Não sei quanto a vocês, mas ainda me causa certo estranhamento ver um crossover com o nome Blazer. Especialmente se ele for elétrico, como o novo Blazer EV. Tanto nos EUA quanto no Brasil, o nome está anunciado a uma linhagem de SUVs robustos, com suspensão de curso longo, capacidade off-road, com construção do tipo carroceria sobre chassi tipo escada. Além disso, o SUV da picape S10 — com as mesmas características de sempre — já existe e se chama TrailBlazer — um nome usado pela primeira vez na versão americana da nossa Blazer Executive. Então por que um crossover elétrico está usando o mesmo nome da antiga versão fechada da S10?
Bem… não há um motivo declarado pela GM, mas não pense que “Blazer” é uma exclusividade daquele carro que tivemos por aqui entre 1995 e 2011. Na verdade, o nome Blazer (e suas variações) foi usado nos últimos 50 anos pela fabricante americana para designar nada menos que oito modelos diferentes antes do Blazer EV.
A Blazer original – 1969 a 1991
Foi em 1969 que a GM lançou uma versão fechada da sua série de picapes C/K como resposta ao International Harvester Scout e ao icônico Ford Bronco. Originalmente o carro foi batizado como K5 Blazer, e oferecido somente com tração 4×4. No ano seguinte, em 1970, veio a versão mais barata, de tração traseira. Para o cofre havia quatro opções de motor: 250 e 292 seis-em-linha, 307 e 350 V8.
O modelo foi um sucesso instantâneo: naquele mesmo 1970 a K5 Blazer já vendia mais que os dois concorrentes. O sucesso se deveu ao fato de que, pela primeira vez nos EUA, um carro combinava a capacidade offroader (35 graus de ataque e 20 cm de vão livre) com amenidades como ar-condicionado e transmissão automática de três marchas.
Se você quisesse trocar as marchas por conta própria, havia duas opções: um câmbio de três marchas de série ou o opcional de quatro marchas conhecido como “granny gear” (algo como “caixa de vovó”) devido à primeira marcha mais curta, de relação 6,55:1.
A versão de tração traseira era um pouco mais confortável devido à suspensão por braços triangulares sobrepostos e molas helicoidais — a 4×4 usava eixo rígido com feixe de molas semi-elípticas na dianteira e na traseira.
O modelo foi produzido até 1972, quando deu lugar à sua segunda geração, lançada em 1973. Se você chegar nos EUA e falar sobre a Chevy Blazer, é neste carro que as pessoas vão pensar. O modelo foi produzido por quase 20 anos, até 1991, e teve quatro opções de motor V8 (305, 307, 350 e 400), um V8 de 6,2 litros a diesel e o 250 seis-em-linha, quatro opções de transmissão e outras cinco opções de caixa de transferência.
Como seu antecessor, a K5 Blazer manteve o sucesso instantâneo apesar da nova geração do Bronco e da ofensiva da Chrysler com o Jeep Cherokee e do Dodge Ramcharger (lançados em 1974). Em 1979 a GM vendeu mais de 90.000 Blazers, mas no início dos anos 1980 as vendas despencaram para menos de 30.000 unidades anuais.
Foi nessa época que surgiu a terceira Blazer da história, diferenciada da Blazer original pelo nome da picape da qual era derivada: a Chevrolet S-10.
S-10 Blazer – 1982 a 2011
As duas crises do petróleo dos anos 1970 resultaram em uma invasão de modelos orientais que combinavam confiabilidade mecânica, desempenho razoável e frugalidade no consumo de combustível. Tudo o que a maioria da população americana precisava. Junto com estes carros compactos do Japão vieram algumas picapes igualmente compactas, com motores de quatro cilindros tão eficientes quanto econômicos e boa capacidade de carga.
Entre estas picapes estava a Isuzu Faster que foi vendida nos EUA como Chevrolet LUV, uma vez que a GM havia comprado 34% dos japoneses em 1972, quando a primeira crise do petróleo estourou. Para oferecer algo mais adequado ao gosto americano, a GM substituiu a LUV pela novíssima S-10 em 1982. E como as picapes médias das séries C/K, a S-10 também ganhou uma versão fechada que foi igualmente batizada com o nome Blazer.
Sendo um modelo de entrada, em vez de motores de seis e oito cilindros, ela foi lançada com motores de quatro cilindros, que variavam de 1,9 litro a 2,5 litros, e um par de motores V6 de 2,8 e 4,3 litros. Como a irmã maior, a K5 Blazer, a S-10 Blazer era oferecida com tração 4×4 ou traseira, câmbio manual ou automático, duas ou quatro portas.
Em 1995 veio a segunda geração, que chegou ao Brasil naquele mesmo ano. Lá fora ela foi oferecida com duas ou quatro portas, mas somente com o motor 4.3 V6 — o mesmo da primeira geração. Por aqui, perdemos a versão duas-portas, mas ganhamos o motor de quatro cilindros, o que ajudou a popularizar a picape por estas bandas.
Até 1995, a palavra “blazer” no Brasil era apenas o nome de um tipo de paletó esportivo. Lá fora, esse paletó também se chama blazer, mas da mesma forma que “manga” tem mais de um sentido, a palavra blazer é uma antiga palavra inglesa usada para designar uma pessoa que demarca trilhas nas selvas e florestas, também chamada de trail blazer. E aqui chegamos à terceira Blazer da Chevrolet.
A Trailblazer
A Trailblazer é o atual SUV da S10, e embora o nome tenha soado estranho em um mercado acostumado com a Blazer, ele tem um fundamento histórico. Em 1999 a Chevrolet lançou uma versão de luxo da S-10 Blazer, que foi diferenciada da irmã plebeia pelo nome Trailblazer.
Era exatamente o mesmo carro, com tração 4×4, motor 4.3 V6 e quatro portas, porém com acabamento mais refinado e pacote de itens de série mais recheado. Esta versão foi oferecida até 2001, três anos antes do fim da produção da S-10 Blazer nos EUA.
No ano seguinte, a Trailblazer foi relançada porém como um outro carro e com uma nova grafia — TrailBlazer. O carro passou a ser a versão SUV da picape Colorado (que só seria lançada em 2003). Ele tinha duas versões de chassi (curto ou longo) e usava apenas motores V6 e V8 a gasolina.
A TrailBlazer era pouco maior que a S-10 Blazer, e acabou posicionada entre ela e Tahoe — que entra nessa história para tornar as coisas um pouco mais confusas. A primeira geração da Tahoe era chamada de Blazer até 1994. Na verdade, ela era a terceira geração da Blazer K5, conhecida como K1500, que chegou ao Brasil como…
Grand Blazer
Sim, a Grand Blazer, o SUV do Silverado, também era uma Blazer. Ela foi a terceira geração da Blazer K5 entre 1992 e 1994. Depois mudou o nome para Tahoe — o qual usa até hoje. Enquanto isso, o modelo era lançado na América do Sul com um nome que remetia à era das duas Blazer nos EUA: Grand Blazer. Afinal, ela era maior que a outra Blazer.
Nos EUA a Blazer/Tahoe era oferecida com um motor V8 5.7 a gasolina ou um Detroit Diesel V8 turbo de 6,5 litros. No Brasil ela ganhou o seis-em-linha de 4,1 litros derivado do motor do Omega e um turbodiesel MWM de 4,2 litros, e só foi oferecida com quatro portas. Lá fora era possível comprar a Tahoe com duas portas e tampa traseira bipartida verticalmente.
Blazer crossover
Em 2018 a Chevrolet lançou o oitavo modelo a receber o nome Blazer em sua história. Trata-se de um crossover posicionado acima do Equinox, equipado com um 2.5 aspirado de 195 cv e 25,9 kgfm ou um V6 de 3,6 litros de 310 cv e 37,1 kgfm — ambos com start-stop e combinados ao câmbio automático de nove marchas. O modelo de quatro cilindros tem tração dianteira, enquanto o V6 tem tração nas quatro rodas por demanda, rodando com tração dianteira em condições normais.
Diferentemente das demais, esta nova Blazer não deriva de nenhuma picape, nem tem carroceria sobre chassi. Em vez disso ela tem construção do tipo monobloco, e usa alguns elementos visuais do Camaro SS 2019.
Trailblazer crossover
Pois é. Enquanto no Brasil a Trailblazer é um SUV médio, nos EUA ela é um crossover compacto, posicionado abaixo da Equinox. Baseada na plataforma VSS-F, ela tem tração dianteira ou integral e motores turbo de três cilindros — é um posicionamento semelhante ao do Tracker por aqui, porém baseado em uma arquitetura mais sofisticada.
O modelo de tração dianteira tem especificações semelhantes às do Tracker, porém seu 1.2 turbo tem injeção direta enquanto o Tracker tem injeção no coletor. Por isso também, a potência dos motores é diferente: o Tracker fica nos 132 cv com gasolina, enquanto o Trailblazer vai aos 139 cv.
O Trailblazer ainda tem uma versão AWD, equipada com uma derivação de 1,3 litro do mesmo motor. Apesar da pouca diferença no deslocamento, a potência desta versão vai aos 157 cv. A transmissão também é mais sofisticada: a atual geração da GM Hydramatic, com 9 marchas, no lugar do CVT do modelo de tração dianteira.
Blazer EV
Por último, o mais recente modelo batizado Blazer pela GM é o/a Blazer EV. Engana-se quem pensa que ela é apenas uma versão eletrificada da Blazer crossover. Suas dimensões e plataforma são diferentes, assim como o visual do carro
.
O modelo tem três configurações de motor e tração, podendo ser equipada com somente um motor na dianteira, com apenas um motor na traseira ou com dois motores. Nos modelos de motor dianteiro e tração dianteira, a potência é 245 cv. No modelo com tração traseira (e motor traseiro) a potência sobe para 347 cv, mas no modelo com tração integral ela cai para 330 cv. A menos que seja a versão SS (a primeira SS com um motor elétrico). Nesse caso, ela usa o motor dianteiro de 245 cv e o traseiro de 347 cv, somando 592 cv.