Ontem, dia 26 de março de 2014, foi o dia em que se completaram exatamente 40 anos do lançamento de um dos maiores clássicos da indústria nacional: o Alfa Romeo 2300. Eis aqui a nossa pequena homenagem a este brasileiro de alma italiana que contrariou quase todas as tendências da época e mesmo assim conquistou admiradores fiéis, que fizeram festa com a data.
Na década de 70, a indústria automotiva brasileira vivia um grande momento, com lançamentos em sintonia com o que havia de mais moderno lá fora e a Fábrica Nacional de Motores, FNM, parecia não ter se tocado de que os tempos eram outros, bem diferentes da década de 60, quando seu sedã, o FNM 2000/2150, era referência em luxo e desempenho.
A FNM, que produzia caminhões licenciados pela Alfa desde 1951, e carros desde 1960, decidiu corrigir a situação criando um novo projeto localmente, porém buscando inspiração nos modelos europeus — principalmente no Alfetta, de 1972, em termos de design. Nascia, então, em 1974, o primeiro Alfa Romeo a usar o nome da marca no Brasil: o 2300.
A dianteira trazia uma grade com quatro faróis redondos e o cuore sportivo no meio. A traseira era alta com lanternas pequenas, a área envidraçada era bem generosa e o acabamento era discreto, porém de muito bom gosto.
Mas não era apenas o visual externo que deixava clara a inspiração italiana. Em um apelo diferente de praticamente tudo o que havia no mercado na época — Chevrolet Opala, os modelos da Dodge e os Ford Maverick e Landau —, o 2300 era tipicamente europeu também por dentro, com volante de três raios revestido em plástico que imitava madeira, painel com conta-giros, bancos dianteiros individuais com enconsto de cabeça opcional, e alavanca de câmbio no chão. Os concorrentes seguiam as tendências americanas, com suspensão mais macia, cromados na carroceria e, no caso dos Dodge e do Ford Galaxie, grandes e torcudos motores V8.
O 2300 trazia um motor de quatro cilindros em linha, 2.310 cm³ de deslocamento e comando duplo no cabeçote, capaz de entregar 140 cv (brutos) e 21 mkgf de torque. Acoplado a um câmbio manual de cinco marchas, o motor era capaz de levar o Alfa 2300 de 0 a 100 km/h em menos de 12 segundos e chegava a 170 km/h, desempenho excelente para a época. Além disso, o carro trazia algumas primazias técnicas, como zonas de deformação dianteira e traseira e freios a disco nas quatro rodas, recurso que só se repetiria em um nacional no Chevrolet Diplomata da década de 90.
Em termos de preço, o Alfa 2300 ficava na faixa do Opala e dos modelos da Dodge, contudo seus equipamentos o colocavam no mesmo nível do Galaxie, que custava quase 1/3 a mais. Isso fazia dele quase um carro de nicho, que agradava os mais exigentes. Em 1976, com o bloqueio definitivo das importações, a FNM aproveitou para promover seu modelo como um “importado nacional” — tecnologia e design italianos em um carro fabricado no Brasil.
Naquele mesmo ano era lançado o Alfa 2300ti — versão mais adorada do modelo, de apelo ainda mais esportivo — deixado claro pelo emblema do quadrifoglio nas colunas traseiras —, com dois carburadores e 149 cv brutos. O carro agora ia de 0 a 100 km/h em 10,8 segundos e chegava aos 175 km/h. A nova versão trouxe um interior modernizado, com painel redesenhado e revestido em mogno de verdade, quadro de instrumentos atualizado e volante de plástico. O motor de carburação simples continuava no 2300 B, modelo básico.
Dois anos depois, o 2300 recebia como opcional o motor destinado às unidades de exportação — praticamente igual em tudo, porém com taxa de compressão elevada para entregar 163 cv e 24,4 mkgf de torque — com ele, o carro andava mais e bebia menos. O ano de 1978 também trouxe a compra da Alfa pela Fiat, e a subsequente transferência da produção para a fábrica da marca em Betim, MG. A mudança garantiu melhor infraestrutura de produção e carros com qualidade de construção mais alta.
O peso da idade, porém, estava cada vez maior, e começou a exigir mudanças estéticas, como os para-choques plásticos. O passar dos anos, porém, deixou o 2300 cada vez mais caro — com preço perigosamente próximo dos modelos maiores e mais luxuosos da Ford.
A Fiat até tentou disfarçar com uma nova grade, lanternas maiores e para-choques envolventes em 1985, mas já era tarde: o 2300 sairia de linha no ano seguinte, dando também fim à atuação da marca no Brasil — não sei deixar saudades em milhares de admiradores Brasil afora. Os carros da Alfa Romeo só voltariam em 1990, com a reabertura do mercado e a importação do 164.
A festa de aniversário
Para comemorar os 40 anos do Alfa Romeo 2300, os alfisti do Alfa Romeo BR, do Alfa Romeo Clube MG e da Confraria 2300 organizaram uma viagem de 2.300 km ao longo de oito dias, que começou em São Paulo no dia 22 e passou por Curitiba, São José dos Campos, Petrópolis, Xerém e Betim — estas duas últimas as cidades onde o 2300 foi fabricado ao longo dos seus 13 anos de vida.
Apenas sete carros vão percorrer os 2.300 km da viagem, embora em alguns trechos mais curtos eles sejam acompanhados por mais amigos e fãs da marca, e já chegaram a ter 20 carros em comboio. Hoje (27) eles estão em Betim/MG e iniciam a viagem de volta a São Paulo amanhã (28).
[ Fotos: Tulio Silva/Alfa Romeo Clube MG ]