Fala galera que acompanha o FlatOut, tranquilão? Meu nome é Marcos Andrade, sou de Curitiba (PR) e, embora nunca tenha tido uma ligação muito forte com carros, desde criança já dava sinais de gostar destas máquinas fascinantes que são os motores! Mas para esta pessoa que vos escreve, tudo começou de verdade em meados de junho de 2011, quando eu tinha dois carros que me proporcionavam muitas alegrias: um Gol G4 Trend 1.0 que ganhei do meu avô e um Gol 1989 1.6 bielão turbo e rebaixado (legalizado), comprado com o meu dinheiro e muito sacrifício.
Em 8 de outubro de 2011, contudo, tudo iria mudar: após vários exames negativos, descobri que minha mulher estava grávida de cinco meses de um menino! O meu filho nasceu em 29 de fevereiro de 2012 – e tudo seria relativamente tranquilo não fosse o que aconteceu dois meses depois: fui demitido, passando então um ano e dois meses desempregado.
Como já havia me desfeito dos meus dois carros para custear berço, fraldas, exames pré-natal e várias outras coisas, as contas acumularam. Definitivamente ver meu filho precisar de fraldas, leite e pomadas para assaduras e não ter R$ 1,00 no bolso foi com certeza uma das experiências mais dolorosas de minha vida. Não tenho vergonha de falar que quase todas as noites eu chorava por não poder dar a ele o que faltava. Embora ele nunca tenha passado vontade graças à minha mãe (a qual serei eternamente grato, por tudo), era extremamente doloroso eu, na posição de “homem da casa”, não conseguir sustentá-la. Contas, dívidas e brigas se acumularam e fui diagnosticado com depressão em agosto daquele ano, após um momento absolutamente crítico.
Curitiba, 27 de fevereiro de 2013, pouco antes do aniversário do meu filho, pensando na vida pela noite com o Peugeot 207 XR-S da minha mãe, com meu filho dormindo no carro, passa por nós um Golf Mk IV. Eu, como um bom VW lover, passei a escutar o ronco tomando forma enquanto os giros subiam, mas espera um pouco… É um… SIM! UM VR6! Deus do céu, que ronco lindo… 1 dos 99 enviados devorando curvas em minha cidade, profetizando rotações a cada esquina! Passei a acompanhá-lo até chegarmos em um túnel.
Humildemente falando, não existe música até hoje que me arrepie mais do que o som de um VR6 destroçando um túnel conforme ganha rotações! Me lembro até hoje, de estar arrepiado e escutar uma risada ao fundo, pois é… até meu filho havia acordado para acompanhar aquela lenda, e juntos acompanhamos aquele “um dos noventa e nove”.
A música do VR6
Ao chegar em casa, passei a pesquisar sobre o carro, devorei vídeos do Wörthersee, do BGT e do Wolfsgruppe Vag Event e me apaixonei em especial pelos modelos Mk II e Mk III! Pensei “Bom… Mk II, por enquanto, fora de cogitação – mas criar um Mk III, esse sim! Tá aí um carro desafiador, exigente, você precisa ter referências e estilo, saber o que está fazendo para não ficar feio”. Sim, foi isto que me encantou nos Mk III: a pouca variedade de peças que temos no Brasil para que o mesmo fique único. Decidi fazê-lo, e essa atividade me daria a motivação para sair do poço.
Comecei a pesquisar por modelos GTI – afinal, queria ter o gosto da autoria de ter colocado o “demônio” habitando o cofre do motor. Foi quando vi anunciado um Golf GTI 94/95 branco! O preço era razoável. Não pensei duas vezes: corri para ver o carro. O dia estava nublado em Curitiba e o carro, coitado! Cheio de poeira, encostado de modo que sua frente ficava para o fundo da casa, no alto de um morro, apenas “ouvindo” os outros carros circularem pela rodovia BR logo ali atrás. Eu podia sentir o carro triste, o que me lembrou de minha própria história recente.
Vidros escuros, rodas todas arranhadas, pneus destruídos… “que lixo de carro é esse?”, cheguei a pensar por um instante. Mas ao abrir a sua porta, fui surpreendido por um despertar, como se o Golf me pedisse para levá-lo embora. Tecnicamente, o interior estava original, mas não impecável. A parada foi uma sensação de estar novamente com algo que me faz bem!
Ironicamente (e não muito diferente de seu futuro dono durante as manhãs), na hora do despertar do motor, não teve conversa – a princípio. Depois de uma carga de bateria, bang! O comando 277 e o cabeçote de fluxo cruzado davam vigor às suas embaralhadas com motor frio. As rotações descompassadas indicavam não só um problema no atuador da marcha lenta, mas a vontade de ganhar novamente o asfalto. E que carro e que dia! Depois de experimentá-lo em uma rua vazia (e de ter ficado encantado com a personalidade do Volks), pedi para o dono para andar na BR para testar todas as marchas – pura mentira! Queria mesmo era dar ao carro o gosto de sentir novamente como era andar na estrada que ele tanto olhava.
Não é apenas você que escolhe um carro, ele também escolhe você! E isto ficou claro quando entrei na BR! Da 1ª à 5ª marcha.
Mas nem tudo são flores: meu financiamento não havia sido aprovado – o sorriso foi embora.
Dois dias depois, na volta do meu trabalho, dou de cara com o Golf na minha garagem. Como assim? Ao perguntar para minha mãe, ela me explicou:
– Vi o anúncio no seu computador quando você saiu, e ao voltar percebi um sorriso no seu rosto que não via há mais de um ano. Então comprei o carro para você, pois não aguentava mais te ver mal humorado e chato!
Esta foi a história de como tudo começou entre eu e meu GTI. Este projeto será uma experiência de recuperação não apenas pra mim, mas também para o carro. Sim, eu arrumei uma dor de cabeça – e é assim que nossos projetos têm de ser, senão não tem graça. Minha mãe carinhosamente apelidou o carro de “B.O.”, e este virou o nome do projeto. No próximo post irei detalhá-lo e mostrar tudo o que já foi feito até então.
Agradeço ao FlatOut pela oportunidade, à minha mãe por ter me trazido a felicidade novamente, ao meu filho por partilhar da mesma paixão e me fazer entender que ainda irei partilhar de grandes momentos ao seu lado e aos leitores, por acompanharem esta jornada.
Obrigado a todos! E até a próxima!
Por Marcos Andrade Junior, Project Cars #89