Quando o assunto é Subaru e rali, o primeiro carro que vem à mente é o Impreza de primeira geração que, com as cores azul e amarelo dos cigarros 555 na carroceria e o lendário Colin McRae ao volante, ajudou a reescrever a história do WRC na década de 1990 – e efetivamente construiu o culto moderno aos Subaru com motor boxer.
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Você deve saber que, antes do Impreza, a Subaru corria no WRC com o Legacy de primeira geração, e o próprio McRae começou sua carreira na equipe nipo-britânica (a base da Subaru no WRC ficava no Reino Unido) ao volante do Legacy antes que a Subaru adotasse o Impreza para os ralis em 1993.
Tanto o Subaru Legacy quanto o Impreza de primeira geração foram homologados pelas regras do Grupo A, utilizadas pelo WRC entre 1997 e 2001 – a mesma da qual fizeram parte outros carros absolutamente emblemáticos como o Lancia Delta HF Integrale, o Lancer Evolution e o Ford Escort RS Cosworth. Depois, o Impreza passou a representar a Subaru no Mundial de Rali na categoria World Rally Car.
O que você talvez não saiba lembre é que a Subaru estava no Mundial de Rali durante sua era mais idolatrada: a era do Grupo B. Claro, se a Subaru tivesse feito um protótipo de motor central-traseiro para brigar com o Peugeot 205 T16, o Ford RS200 e o Lancia Delta S4, certamente ele seria outra lenda do WRC. Mas não foi nada disso: nos anos 80, a Subaru competiu no Grupo B de rali com uma picape – a Subaru BRAT.
No período entre 1982 a 1986 o Grupo B era a atração principal do WRC. Sem a mesma insanidade, o Grupo A ficava em segundo plano – mas era onde a Subaru investia seus esforços com o Leone RX, antecessor do Legacy. Mesmo assim a fabricante acabou entrando no Grupo B com um veículo inesperado: uma picape de cabine simples e construção monobloco.
A picape lançada em 1978 era um curioso caso de carro fabricado no Japão apenas para exportação. A Subaru BRAT – de Bi-drive Recreational All-terain Transport – foi encomendada pela divisão americana da Subaru para brigar com outras picapes compactas japonesas que estavam chegando aos EUA, como a Mazda B-Series (vendida pela Ford como Courier) e a Nissan Datsun Truck. O diferencial da Subaru BRAT era o sistema de tração integral, igual ao do Leone. Não apenas fazia da BRAT um veículo mais apropriado para carga e terrenos difíceis, como também tornava-a perfeita para o Grupo B.
Diferentemente do que se pode pensar, o Grupo B não permitia apenas protótipos – eles simplesmente eram feitos assim por conta do regulamento, que exigia apenas 200 exemplares fabricados e permitia carros de dois lugares com motor em qualquer posição. Já o Grupo A era mais restrito, exigindo que os carros tivessem ao menos quatro lugares e respeitassem limites mínimos de espaço interno dos quais o Grupo B estava livre. Considerando tudo isto, a Subaru BRAT não estava de acordo com as regras do Grupo A, mas encaixava-se perfeitamente no Grupo B. E ainda tinha bem mais que 200 exemplares fabricados – entre 1978 e 1987 foram vendidas quase 93.000 unidades nos Estados Unidos, e ainda havia os carros que foram comercializados na África do Sul, na Austrália e na Nova Zelândia.
Agora, é claro que ela não disputava diretamente com os monstruosos protótipos. O Grupo B tinha suas próprias subdivisões, que separavam os carros de acordo com o deslocamento do motor: B/9, para carros com motor de até 1.299 cm³; B/10, de 1.300 a 1.599 cm³; B/11, de 1.600 a 1.999 cm³; e B/12, de 2.000 cm³ para cima. Carros sobrealimentados tinham o deslocamento multiplicado por 1,4.
No caso da Subaru BRAT, estamos falando de um motor boxer quatro-cilindros naturalmente aspirado de 1.781 cm³, o que colocava a picape na categoria B/11. Ele disputava com outros membros underground do Grupo C, como o FSO Polonez, o Lada VFTS, o Daihatsu Charade, o Skoda 130LR e o Citroën Visa.
O motor EA-81, carburado, entregava 95 cv na versão de rua. Sabe-se muito pouco a respeito de sua versão de competição, mas o site Rally Group B Shrine estima que não passasse muito dos 100 cv com a adoção de carburação dupla. O motor era ligado a uma caixa manual de quatro marchas que levava a força para as quatro rodas através de um sistema de tração integral com dois diferenciais (ainda não havia sido adotado o diferencial central). A segunda marcha do câmbio era alongada para permitir um fôlego a mais em médias rotações e ganhar tempo nas curvas.
Ainda assim, a caminhonete não era exatamente potente – seus rivais chegavam a beliscar os 170 cv, como era o caso da picape Peugeot 504, que foi homologada em condições semelhantes.
A categoria B/11 não contava com muitas equipe de fábrica – Lada e Skoda eram raros exemplos. No caso da Subaru BRAT, quem se inscreveu foi o piloto independente Ron Shapley, com o apoio de uma concessionária neozelandesa da Subaru. Ele participou duas vezes do Rali da Nova Zelândia, em 1985 e 1986. Na primeira vez ele foi o 23º colocado e na segunda, terminou em 35º. Desempenho apenas mediano na classificação geral, mas respeitável considerando todo o contexto do Grupo B e seus monstros de mais de 600 cv. Ela aparece no vídeo abaixo por volta dos 45:00.
Foi uma carreira curta, porém – em 1986 a insanidade do Grupo B causou seu fim com a sequência de acidentes que culminou na morte de Henri Toivonen e seu navegador Sergio Cresto com o Lancia Delta S4.