Pense rápido: você prefere um Alfa Romeo 155 de competição com motor V6 naturalmente aspirado de 12.000 rpm ou quatro-cilindros turbo de 550 cv?
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , , e muito mais!
Como somos caras legais, vamos te dar um tempo para decidir. Mais precisamente, dois minutos e 52 segundos. É quanto dura o vídeo abaixo, que mostra os dois carros na mesma subida de montanha na Itália. Aliás, é uma ótima forma de gastar quase três minutos, se você é do tipo que curte ver ícones de turismo dos anos 1990 acelerando com vontade.
Estes dois carros demonstram bem o legado do Alfa Romeo 155 nas competições de turismo europeias, com mais de uma versão sendo usada nas pistas: 155 GTA e 155 V6 Ti. Os dois carros foram homologados para diferentes categorias da FIA.
O 155 GTA foi criado para a Classe 2, conhecida como Supertouring a partir de 1995, que pode ser entendida como a categoria de base das competições de turismo na época. Já o 155 V6 Ti foi desenvolvido para a Classe 1, que era a classe de topo e permitia alterações mais radicais ao projeto original do carro de rua.
O Alfa 155 GTA conquistou o título do Campeonato Italiano de Superturismo em 1992, com Nicola Larini ao volante; e no Campeonato Britânico de Turismo, o BTCC, em 1994, com Gabriele Tarquini. Já o Alfa 155 V Ti foi campeão no DTM, o Campenato Alemão de Carros de Turismo, em 1993, também nas mãos de Larini.
Mas, afinal, quais eram as diferenças entre os carros da Classe 2 e da Classe 1?
De cara, notamos que o Alfa 155 GTA é um carro mais alto e estreito, com a carroceria mais próxima do que se via no 155 de rua. É possível ver que os para-lamas eram mais largos, e também que o para-choque dianteiro tinha uma entrada de ar maior e um splitter mais agressivo.
O regulamento da Classe 2 de turismo exigia uma série especial de homologação para o carro de corrida, e esta veio na forma do Alfa Romeo 155 Q4. Que, na prática, era um Lancia Delta HF Integrale com outra carroceria. Como você deve lembrar, a Lancia aposentou sua equipe de rali no fim de 1992, depois que o Delta conquistou seu sexto título consecutivo no WRC – o décimo da fabricante, que é até hoje a companhia que mais conquistou títulos no Campeonato Mundial de Rali.
Com o Delta aposentado, a Alfa Romeo procurou a Lancia, a fim de dar uma sobrevida ao conjunto mecânico usado nos ralis – e é por isso que o 155 Q4 é considerado um Delta Integrale com outra carroceria. O motor 2.0 turbo 16v era o mesmo, bem como o sistema de tração integral permanente com três diferenciais, sendo o traseiro equipado com autoblocante Torsen.
No modelo de rua, o motor era amansado e entregava 190 cv. Já no Alfa Romeo 155 GTA de competição, o 2.0 turbo entregava algo na casa dos 300 cv – novamente, como era no Grupo A do WRC.
Já os carros da Classe 1, à qual pertencia o V6 Ti, eram ainda mais radicais. De cara, nota-se que o Alfa 155 da DTM era mais baixo e mais largo – tornando o centro de gravidade mais próximo do chão e aumentando a largura das bitolas, duas medidas para torná-lo mais estável com o conjunto mecânico bem mais forte.
Em vez de um quatro-cilindros turbo, o 155 V6 Ti era movido por um V6 naturalmente aspirado de 2,5 litros com corpos de borboleta indiviuduais e nada menos que 495 cv a 12.000 rpm. Mas o regulamento mais permissivo permitiu diversas outras modificações, além da já citada carroceria mais larga e baixa.
Além de poder adotar uma estrutura de fibra de carbono (os carros da Classe 2 precisavam manter o monobloco original), no caso do Alfa 155 V6 Ti os elementos aerodinâmicos eram livres da linha de cintura para baixo; e ele também podia usar freios ABS, controle de tração e diferenciais eletrônicos. Você também vai notar que o carro de corrida usa faróis falsos – são adesivos que imitam faróis. Era uma forma de aliviar mais peso: o V6 Ti pesava menos de 1.000 kg.
E o motor sequer precisava ser oferecido no modelo do carro de corrida – ou seja, a Alfa nem precisava se preocupar em colocar no mercado um Alfa Romeo 155 com motor V6 e tração nas quatro rodas. O Alfa Romeo V6 Ti conquistou, ao todo, 38 vitórias nos campeonatos europeus de turismo, sendo 22 delas apenas nas temporadas de 1993 e 1994 do DTM.
Os dois carros que aparecem no vídeo acima competiram na década de 1990, e ambos têm uma vida bem ativa no circuito europeu de subida de montanha. O Alfa 155 GTA pertence ao piloto Roberto de Giuseppe, e atualmente o motor 2.0 turbo entrega por volta de 550 cv, que são capazes de levar o sedã de zero a 100 km/h em menos de três segundos. Chama a atenção o ronco típico dos carros de rali: rouco, encorpado e acompanhado do persistente chiado do turbocompressor – embora o sistema anti-lag não seja tão pronunciado como se ouvia na época do WRC.
Já o 155 V6 Ti corre nas mãos de Marco Gramenzi, figura conhecida das páginas do FlatOut, onde já apareceu ao volante deste mesmo 155 (e também de um Alfa Romeo 4C impressionante, equipado com um motor V8 de 600 cv a 9.000 rpm). O ronco do V6 a 12.000 rpm remete instantaneamente aos V12 que dominaram a Fórmula 1 na primeira metade da década de 1990: agudo, anasalado e rasgado.
Honestamente, mesmo depois de recapitular as especificações de cada motor e de ouvir seu ronco, ainda não conseguimos decidir nosso favorito. Embora o V6 naturalmente aspirado seja indiscutivelmente mais musical, a harmonia do quatro-cilindros com o assovio do turbocompressor também tem seus encantos. E os dois carros são belíssimos – embora o 155 V6 Ti tenha uma projeto mais radical, o charme de um carro de turismo com monobloco “stock” é difícil de ignorar.
Esta bola vai ter que ficar com vocês.