Como já ficou claro nas duas primeiras partes do Rest In Power (leia aqui: Evo I e Evo II), a trajetória do Lancer Evolution justificou seu nome e foi marcada por uma evolução consistente e gradual. Em seu terceiro ano de vida, o Lancer GSR voltou às pranchetas dos engenheiros da Mitsubishi e, em janeiro de 1995 foi lançado o Evolution III.
O Evolution III ainda era baseado na quarta geração, como seus antecessores I e II, e manteve o mesmo código de chassi CE9A. Apenas 5.000 unidades foram feitas para o mercado interno, mas da mesma forma que o Evolution II, algumas acabaram exportadas. Os upgrades do Evo III visavam reduzir a sustentação aerodinâmica em altas velocidades e melhorar o arrefecimento do motor, freios, transmissão e turbo – e por causa disso, as mudanças foram bem mais visíveis que na primeira evolução.
A Mit modificou significativamente a carroceria nesta revisão aerodinâmica. As mudanças mais claras são as tomadas de ar do para-choque dianteiro, que ganhou dutos de arrefecimento para os freios e para a caixa de transferência. O aerofólio traseiro ficou ainda mais alto e pronunciado, com um estilo que ficaria marcado na lembrança dos fãs e que também seria usado nos modelos posteriores. Virou uma das assinaturas do Evolution.
A terceira luz de freio passou a ser instalada na base da asa, que reduziu a sustentação aerodinâmica em 1%. O visual bem mais agressivo e 100% comprometido com a função fez com que o Lancer Evolution fosse definitivamente encarado como um carro vindo diretamente dos estágios de rali para as ruas.
Com a mudança nos diferenciais central e traseiro efetuada no modelo anterior, o Evo II, as novidades na mecânica foram discretas no Evo III. O motor recebeu novos pistões, mais cabeçudos, que aumentaram a taxa de compressão de 8,5:1 para 9:1 — o que resultou em um aumento de 10 cv na potência, chegando a 270 cv a 6.250 rpm. O torque permaneceu inalterado, mas os engenheiros da Mitsubishi deram atenção especial ao turbo e ao escape para melhorar as respostas do motor — o sistema também recebeu injetores de água no intercooler. Outra mudança invisível foi o câmbio: as relações de marchas eram as mesmas, mas o diferencial ganhou a curtíssima relação de 5,358:1.
No lado de dentro, as formas gerais continuaram as mesmas de 1992, mas o volante Momo Cobra II dos Evo I e II ficou reservado ao modelo RS — a versão espartana destinada a competidores e preparadores — e o GSR ganhou o novo modelo Speed 3, também da Momo.
Os bancos Recaro também se mantiveram inalterados na forma, porém o revestimento passou a ser o padrão de tecido chamado “Genesis”. A lista de equipamentos e acessórios continuou igual, assim como as medidas do carro, mas os upgrades mecânicos acrescentaram 10 kg na balança: o GSR ficou com 1.260 kg e o RS com 1.190 kg.
A nova carroceria podia ser pintada com uma nova tonalidade chamada Dandelion Yellow (uma homenagem à flor de Dente-de-leão Taraxacum Japonicum), que entrou no lugar do tom de azul que fora oferecido no Evo II. No Brasil existem apenas quatro carros neste tom – todos Evo VII.
As demais cores eram o Queen’s Silver, Scotia White, Pyrenees Black e Monaco Red.
Logo após o lançamento do Evo III, a revista Car Graphic testou o novo Mitsubishi e o comparou com o Subaru Impreza STI, seu grande rival. Mesmo sendo mais potente e mais barato, o STI não conseguiu superar os números de desempenho do Evo III, que ainda era capaz de cumprir a aceleração de zero a 100 km/h em 4,8 segundos. Como referência, a Ferrari F355 lançada no fim de 1994 fazia o mesmo em 4,7 segundos com seu V8 de 380 cv. Não é de hoje que o Lancer Evolution faz frente aos supercarros.
Detalhe sarcástico: o velocímetro do Evo, como de todos os esportivos japoneses do mercado interno desta época, só indicava até os 180 km/h.
A estreia do Evo III no Tour de Corse de 1995
Como seus dois antecessores, o Evo III logo foi parar nos estágios do WRC, estreando no famoso Tour de Corse, a quarta etapa do mundial de 1995. Para aquela temporada o Evo III recebeu restritores impostos por regulamento para limitar o fluxo de ar na turbina — mesmo assim a potência chegava aos 300 cv. Os diferenciais também foram novamente modificados, e ganharam controles eletrônicos no centro e na traseira. Outra novidade foi um sistema chamado PPC, uma espécie de ECU secundária (ou um piggyback de época) que reprogramava a injeção e a ignição com o fim de reduzir o lag do turbo e que ainda permitia rápida seleção de vários mapeamentos, permitindo maior customização de acordo com as condições de piso, altitude e traçado. Amortecedores Öhlins e rodas Enkei de 15 polegadas para a terra e cascalho e 18 polegadas nos estágios de asfalto completavam o pacote.
15 polegadas na terra, 18 polegadas no asfalto
Se o Evolution II foi o carro que devolveu o topo do pódio ao Lancer em algumas provas, o Evolution III continuou o caminho trilhado e foi ainda mais além com a ajuda e o talento de Tommi Mäkinen. O finlandês conquistou o título de pilotos do WRC em 1996, depois de faturar nada menos que cinco provas com o Evo III — os ralis da Suécia, Safari, da Argentina, 1000 Lagos e Austrália, além de um segundo lugar no Rali Acrópole. Mäkinen ainda voltaria a vencer outros três campeonatos com os sucessores do Evolution III.
Antes disso, contudo, a Mitsubishi ainda lançaria a nova geração do Lancer, uma história que você conhecerá detalhadamente nos próximos capítulos.
[ Agradecimentos: Eric Darwich – consultor Mitsubishi Motors Brasil ]
Ficha Técnica — Lancer Evolution III
Motor: quatro cilindros em linha, transversal, 1.997 cm³, turbo, 16V, cabeçote com duplo comando de válvulas, injeção eletrônica, gasolina
Potência: 270 cv a 6.250 rpm
Torque: 31,5 mkgf a 3.000 rpm
Transmissão: manual, cinco marchas, tração integral
Suspensão: Dianteira do McPherson e traseira do tipo multilink
Freios: Discos na frente e atrás
Pneus: 205/60 R15 nas quatro rodas
Dimensões: 4,31 m de comprimento, 1,69 m de largura, 1,42 m de altura e 2,51 m de entre-eixos
Peso: 1.260 kg (GSR) / 1.190 kg (RS)