“Sapatos novos” é um jeito bem comum de se dizer informalmente que os pneus do carro foram trocados, não? A relação é bem lógica: não é só por andar sobre eles, mas também por que o conjunto de pneus e rodas pode mudar drasticamente o visual do carro, tal como os calçados mudam nosso visual. Um sujeito de terno e sapato é um homem em situação formal. Um sujeito de terno e chinelo de dedo encardido é o exato oposto do primeiro sujeito.
Trocar o calçado é o jeito mais fácil de se adequar ao “dressing code”, a etiqueta de trajes que uma ocasião requer. Da mesma forma, o jeito mais fácil de mudar a cara de um carro é trocando seus sapatos — ou seja, seu conjunto de roda e pneu.
Há quem prefira simplesmente comprar as rodas de uma versão mais cara ou de um modelo superior, o que já dá um aspecto mais interessante ao carro. Outros, vão para algo mais específico, modelos aftermarket — o que é mais arriscado, pois o design delas não foi pensado em conjunto com o design dos carros.
Por outro lado, é justamente isso o que as torna tão interessantes: alguns modelos caem muito bem em praticamente qualquer modelo. Outras, acabam fortemente associados a um único carro. E é isso o que torna algumas rodas tão icônicas.
Scorro S-27 e S-30 “Cruz de Malta”
As rodas Cruz de Malta foram extremamente populares na década de 1970 e 1980. O modelo fabricado pela Scorro fez parte da era de ouro da personalização automotiva brasileira, assim podemos dizer — a oferta de acessórios beirava o absurdo, com centenas de empresas dedicadas a suprir a falta de carros e equipamentos importados no Brasil. Muitas vezes a inspiração era o visual dos carros gringos, mas o desenho dos itens brasileiros tinha um charme especial.
O visual das Cruz de Malta caía especialmente bem em cupês como o Opala e o Maverick e, não por acaso, eram uma das opções mais populares para os donos destes carros. Elas também foram usadas em suas respectivas versões de corrida — os Opala de Stock Car e os Maverick que disputaram a Divisão 1 do Campeonato Brasileiro de Turismo calçavam rodas Scorro Cruz de Malta. Nos modelos de quatro parafusos, ela tinha quatro raios e seu nome era S-30.
Originalmente a S27 foi oferecida nas medidas 14×6 e 14×7, enquanto a S30 foi oferecida apenas na medida 13×6.
Se até então elas só podiam ser encontradas usadas ou como réplicas (de todas as épocas, algumas de qualidade ao menos suspeita), em 2014 a Scorro decidiu relançar a Cruz de Malta como edição limitada. Foram fabricados 250 jogos, vendidos como item de colecionador.
Com diâmetro de 15” e furação de 5×114, a nova Cruz de Malta foi feita para o Opala. O kit com quatro rodas custava R$ 3.900. Por R$ 4.500 você levava um kit completo de colecionador, com camiseta, chaveiro, embalagem especial, certificado de colecionador, certidão de nascimento, uma caixa de ferramentas e a gravação dos quatro últimos números do chassi do seu Opala nas rodas. Os que compraram também ganharam direito a uma visita à fábrica da Scorro, onde as rodas foram entregues.
O visual não é exatamente igual à das Cruz de Malta clássicas mas, sem dúvida, ficou muito bacana. A Scorro disse estudar a possibilidade de oferecer o modelo para o Fusca e até mesmo para o Alfa Romeo 2300.
Roda Gaúcha
Normalmente as rodas têm nomes populares e nomes oficiais. É o caso da “cruz de malta” aí acima, que nem se parece com uma cruz de malta, mas ficou conhecida desse jeito porque era mais fácil do que S-27 e S-30. Mas a roda Gaúcha não…
Originalmente fabricada pela Alemão Indústria de Rodas, de Bento Gonçalves/RS, ela ganhou esse nome por ser uma roda fabricada no Rio Grande do Sul e assim ficou.
O modelo foi uma febre dos anos 1970 e o 1980 em absolutamente todos os carros vendidos no Brasil. Corcel e Maverick usaram, assim como Chevette e Opala, e toda a linha Volkswagen. Ficou tão famosa, que até música virou — a Brasilia amarela dos Mamonas Assassinas usava rodas gaúchas, lembra?
Elas são produzidas até hoje pela mesma empresa, hoje rebatizada como Alemão Rodas e Pneus.
Rodas Palito
Como as rodas gaúchas, as Palito eram onipresentes entre os carros modificados nos anos 1970. Fabricadas por diversas empresas, elas eram feitas de magnésio, o que lhes conferia um brilho amarelado bem característico quando polidas.
Seu desenho era uma mistura das clássicas American Racing Torq Thrust originais e as Torq Thrust D — que ficaram famosas no Ford Mustang 1968 de Steve McQueen em Bullitt.
Binno B-760 “Aranha”
As rodas Binno foram fabricadas por décadas pela Alujet, empresa de Vinhedo/SP. Ficaram famosas não apenas por fornecer as rodas da Stock Car, mas também por serem uma das várias empresas que ofereciam rodas aftermarket no auge do mercado brasileiro de personalização. Seu modelo mais famoso, sem dúvida, são as Binno Aranha.
Seu nome oficial é B-760, mas acabaram conhecidas por seu apelido mais popular devido centro circular relativamente grande com raios finos como o corpo e as patas de um aracnídeo — ou um Face Hugger da franquia Alien. De qualquer forma, seu visual caía muito bem com nos carros da década de 1980 — estão entre as favoritas dos donos de Chevette. Elas não são mais fabricadas pela Binno, mas é possível encontrar réplicas de diâmetros bem maiores que os originais.
Jolly Le Mans e Rodão R-130
Como a Binno, a Jolly teve presença forte entre os adeptos do tuning de antigamente, e foram exaustivamente anunciadas nas páginas das revistas automotivas brasileiras nas décadas de 1970 e 1980. A maioria de seus modelos era inspiradas por designs europeus, e batizadas com nomes de circuitos pelo mundo todo.
É o caso das Jolly Le Mans, que as 24 Horas de Le Mans desde 1923, e foram inspiradas nas Porsche Phone Dial, que estrearam em 1977 com o Porsche 928. Fizeram fama por serem as rodas que vinham nos Passat modificados pela concessionária Dacon nas décadas de 1970 e 1980.
Quem também fazia um modelo inspirado pelas “phone dial” da Porsche era a Rodão. Seu design era sutilmente diferente, com mais janelas de tamanho menor.
Rodas “Mexerica”
Você certamente vai lembrar de ter visto rodas muito parecidas em outros modelos de automóveis reconhecidos mundialmente como clássicos. Na Europa, são conhecidas como Minilites ou Campagnolo, e equiparam originalmente o Mini Cooper. No entanto, elas combinam muito bem com diversos modelos clássicos dos anos 1960 e 1970, como o clássico Alfa Romeo Giulia.
No Japão, elas elas são chamadas de RS Watanabe, e ficaram famosas por serem as rodas do primeiro Nissan Skyline GT-R, de 1969, também conhecido como Hakosuka e dotado de um belo seis-em-linha de dois litros e 160 cv.
Inspiradas pelas rodas gringas, as rodas “Mexerica” brasileiras foram fabricadas por diversas companhias, entre elas as já citadas Scorro e Jolly. Normalmente eram feitas de magnésio, e estão entre as mais cobiçadas pelos fãs de rodas antigas.
Binno B-860 e B-861, B-850 e Competition
Os anos 1990 ainda tiveram um resquício do período pré-importações. Tudo ainda era muito novo então não havia marcas importadas muito fortes por aqui, tampouco modelos icônicos em lojas de usados. Não dava, por exemplo, para comprar um jogo de Torq Thrust como você consegue fazer hoje.
É por isso que as rodas Binno 860 e 861 fizeram tanto sucesso na época. Elas eram “inspiradas” nas rodas dos Porsche 993 e fizeram sucesso além da linha Volkswagen.
Outro modelo muito popular da Binno foi a B850, uma releitura própria do estilo Y-spoke popularizado principalmente pela BBS.
E, por último, talvez o maior sucesso da marca, a Binno Competition, que eram versões de rua das rodas usadas pelos Omega da Stock car entre 1994 e 1997.