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Project Cars Project Cars #20

A saga da restauração de um Opala – a história do Project Cars de Charles Santos

Diferentemente de muitos por ai, eu não venho de uma família onde exista um fascínio por carros e, quando criança, o mais perto que cheguei de um Opala foi o seis canecos que um tio meio louco tinha. E olha, apenas isso foi o suficiente pra deixar a força e o ronco daquele motor guardados na minha mente. Meu nome é Charles Santos e sempre fui apaixonado por carros: no começo, pelos modelos de rali, e mais tarde, pelos muscle cars – em boa parte pela influência de Velozes e Furiosos, que saiu nos cinemas quando tinha uns dez anos de idade.

Passados alguns anos, comecei a pesquisar sobre carros antigos no Brasil, isso lá por volta de 2008 e 2009. Meu fascínio pela “trindade” Opala, Maverick e Charger logo se revelou – e, entre todos, era o Opala que sempre me chamava mais a atenção, talvez pelas memórias da silhueta do Opala do meu tio ou pelo berro do seis cilindros que me soava familiar. Daí pra frente o gosto por Opalas e a vontade de ter um só cresceu.

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Eu sei que o Opala não se encaixa exatamente na categoria “muscle”: sua origem europeia (ele é derivado do Opel Rekord C – foto acima), a falta de uma versão V8 no mercado brasileiro, as dimensões reduzidas… mas o que isso importa? Eu o considero muscle, e o que cada um sente é o que importa, no fim das contas. Sou louco pelas suas linhas laterais e a forma como elas recebem o caimento fastback do teto, a falta da coluna B, o desenho da traseira, os vincos, as lanternas… sou realmente apaixonado por este modelo!

Devo dizer que quando comprei este carro eu não sabia exatamente nada sobre mecânica automotiva – e o pouco que sei hoje aprendi apanhando durante o processo de restauração. Eu tinha 19 anos, tinha acabado de conseguir meu primeiro trabalho e insanamente já parti para comprar um Opala, mesmo sem ter carteira de motorista naquela época.

E assim, sem mais nem menos, começou a caçada. Eu queria um modelo cupê de entre 1974 e 1979. Aqui no Ceará é muito difícil de se encontrar Opalas destes mais antigos – o que mais se vê são os de 1985 até 1992, quase todos sedãs. Procurei no Mercado Livre, OLX, Bom Negócio e terminei por achar um anúncio sem foto no já esquecido Orkut. Entrei em contato com o proprietário, marquei um encontro e lá fui eu e mais um amigo entendido de carros (Adriano) para ver qual que era a desse Opala…

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Na minha visão inexperiente, o carro estava perfeito (logo eu descobriria o quão imperfeito ele estava). Fomos para o teste, quero dizer, meu amigo foi para o teste, pois nem carteira de motorista eu tinha, mesmo tendo começado a dirigir aos 12 anos. Olhamos, andamos, perguntamos o preço (que estava bem salgado), fizemos uma oferta, o sujeito negou e voltamos para casa de mãos abanando. Voltei para as pesquisas diárias nos classificados.

Alguns dias depois o dono me liga, oferecendo o carro por quase a metade do que havia pedido no dia do test-drive. Não fechei negócio na hora, liguei para o Adriano e negociamos mais um pouco até fecharmos um valor que achei digno. Mais uma vez, é preciso lembrar que eu não tinha a menor ideia do que eu estava fazendo.

Todo mundo no cartório, assina aqui, transfere ali e pronto: eu era o dono de um Opala cupê 1979 amarelo, com motor quatro cilindros.

O ex-dono morava em um bairro mais afastado, e já era por volta das cinco da tarde – nesse horário, aqui no Ceará, já fica escuro. O Adriano acionou o botão pra acender os faróis e nada: não demorou muito para a realidade da situação deplorável do carro bater na minha porta. Logo vimos que o Chevrolet não tinha freios, os faróis não acendiam, cintos de segurança era opcionais, o radiador estava furado e a única notícia boa vinha do medidor de temperatura no painel. Quero dizer, a boa notícia trouxe uma má notícia: por estar funcionando, logo descobrimos que o motor estava para ferver! Se você olhar a imagem de destaque do post, vai perceber a água do radiador vazando no chão – tirei aquela foto no dia em que fui vê-lo, mas só percebi isso anos depois, quando reencontrei esta foto no celular.

Bem, lá estávamos eu e o Adriano, no meio de um engarrafamento sacal, tentando chegar em casa antes do motor ferver, quando olhamos para o lado direito e vimos uma rua meio escura, bem asfaltada e sem nenhum carro. Era um convite. O desgraçado não pensou duas vezes, engatou a primeira e entramos de lado naquela rua deserta – todos os problemas foram esquecidos, pelo menos naquela hora…

Na metade do caminho o carro vazou tudo o que tinha no radiador. Paramos em um posto, enchemos o sistema de arrefecimento, voltamos pro Opala e seguimos para casa. Ao menos o quatro cilindros estava saudável e segurou a onda. A única vez que o dirigi antes de começar a restauração foi para colocá-lo na garagem. Nunca esquecerei a sensação de sentar no banco do motorista, ligar o carro, olhar pra frente e ver aquele capô imenso, olhar para o lado e sentir a liberdade de um automóvel sem coluna entre vidros.

Chegamos em casa e meus pais adoraram o carro. Meu pai chegou a dar algumas voltas com ele, a família se perguntava como eu ia dirigir um automóvel sem ter habilitação, mas não importava. O que importava é que eu tinha a chave daquele Opala cupê surrado, e que estacionado aqui, na frente de casa, eu já conseguia imaginar como seria inaugurá-lo em uma viagem para qualquer lugar. Um sonho real.

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Olhando assim, de relance, até que está bonito. Mas tem muita coisa para ser feita…

Quando pensei em restaurá-lo, confesso que em um primeiro instante não sabia bem o que queria fazer. Claro, sabia que queria colocar um seis cilindros no cofre e deixá-lo novo e confiável para viagens – mas não sabia com que cara deixá-lo, ou mesmo a sequência dos procedimentos. Acho que esse foi um erro pelo qual paguei caro: é essencial ter objetivos definidos quando se começa uma restauração e hoje sei disso com exatidão. Depois de ver e rever muitas fotografias, simpatizei com o visual do SS de 1975 (como o SS4 da fotografia abaixo) e decidi por essa caracterização. No próximo capítulo, contarei mais sobre isso e sobre as desventuras que rolaram no caminho!

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Por Charles Santos, Project Cars #20

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