encontrou o carro mais caro que ja comprou em suas viagens de descobrimento a ferrari testarossa 250 1958 com carroceria drogo dos anos 1960 que pertencia a camilo christofaro — que teve de ser convencido por crabbe com muito custo a se desfazer do raro bolido o brasil nunca foi o pais latino com mais variedade de preciosidades sobre rodas do pre guerra — os argentinos e uruguaios foram muito melhor servidos que a gente eles tinham idh mais elevado e uma cultura automobilistica que ate hoje nos causa inveja so que isso tambem significa que os carros de alto valor foram mais valorizados localmente — havia menos carros abandonados e sucateados na argentina e no uruguai crabbe menciona em seu livro que os brasileiros tinham um impressionante desinteresse pela historia do automobilismo e pouco se importavam com os carros de competiçao antigos em partes ele estava certo — um povo que deixa dois maserati 250f largados em um ferro velho mesmo nos anos 1970 e um povo que claramente nao se importa muito com eles mas ao mesmo tempo havia gente muito interessada pelos carros antigos como roberto lee og pozzoli flavio marx e o proprio camilo christofaro que estava guardando a ferrari testarossa drogo [caption id= attachment_324727 align= aligncenter width= 1500 ] o auto union encontrado na alemanha oriental[/caption] o que crabbe nao levou em conta por nao ser um antropologo nem um conhecedor da historia e da realidade socio economica e cultural do brasil — e que o brasil e um pais maior que a europa continental ele e maior ate mesmo que as terras continuas dos eua com diversos nucleos desenvolvidos no meio do nada nos anos 1970 e 1980 foi construida a maior parte da infraestrutura rodoviaria da qual dispomos hoje antes disso uma viagem de sao paulo a curitiba era feita a 60 km/h tudo era muito regionalizado incluindo o conhecimento e o acesso a informaçao entao nao era uma questao de simplesmente valorizar os carros mas de saber que aquilo era algo de valor e mais havia a barreira do idioma — ate hoje o brasileiro nao entende outro idioma alem do proprio portugues; apenas 5% da populaçao brasileira entende ingles e 1% e fluente no idioma imagine em 1970 crabbe tambem menciona a grande quantidade de carros europeus sem seus motores originais substituidos por outros americanos ou sem nada no lugar ele atribui isso erroneamente a uma suposta legislaçao local que exigia motores nacionais — o que nao faz sentido pois o primeiro motor brasileiro foi fundido somente no fim dos anos 1950 e sao notorios os carros de corrida com motores estrangeiros nos anos 1960 e 1970 o que acontecia era que os carros continuavam correndo e sem peças de reposiçao para estes motores europeus de 20 ou 30 anos os pilotos instalavam motores americanos mais faceis de se encontrar por aqui de toda forma colin crabbe e dino weiss encontraram e exportaram um volume jamais visto de carros classicos do brasil — especialmente carros italianos de corrida dos anos 1930 1940 e 1950 que hoje sao valiosissimos e aceleram nos eventos de classicos como o goodwood festival of speed e goodwood revival ou a monterey car week nos eua [caption id= attachment_324716 align= aligncenter width= 1238 ] um dos alfa romeo 8c 2300 encontrados no brasil so que ele nao estava assim [/caption] crabbe encontrou por aqui ao menos dois alfa romeo 8c 2300 — sendo um deles um carro que havia sido usado pela scuderia ferrari em seu tempo de equipe de fabrica da alfa romeo o carro e um 8c 2300 monza de 1932 chassi 2311216 e como conta o colecionador joao simonetti no blog o senhor automovel o carro esteve no brasil nos anos 1960 e 1970 pelo menos na coleçao de eduardo andre matarazzo em bebedouro/sp [caption id= attachment_324717 align= aligncenter width= 1052 ] estava assim — o motorista e o filho de dino weiss nos anos 1970[/caption] o carro foi exportado por dino weiss em meados dos anos 1980 para colin crabbe seu primeiro proprietario no exterior o carro ao que tudo indica nunca foi a leilao e parece ter sido vendido sempre em negociaçoes particulares foi o proprio crabbe quem descobriu que o carro era um dos chassis usados pela ferrari uma vez que ele estava descaracterizado enquanto esteve por aqui o outro alfa romeo 8c 2300 tambem era um monza que veio ao brasil logo em seus primeiros anos — o carro fabricado em 1932 chegou ao brasil antes de 1937 pois naquele ano correu no circuito da gavea com seu proprietario jose de almeida araujo com diversos proprietarios o carro correu na inauguraçao de interlagos em 1940 e continuou nas pistas ate os anos 1950 dino weiss o encontrou em algum momento dos anos 1960 e o exportou para crabbe depois de levar o carro ate o uruguai crabbe e weiss exportaram ao menos quatro exemplares valiosissimos da ferrari encontrados por aqui uma delas era um modelo de formula 1 — ja pensou encontrar uma ferrari de formula 1 em uma oficina qualquer do interior do brasil pois crabbe encontrou por aqui a ferrari 340 f1 usada por chico landi nos anos 1950 — o chassi 125 c 4 foi construido originalmente para a temporada de 1949 anterior ao campeonato de f1 portanto ainda como uma 125 f1 depois em 1950 ela reapareceu no grand prix des nations em genebra na suiça ja com o motor v12 lampredi de 4 1 litros e agora batizada como 340 f1 pilotada por alberto ascari o carro ainda foi usado por piero taruffi no grand prix penya rhin tambem naquele ano depois disso o carro foi usado como base de testes da propria ferrari no desenvolvimento dos novos carros remarcado e vendido pela fabrica em 1955 nao se sabe se chico landi a comprou logo naquele ano mas ele aparentemente correu com esta ferrari no brasil entre 1958 e 1959 nos anos 1970 crabbe encontrou a ferrari e a exportou para a inglaterra onde ela recebeu um motor de 4 5 litros o carro logo foi revendido e permanece em uma coleçao holandesa ate hoje outra ferrari largada por aqui era uma 166mm vignale de 1953 como seu nome sugere ela foi feita para disputar a mille miglia mm nas maos do piloto milanes luigi piotti um conhecido piloto independente que alem da millle miglia tambem correu a targa florio e em diversas subidas de montanha na italia quando piotti trocou a 166 por uma ferrari mais nova a 250 mm naquele mesmo ano o carro veio para o brasil e foi usada em corridas ao longo dos anos 1950 o historico posterior dela e desconhecido mas colin crabbe a encontrou nos anos 1970 e claro a levou para a inglaterra de la ela foi vendida a um colecionador italiano que o vendeu a um colecionador neozelandes que por sua vez a vendeu a familia fuchs nos anos 1990 o carro ate hoje e usado em eventos de classicos por ultimo mas nao menos importante a famosa ferrari 250 testarossa drogo comprada de camilo christofaro crabbe conheceu camilo por intermediaçao de dino weiss e em sua primeira visita a oficina do piloto brasileiro ele encontrou a 250 testarossa drogo ao lado de um maserati 300s 1957 ambos debaixo de uma montanha de pneus camilo se recusava a vender qualquer um dos dois e crabbe tentou convence lo dizendo que os carros seriam restaurados e voltariam a correr na europa mas o brasileiro manteve se firme crabbe passou 12 anos tentando comprar o carro de christofaro que finalmente o vendeu na metade dos anos 1980 — por um valor que segundo crabbe fez da ferrari o veiculo mais caro que ele ja comprou a forma que o carro foi levado conta como o brasil realmente nao sabia como lidar com esse tipo de coisa no livro crabbe conta que enquanto esperava na sala de embarque do aeroporto de guarulhos viu uma certa agitaçao da equipe da iberia a companhia aerea enquanto seu container de utilidades domesticas era embarcado no dc10 o motivo o disfarce nao funcionou e o proprio comandante o recebeu no aviao dando lhe boas vindas e fazendo piada com uma ferrari a bordo nossa viagem sera ate mais rapida herois ou viloes estes cinco carros mencionados detalhadamente foram apenas alguns da lista de preciosidades que colin crabbe e dino weiss encontraram no brasil e levaram para a europa alguns permaneceram por aqui ate meados dos anos 1990 outros foram embora logo no inicio dos anos 1970 alguns carros eram apenas chassis numerados sem carroceria ou motor outros estavam completos se realmente nao havia interesse nestes carros bem isso e algo que nunca saberemos — crabbe ainda encontrou dois maserati 250f dois maserati 8c e um maserati a6gcs alem de um rarissimo cisitalia 202 nuvolari mille miglia e um talbot lago t26 de f1 e possivel que sim que ninguem fizesse questao de manter aquilo no brasil [caption id= attachment_324712 align= aligncenter width= 1182 ] o alfa romeo da scuderia ferrari antes de ser comprado por crabbe[/caption] uma coisa e certa ninguem no brasil na epoca tinha recursos para restaurar os carros como eles acabariam restaurados por crabbe e e muito provavel que os brasileiros que venderam estes carros para crabbe e weiss soubessem disso na historia do descobrimento e comum enxergarmos os portugueses como os ambiciosos europeus que enganaram os indios oferecendo quinquilharias em troca de madeira e ouro e uma forma de se ver a historia mas ha uma outra forma de se encarar isso os indios entregaram aquelas arvores inuteis que sobravam por aqui em troca de animais e objetos que mudaram suas vidas os indios sequer tinham caes de guarda e caes pastores para ajuda los [caption id= attachment_324711 align= aligncenter width= 1017 ] um dos maserati 8c encontrados por aqui[/caption] no brasil dos anos 1970 e 1980 nao havia o que se fazer com estes carros nao havia sequer uma legislaçao que permitisse sua restauraçao — e ninguem sabia que a proibiçao das importaçoes de 1976 acabaria em 1990 vender um chassi maserati 8c por um punhado de dolares talvez fosse simplesmente a melhor forma de se livrar daquele problema — porque a outra seria vende lo por seu peso como sucata nao pense em colin crabbe como um explorador dos pobres latinos nem pense nele como um salvador dos classicos das maos de um povo ignorante tanto ele quanto os brasileiros so fizeram o que lhes parecia certo na epoca e por sorte o que parecia certo preservou esses carros ate hoje so isso sem anjos e sem demonios apenas grandes historias para inspirar garotos de oito anos agradecemos novamente ao leitor e colecionador joao simonetti do site o senhor automovel pelas informaçoes e compilaçao de imagens para a realizaçao desta materia
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