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Carros Antigos

A misteriosa história por trás da Ferrari F40 do filho de Saddam Hussein

Em 22 de novembro de 2003, tropas americanas capturaram e executaram Uday Hussein, e seu irmão, Qusay Hussein. Os dois eram filhos do ditador Saddam Hussein, e a família toda era acusada de crimes contra a humanidade, incluindo execuções e genocídios praticados desde a década de 1980. E, como toda boa família de déspotas do Oriente Médio, os Hussein não eram conhecidos por sua modéstia. Ao contrário – Uday, por exemplo, era dono de uma bela coleção de carros, entre modelos de luxo e superesportivos.

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Quando os EUA invadiram o Iraque, porém, em março de 2003, Uday Hussein ordenou que suas tropas queimassem todos os seus carros – para não deixar rastros, possivelmente (e deve ter dado um trabalhão, pois rumores dizem que os Hussein chegaram a ter mais 1.000 carros em determinado momento). Um daqueles carros, porém, sobreviveu: uma Ferrari F40, possivelmente a mais icônica das criações de Maranello. Por muito tempo seu paradeiro foi um mistério, e duvidou-se até mesmo que o carro existia de fato. Pois a F40 ainda existe, ainda que não esteja nas melhores condições possíveis.

Quem trouxe o assunto à tona foi o youtuber britânico Scott Chivers, conhecido Ratarossa, que é entusiasta de superesportivos e membro ativo do fórum FerrariChat – este um tradicional ponto de encontro dos fãs e proprietários de Ferrari. O objetivo de Scott até pouco tempo atrás era encontrar a Ferrari F40 de Uday Hussein, levá-la para o Reino Unido e restaurá-la, filmando todo o processo para seu canal. Ele acabou encontrando o carro, mas a compra vai ter de esperar – isto se vier a ocorrer mesmo.

Há alguns anos circulavam fotos da F40 pela Internet – em estado deplorável, coberta de sujeira e com marcas do tempo, estacionada na rua. Foi através de algumas destas fotos, identificando suas locações com a ajuda dos comentaristas de seu canal e de conhecidos no meio dos carros, que Scott conseguiu rastrear a F40… e descobrir que seria inviável colocar suas ideias em prática.

Para começar, Scott não foi o primeiro a embarcar na missão de encontrar, comprar e restaurar a Ferrari F40 de Uday Hussein. Antes dele, Chris Smith, o Big Chris da Gas Monkey Garage, já havia feito algo parecido – em 2016 ele chegou a viajar para o Iraque para ver o carro de perto, e descobriu que ela estava mal cuidada e cheia de reparos a fazer – mesmo com apenas 3.700 km marcados no hodômetro.

Faltavam várias peças do motor, incluindo intercooler e tubulação dos turbocompressores; havia areia por toda a parte; e a pintura havia sido refeita fora dos padrões – em vez da fina camada de tinta que permite ver até mesmo a trama da fibra de carbono, a F40 recebeu primer e várias demãos de tinta vermelha. E mais: a Ferrari daria ainda mais trabalho para ser comprada, importada legalmente e documentada no Reino Unido do que por conta da restauração em si.

Scott também encontrou fotos e vídeos mais recentes da F40, que mostravam o carro limpo e rodando pelas ruas de Erbil, no Norte do Iraque – bem devagar e ainda com os pneus originais de fábrica, diga-se. Condições longe das ideais, mas que ainda não fizeram com que o youtuber desistisse da missão. Ele conseguiu encontrar o proprietário, um colecionador que mora em Erbil, para fazer uma oferta.

O que fez Scott desistir foi o preço pedido pelo carro: US$ 1,15 milhão, o que dá aproximadamente R$ 6,66 milhões na cotação atual (maio de 2020). Fora os custos de importação e documentação.

Neste meio tempo, os americanos do Motor1 também conseguiram o contato de alguém que já viu a Ferrari de Uday Hussein de perto: o colecionador Mazan Amin, que tentou comprar o carro em 2015. Ele passou por todo o processo de ver fotos da F40 na internet e rastrear o proprietário. Amin vive na Suécia e foi visitar familiares em Erbil, aproveitando a viagem para tentar levar o carro para casa.

Ele contou ao Motor1 que não sabe o endereço do proprietário – ele foi instruído a esperar em um café e, na hora marcada, três SUVs blindados chegaram para buscá-los e levá-los ao local onde o dono guardava a F40, ao lado de outros carros. Na época o preço pedido era bem mais razoável – “apenas” US$ 300 mil. O carro ainda não andava e estava ainda mais sujo, mas Amin não se importava. Acontece que, da mesma forma, foram complicações com o processo de importação que fizeram com que Amin desistisse da compra.

Ao que parece, uma das Ferrari F40 mais famosas do planeta não vai a lugar algum tão cedo.