Aos dezoito anos, quais eram suas aspirações automotivas? Comprar um carro e tirar a carteira assim que possível, imaginamos — sem contar com as escapulidas que, pode confessar, você já deu para dirigir antes de ter sequer idade legal para isso.
De qualquer forma, duvidamos que aos dezoito anos você tivesse um Chevrolet Camaro 1968 com motor V8 LS biturbo e competisse no maior evento de arrancada do planeta — como se não bastasse, virando tempos na casa dos dez segundos. Pois a jovem americana Alexa Taylor faz exatamente isso, e acaba de se tornar nossa nova heroína.
O pai de Alexa, Dennis Taylor, sempre construiu carros de competição, especialmente de arrancada, e Alexa cresceu no meio deles e acabou se tornando uma gearhead, como aconteceria com todos nós. Pouco antes de completar dezesseis anos — idade mínima para dirigir nos EUA —, Alexa ganhou de sua mãe (!) um Chevrolet Camaro 1968, e aí o estrago estava feito. No melhor sentido possível, claro.
, Alexa conta um pouco da sua história: ela começou a ajudar seu pai a fuçar em carros “desde que se lembra” — ainda que, quando era mais nova, olhava muito mais do que ajudava, mas acabou aprendendo muita coisa só observando. Em 2008, quando Alexa tinha nove anos, seus pais decidiram voltar a competir em arrancadas depois de um hiato de alguns anos usando um Camaro 1967 preto — e foi naquela época que ela decidiu que era daquilo que gostava.
Seu maior sonho, logo de cara, era correr na Drag Week. Para quem não sabe, trata-se de uma competição itinerante de arrancada que percorre os EUA ao longo de uma semana, e os competidores devem pegar a estrada disputando puxadas de cidade em cidade. A revista americana Hot Rod já organiza a Drag Week há dez anos e é um dos maiores eventos de arrancada independentes do planeta — se não for o maior.
De qualquer forma, em meados de 2013 Alexa ganhou de sua mãe o carro na cor laranja (uma variação do Hugger Orange, criado por ela mesma) das fotos. O plano? Seus pais decidiram que ela já tinha idade o bastante para competir na Drag Week, mas com uma condição: ela teria que ajudar o máximo que pudesse na execução projeto. O carro era, em essência, só uma carroceria com interior — e mais nada.
Com as rédeas do projeto nas mãos, ela decidiu que transformaria seu Camaro em um daily driver capaz de detonar nas pistas de arrancada. Assim, além do V8 LS1 de seis litros que, alimentado por um sistema de injeção Holley Dominator e dois turbocompressores BorgWarner S300SX3 (66-73, 0,88 a/r), entrega pelo menos 1.200 cv, da gaiola de proteção completa e dos cintos de competição, o Camaro de Alexa — quer dizer, Badmaro, como ela mesma batizou o carro, tem bancos forrados com curvim originais, apliques de madeira no painel, vidros elétricos, rádio e ar-condicionado. Interior completo, carroceria toda de lata e nove segundos no quarto-de-milha. Impressionante, não?
A lista de patrocinadores na página de Alex no site da DT Hot Rods (que parece ter sido feito em 1998, mas nós perdoamos) dá uma ideia do nível dos componentes: injeção Holley, abafadores Flowmaster, coletor de admissão Edelbrock Victor Jr., alavanca e trambulador Hurst Quarter Stick e, como já dissemos, os turbos BorgWarner. Também não faltam fotos do processo — e, por elas conseguimos identificar boa parte do que descrevemos neste post, pois não há ficha técnica deste monstrinho.
Obviamente, Alex não fez tudo totalmente sozinha, mas ajudou em muita. Dá para ver que a estrutura do Camaro estava muito boa desde o início, mas pai e filha aplicaram alguns reforços estruturais no assoalho (mas fotos, é possível ver uma travessa de câmbio mais parruda e os subframe connectors, por exemplo) e instalaram uma gaiola de proteção completa na traseira. Dennis, o pai, ficou responsável por preparar e acertar o motor — de forma artesanal, com direito a trabalho nos cabeçotes feitos “na unha”, com a ajuda da filha.
Uma coisa legal é que, apesar dos dois turbos no motor, o que poderia levar alguém a pensar que se trata de um projeto sofisticado ou exótico nas soluções, o espírito do Badmaro é bem old school: a suspensão dianteira é original (só recebeu buchas de PU e amortecedores recalibrados) a suspensão traseira usa molas semielípticas do tipo monoleaf e barras de tração (para evitar vibração das rodas durante a aceleração, o famoso “wheel hop”) e o diferencial traseiro é o famoso Ford 9”, que é extremamente robusto e muito usado em arrancadas há décadas. Na foto abaixo, também dá pra ver os canos de descarga de 3″ da Dynatech.
Os pneus dianteiros são BF Goodrich Radial T/A, enquanto os traseiros são os tradicionais Mickey Thompson ET Street Radial de 275 mm de largura. Os freios são a disco nas quatro rodas — sem servoassistência, com cilindro mestre da Wilwood.
A carroceria — que, vale observar, não recebeu componentes de fibra vidro — foi lixada, jateada, além de ter as caixas de roda traseiras alargadas e recebeu uma tinta laranja especial, feita sob encomenda com base no Hugger Orange da GM, porém mais vibrante. Alex gosta de chamar a cor de “Retina Ripper Orange”, ou “Laranja Rasga-Retina”, em uma tradução livre.
Por incrível que pareça, o carro começou a ser montado em junho de 2013 e ficou pronto para competir em agosto do mesmo ano — bem a tempo da Drag Week, e com apenas duas semanas para que Alex se acostumasse com o novo possante. Foi o suficiente para que ela conseguisse um belo tempo — respeitáveis 11,98 segundos. Com os dois turbos ela conseguiu baixar ainda mais este tempo: em sua melhor puxada, Alex virou impressionantes 9,06 segundos a 248 km/h — com vídeo para provar!
Ao ver uma garota entusiasta tão bonita, dedicada e talentosa, não há como não lembrar da britânica Nicole Harashima — a gatinha britânica que cuida sozinha de seu Civic Type R e de seu Citroën Saxo VTS. São mundos diferentes — Nicole gosta de hot hatches e curvas rápidas enquanto Alexa é doente por muscle cars e arrancadas, mas a paixão pelos carros é a mesma. E nossa admiração também, claro!
[ Fotos: DT Hot Rods, arquivo pessoal, 1320Video.com. Sugestão do leitor MadSubaru. ]