Foto: Fernanda Fernandes/CerolNao
Um dos brinquedos mais antigos que se conhece são as pipas. Elas foram criadas no século 5 A.C. e desde então divertem crianças em seu tempo livre. Não é para menos: ela é fácil e barata de se fazer, e você não precisa de nada além de papel, meia dúzia de varetas, linha e vento.
Sim, é bem simples, e exatamente aí que está a sua graça: você está fazendo um negócio que voa e ainda tem o controle dele lá no alto. A simplicidade também a torna uma brincadeira saudável, afinal, você precisa correr, se mexer, ficar ao ar livre e às vezes cortar os dedos tentando arrebentar a linha — basicamente tudo que crianças superprotegidas não podem mais fazer.
Mas afinal, por que o FlatOut está falando de pipas? É por que elas podem representar um grande perigo aos motociclistas, especialmente neste período de férias. Quem tem um mínimo de experiência com elas (ou com motos) já sabe do que estamos falando: o maldito cerol.
Cerol é uma mistura de cola e vidro moído de lâmpadas (que é mais fino) que algumas pessoas passam na linha da pipa para duelos no ar. Cada um tem sua linha com cerol e manobra a pipa para golpear a linha do outro e assim cortá-la. Seria uma experiência bem interessante de aerodinâmica se não fosse algo obviamente perigoso. Em primeiro lugar para as crianças que brincam com isso. Depois, porque a linha é fina e quase invisível e pode enroscar em pássaros, pedestres, ciclistas, skatistas, patinadores e, claro, motociclistas.
No caso dos pedestres, o perigo é menor, afinal, a velocidade da nossa caminhada varia entre 6 e 8 km/h. O problema é quando a linha cortante encontra um motociclista em velocidades normais de trânsito — entre 40 e 110 km/h. Para quem não conhece os perigos do cerol, isso pode parecer um tanto absurdo: uma linha fina puxada apenas pelo vento ferir um motociclista equipado com jaqueta, capacete e luvas. Mas a realidade é que o cerol tem potencial para degolar o ocupante de uma moto.
Como? Com uma ajuda da força da natureza. Quando está no ar, a pipa é submetida à resistência aerodinâmica ao ser puxada contra o vento. Com isso a linha é tensionada e se torna menos flexível. Na prática, ela vira uma lâmina afiada flutuante, pronta para cortar o que for de encontro a ela. E tal como uma lâmina, quanto mais forte o golpe, maior e mais profundo o corte.
Desde a popularização do cerol, há mais de 40 anos, houve muitas mortes causadas pela linha dessas pipas. Logicamente não vamos mostrar este tipo de conteúdo, mas temos aqui um vídeo que mostra o momento em que o motociclista atinge a linha (note como o cara não percebe a linha até tocá-la) e os danos que o cerol pode causar ao seu equipamento (atenção: o vídeo contém linguagem imprópria):
Esse tipo de situação acontece com maior frequência em regiões mais habitadas próximas a rodovias e em fins de semana, feriados e durante períodos de férias (como estamos passando agora). Nesse caso o motociclista, felizmente, escapou ileso — embora seu bolso tenha sofrido danos leves com o corte da luva. Mas dependendo da espessura da linha e da velocidade do vento e da moto, os danos podem ser bem mais extensos. Em uma rápida pesquisa na internet, encontrei casos de viseiras, capacetes e até um guidão de alumínio cortado pela linha.
Na verdade, esse acidente é tão comum que em 2010 o Contran que obriga a instalação de uma haste/gancho que apara a linha nas motos de motofretistas e outros motociclistas que exercem atividade remunerada.
A “antena anti-cerol”, como é mais conhecida, é o dispositivo mais popular para proteger os motociclistas do cerol, mas hoje em dia também é possível encontrar pescoceiras (uma espécie de colete com gola alta e proteção para o peito, porém sem mangas) feitas com fios de aço, que seguram a linha de cerol.
Agora… se você não tem esse tipo de equipamento de segurança (o cerol não é muito comum em algumas regiões do Brasil) você pode improvisar uma proteção em trechos próximos a áreas mais povoadas mantendo-se atrás de caminhões ou picapes mais altas, que arrebentam ou deslocam a linha, tirando-a do seu caminho.