Há exatamente 364 dias a Mercedes-AMG apresentava neste mesmo Salão de Genebra o AMG GT Concept, um cupê de quatro portas derivado do AMG GT que apontava suas armas diretamente para o Porsche Panamera. Foi um movimento simbólico: ao promover seu cupê de quatro portas esportivo a produto exclusivo AMG, descolando-o da linha CLS, a Mercedes disse nas entrelinhas que seu negócio a partir dali não seria apenas brigar com a Audi e a BMW, mas também com a Porsche e a Aston Martin. Se a AMG vai conseguir, é algo que só saberemos quando o novo modelo chegar à linha de produção e for comparado aos seus rivais. Mas se depender da ficha técnica, como na época do Super Trunfo, ele é uma carta que gostaríamos de ter.
Começando do começo, ele não se chama AMG GT 4 como achávamos que seria, e sim Mercedes-AMG GT 4-door Coupé. Mas você não vai chamá-lo desse jeito, porque a AMG apresentou três versões do carro: o GT 63, o GT 63S e o GT 53.
Apesar das semelhanças com o CLS a inspiração para o AMG GT 4-door Coupé vem do irmão AMG GT. O parentesco fica evidente na silhueta mais truncada na traseira, e no capô mais longo que o do CLS. Além disso, o vigia traseiro faz parte da tampa do porta-malas, o que faz dele um hatchback/fastback. Mas as semelhanças entre os irmãos param por aí.
Baseado na arquitetura MRA — a mesma do Classe E e do CLS — o AMG GT 4-door Coupé não tem o câmbio na traseira como o duas-portas e não oferece tração traseira. O GT 53 usa exatamente o mesmo conjunto mecânico do CLS 53: o novo seis-em-linha turbo de três litros da AMG, combinado a um motor elétrico de 48 volts para produzir 435 cv e 52,9 kgfm. O câmbio é automático de nove marchas, com conversor de torque, combinado ao sistema de tração integral 4Matic+. Com 1.970 kg (10 kg a menos que o CLS 53) o GT 53 vai de zero a 100 km/h em 4,5 segundos e continua até os 285 km/h.
Como comparação, o CLS 53 vai de zero a 100 km/h nos mesmos 4,5 segundos, porém tem sua velocidade limitada a 250 km/h. É inevitável pensar que são carros praticamente iguais, diferenciando-se sutilmente pelo design e pela abertura do porta-malas — até mesmo o entre-eixos de 2,94 metros é igual. E isso deixa as coisas um pouco confusas, porque o CLS perdeu sua versão 63 justamente por causa do AMG GT 4, e agora vem a AMG e lança um GT com o mesmo conjunto mecânico e o mesmo desempenho do CLS 53. Sim, o AMG GT 4 portas precisa de uma versão para encarar as versões de entrada do Panamera, e a AMG não poderia simplesmente ignorar seu powertrain de seis cilindros mais moderno. Mas esperávamos ver um pouco mais de potência nesta versão, afinal o Panamera e-Hybrid tem 462 cv e, bem, o CLS já é um cupê AMG de quatro portas com powertrain híbrido e 435 cv, ainda que não tenha os mesmos reforços estruturais do GT 53.
Já os GT 63 e GT 63S entregam até mais do que esperávamos deste cupê de quatro portas. A versão base, 63, traz o V8 4.0 biturbo com 585 cv e 81,4 kgfm a 2.350 rpm, enquanto o GT 63S gira o botão de potência até o 11 e traz inéditos 639 cv e 91,5 kgfm a 2.500 rpm. Os dois usam o mesmo câmbio AMG Speedshift de embreagem dupla e nove marchas, também combinados ao sistema 4Matic+. Além do motor mais potente, o GT 63S também usa coxins de motor ativos, que se ajustam de acordo com o modo de condução para ficar mais macios ou mais rígidos.
Com essas credenciais, o AMG GT 63 vai de zero a 100 km/h em 3,4 segundos e chega aos 310 km/h, enquanto o GT 63S chega aos 100 km/h em 3,2 segundos e segue até os 315 km/h. Como comparação, o GT R vai de zero a 100 km/h em 3,6 segundos e chega aos 319 km/h. Aqui os GT 63 recuperam a semelhança com os GT de duas portas: eles também são equipados com o eixo traseiro direcional e com o diferencial traseiro eletrônico de deslizamento limitado, bem como os freios com pinças de seis pistões na dianteira. Aliás, as pinças ajudam a diferenciar os modelos do GT 4 portas: o GT 63 usa pinças vermelhas, enquanto o GT 63S usa pinças amarelas.
A suspensão dos GT 63 também é ajustável como no GT duas-portas porém, em vez de coilovers, eles usam a suspensão AMG Ride Control+ (a mesma do E 63) com bolsas de ar multi-câmaras. Outra semelhança é a barra estabilizadora traseira tubular, que ajuda a reduzir a massa não suspensa. No GT 53 a suspensão usa molas helicoidais e amortecedores de carga ajustável, e o eixo traseiro direcional é um opcional.
O parentesco com o AMG GT continua na aerodinâmica ativa: os GT 63 têm aletas ativas na dianteira, que ajudam a reduzir o arrasto e a otimizar o arrefecimento de acordo com a necessidade, e também o spoiler traseiro ativo, que dependendo da situação, pode ajudar a produzir downforce, reduzir o arrasto ou atuar como um freio aerodinâmico. Ainda há um pacote opcional composto por um splitter dianteiro mais pronunciado, uma asa traseira fixa com ajuste manual, e um novo difusor traseiro.
Isso novamente nos faz pensar sobre o CLS. Se o GT 63 recebeu tecnologias do GT duas-portas, não seria o caso de criar um CLS 63 sem todos estes recursos de ponta, mais próximo do E 63 como sempre foi? A Mercedes diz que o CLS não ganhou um motor V8 por questões de espaço no cofre (packaging), porém, como já vimos, o CLS usa a mesma arquitetura MRA do E63 e do GT 63, e tem a mesma bitola dianteira do E 63 S. Além disso, o C 63 é um carro significativamente menor que o CLS e também é equipado com o V8.
Por dentro o GT quatro-portas volta a se distanciar do GT duas-portas e se aproxima do CLS. O painel é praticamente idêntico, com as telas TFT integrando o quadro de instrumentos e o sistema multimídia, as mesmas saídas de ar circulares e uma divisão horizontal acima do console central. Aliás, o console é a maior diferença nessa região. No GT quatro-portas ele é mais inclinado, e elevado, envolvendo os ocupantes da frente e estabelecendo uma conexão com o GT duas-portas. A partir dali, ele segue elevado até o banco traseiro, que é dividido ao meio pelo console. É possível também optar pelo banco traseiro para três ocupantes; nesse caso o console é encurtado e acaba entre os bancos dianteiros.
Por último… você deve lembrar que o conceito do ano passado era um híbrido, certo? Pois bem, ele não era uma antecipação do GT 53, e sim do futuro topo-de-linha do GT 4-door Coupé, que será lançado em algum momento dos próximos seis anos. Ele usará uma variação do powertrain do S560e, que é um V8 combinado a um conjunto elétrico para produzir nada menos que 805 cv. Espera-se que ele seja batizado GT 73 (AMG 73 te lembra algo?) e possa rodar até 50 km usando apenas eletricidade. Será suficiente para ser a carta “super trunfo”?