Faz quase um ano que a Rolls-Royce apresentou o Cullinan, apropriadamente definido pela companhia como “o Rolls-Royce dos SUVs” – o mais caro, luxuoso e exclusivo utilitário esportivo do planeta. Nós o vimos de perto no Salão do Automóvel, em novembro de 2018, e pudemos constatar.
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Seu preço? Lá fora, pelo menos US$ 325.000 – quase R$ 1,3 milhão, em conversão direta. Seu preço “cheio” no Brasil, já com impostos de importação, chega a quase R$ 3,2 milhões. Por esta grana, você coloca em sua garagem um SUV com a identidade visual clássica da Rolls-Royce; couro, madeira e metal no interior; e todos os itens de conforto e requinte que se pode desejar em um carro.
Mas o Rolls-Royce Cullinan não é mais o SUV mais caro do planeta. Esta posição agora pertence a seu mais novo, digamos, rival: o Karlmann King, que foi apresentado oficialmente há alguns meses e, agora, está exposto no Salão de Nova York. Ele custa nada menos que US$ 2,2 milhões, o que dá quase R$ 8,7 milhões (!!) em conversão direta. E ele é… diferente.
Por fora, ele é “diferente” da mesma forma que o Fiat Multipla e o Pontiac Aztek são “diferentes”. Por dentro, ele é “diferente” como os Cadillac Escalade e Hummer H2 tunados na primeira metade dos anos 2000 eram “diferentes”. Acho que fui claro.
Para falar a verdade, quando li a respeito do Karlmann King pela primeira vez, tomei um susto. Por um instante enxerguei Karmann Kling e pensei: “Como assim? A Karmann não pode ter feito isto”. A alemã Karmann, para quem (por alguma razão) não lembra, é a carrozzeria responsável por diversos carros que hoje são ícones, como o VW Karmann Ghia, o Porsche 911 dos anos 60 e o Ford Escort RS Cosworth.
Já a Karlmann é apenas a marca do SUV, que é fabricado por uma companhia chinesa chamada IAT Automobile, sob encomenda de outra empresa, a Unique Club. A origem desta não é muito clara, o que já era esperado, para dizer a verdade. Dizem que também fica na China, enquanto outros afirmam que é de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Uma coisa é certa: eles não falam inglês – as informações no site parecem ter sido traduzidas pelo Google, citando, por exemplo “inspiração no falcão”.
Pelo vídeo de divulgação, que mostra o Karlmann King acelerando no deserto, fica claro que o falcão a que eles se referem é o pássaro. No entanto, pelo padrão estético do acabamento (especialmente do lado de dentro, que vamos abordar daqui a pouco), pensamos em outro Falcão…
O Karlmann King é feito sobre o chassi da Ford F-550 Super Duty, a maior versão disponível da F-Series nos EUA. A F-550 fica no meio termo entre uma picape grande e um caminhão, e geralmente é vendida apenas com a cabine, para que se instalem diferentes tipos de caçamba, um baú ou um guincho, por exemplo.
Ou seja: por baixo desta carroceria de fibra de carbono com formas que parecem um modelo poligonal do início da era 32 bits (pense nos gráficos dos primeiros jogos do PlayStation), está um veículo de trabalho. Quem precisa de um Rolls-Royce Cullinan, de um Bentley Bentayga ou de um Lamborghini Urus? Ele são baratos demais perto do Karlmann King – e isto pode ser um elogio ou uma crítica, dependendo da sua opinião sobre ele.
O motor é o mesmo V10 de 6,8 litros a diesel usado pela primeira geração da F-550 Super Duty, capaz de entregar 400 cv e 63,2 kgfm de torque. O motor presumivelmente é acoplado à mesma caixa automática da F-550, mas a Karlmann não deixa isto claro. Talvez porque os clientes em potencial estarão entretidos demais com todas as outras coisas incríveis que o King oferece. Como a velocidade máxima de… 140 km/h.
Você achou que ele fosse rápido? Não: o Karlmann King, afinal, pesa pelo menos 4.500 kg – se você optar pelo blindado, são 6.000 kg (imagine se ele não fosse de fibra de carbono). Ele também tem 5,99 m de comprimento, 2,48 m de largura, 2,48 m de altura e 3,96 m de entre-eixos.
Ao menos o interior é tão espaçoso quanto as dimensões externas sugerem. Embora só tenha espaço para quatro pessoas, o SUV é um verdadeiro lounge onde couro, metal e vidro são as responsáveis pela ambientação.
No primeiro exemplar que ficou pronto, o acabamento é todo em preto com detalhes em dourado. E aqui não cabe sarcasmo: a escolha compromete a percepção do interior, evidenciando falhas de acabamento e deixando tudo com um aspecto barato. Mesmo que não haja nada barato ali – vide o couro de jacaré nos bancos (que têm massageadores embutidos), as taças de cristal, o PlayStation 4, a tela de 40 polegadas, o frigobar, o forro de teto com LEDs que imita um céu estrelado…
Por outro lado, não esperávamos que, em um SUV de mais de R$ 8 milhões, o painel de caminhonete da F-550 ficasse praticamente intocado.
Serão feitos outros 11 exemplares do Karlmann King – e temos certeza de que eles vão vender todos. Afinal, o dinheiro não escolhe seus donos.