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As shooting brakes mais fodásticas de todos os tempos

Em meados de 2014, a gente fez um guia com as origens dos nomes dos diversos tipos de carroceria que existem no mundo automotivo e, entre os termos, estava a explicação para um dos mais emblemáticos: as shooting brakes, peruas derivadas de cupês/GT, com teto longo e tampa do porta-malas que dá acesso ao interior do carro.

Vamos refrescar um pouquinho a sua memória:

O termo break (escrito assim mesmo) atualmente é usado para designar as peruas da Citroën, e vem de uma antiga carruagem que recebia carga ou pesos para treinar cavalos de tração. O termo foi adotado no início da história do automóvel pelos encarroçadores que fabricavam wagons sobre veículos de carga, por isso o termo rapidamente se tornou sinônimo de perua ou station wagon.

Já as shooting brakes também vêm desta época. Eram geralmente cupês transformados em wagons para que seus proprietários pudessem transportar com praticidade seu equipamento de caça e tiro (shooting). Até meados dos anos 2000 as shooting brakes denominavam essas peruas derivadas de cupês (ou grand tourers), mas sempre com duas portas, apenas.

Só recentemente, com a criação dos “cupês de quatro portas” ou “sedãs fastback” que o termo shooting brake passou a ser usado para designar as peruas derivadas destes carros, como o Mercedes CLS Shooting Brake.

Normalmente elas são conceitos únicos, como o recém-apresentado Toyota GT86 Shooting Brake. Gostamos bastante do visual, mas lamentamos porque a Toyota já disse que o carro jamais será produzido em série — o que não é um grande problema, afinal, o modelo jamais seria vendido por aqui mesmo. Por outro lado, seria bom viver em um mundo em que o Toyota GT 86 pode ser uma peruinha.

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Mas também há modelos produzidos em série ou conversões oferecidas pelos tradicionais carrozieri. E é exatamente desses carros que vamos lembrar neste post.

 

Volvo 1800ES

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Se você é um dos tantos fãs da traseira de vidro do Volvo C30, agradeça a esse cara. No começo dos anos 1970, quando o P1800 já dava sinais de cansaço, em vez de reestilizar o carro, a Volvo simplesmente decidiu lançar uma perua esportiva baseada no cupê. Você sabe, uma perua baseada em um cupê é basicamente a definição de shooting brake — embora a marca sueca a considerasse uma “sport estate”.

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O sport não se referia tanto ao desempenho, já que o motor 2.0 produzia 125 cv e o carro pesava mais de 1.200 kg, mas sim ao lifestyle. Com o porta-malas maior e a tampa traseira de vidro o carro era prático para os adeptos de atividades ao ar livre, como esquiadores, praticantes de tiro esportivo, golfistas, campistas e afins.

Mas ainda que não fosse esportiva ou minimamente rápida, a Volvo 1800ES teria seu lugar garantido nesta lista. Veja só esse visual. Uma perua sueca, robusta, segura, com linhas italianas e uma tampa traseira de vidro tão bela quanto ousada. Na verdade, era algo tão avançado que até hoje a Volvo V40 emula esse visual com uma faixa preta sob o para-brisa traseiro.

 

BMW Z3 M Coupe

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Sim, ele se chama “Coupe” e nós o incluímos na lista dos melhores hatchbacks da história, mas vamos lá: ele é um cupê com teto alongado e abertura tipo escotilha (hatch). O que é isso se não uma shooting brake?

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Shooting brakes são carros tão específicos e peculiares que raramente são produzidos em grande escala. Você sabe, chega uma hora em que os contadores levam seus baldes de água fria para a reunião com os designers e engenheiros e despejam cubos de gelo chamados “viabilidade” na cabeça de todo mundo. Mas o Z3 M Coupe foi diferente. Os engenheiros da BMW simplesmente não contaram a ninguém que estavam desenvolvendo uma shooting brake. Muito espertos.

Todos os dias depois do expediente eles se reuniam para projetar um Z3 do jeito que ele deveria ter sido antes de exigirem que ele fosse um roadster. É sério: os engenheiros acharam que o Z3 poderia ser melhor, mas o espaço para a capota de lona exigiu a mudança de posição de uns braços da suspensão, e a ausência de um teto fixo o deixou mais flexível que o ideal. O resultado foi, bem, um Z3 com a suspensão no lugar certo e um teto fixo instalado de forma funcional, e não estética. Típico de engenheiros.

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Com o projeto pronto, eles só precisaram convencer os executivos de que aquela era uma ideia viável. Depois de alguns cálculos, os chefes concluíram que o Z3 cupê poderia sim ser produzido — desde que sua equipe fizesse de tudo para reduzir seu tamanho e preço. E é por isso que o Z3 M Coupé é um carro tão incrível. Guardadas as proporções, o Z3 M Coupé é a Ferrari F40 da BMW.  Ele é o que acontece quando engenheiros montam um esportivo sem concessões, sem a influência de marqueteiros, contadores e planejadores. Um esportivo puro, feito exclusivamente para ser rápido.

 

Ferrari GTC4Lusso

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Quando a Ferrari FF foi lançada em março de 2011, ela trouxe a receita clássica dos grã-turismo da marca: motor V12 central-dianteiro e espaço para quatro ocupantes e sua bagagem. Até aí tudo ok. O problema é que ela veio em uma embalagem um pouco diferente: uma shooting brake com tração integral. Nós até aprendemos a gostar dela, mas foi no começo deste ano, quando a Ferrari lançou sua sucessora, a GTC4Lusso, que nós passamos a desejar esta shooting brake com todas as forças.

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O caso nem é o V12 de 690 que gira mais de 8.000 vezes por minuto, ou a aceleração brutal de três segundos e pouco. O negócio é que ela é uma shooting brake realmente elegante, especialmente vista de trás.

A FF era meio desajeitada, meio sapato-de-palhaço — aquela silhueta desengonçada do Z3 M Coupé —, mas a GTC4Lusso resolveu esse problema com lanternas duplas circulares e um mini deck traseiro que quebra a redondeza da traseira da FF e reforça a noção de que as shooting brakes são cupês transformados em hatchbacks.

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Ela não é a Ferrari mais rápida, nem a mais potente, ou a mais veloz, mas certamente é uma das mais belas já feitas.

 

Mercedes CLS e CLA Shooting Brake

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Sim, elas têm quatro portas — o que as torna peruas comuns, na prática. Mas veja por outro lado: as shooting brakes são difíceis de se justificar comercialmente. As shooting brakes da Mercedes não.

Elas têm quatro portas e quatro lugares, então servem para levar a família inteira nas férias. Com a silhueta de shooting brake convencional, elas têm um visual naturalmente mais esportivo que as peruas comuns — mesmo tendo um motor pacato sob o capô. Veja essa CLA aí embaixo. Você diria que ela tem um 1.6 turbo de 122 cv? Ou apostaria em algo mais forte?

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Percebe onde queremos chegar? Nós também torcemos o nariz para essas shooting brakes de quatro portas no começo mas, pensando bem, elas até justificam seu nome com o visual, e muito além de tornar as shooting brakes viáveis, elas ajudam a popularizar o conceito de shooting brake — até então conhecido apenas por fãs hardcore de cupês. Elas fazem crianças e adolescentes desejarem shooting brakes, garantindo sua permanência entre as gerações futuras.

 

Porsche DP44 Cargo

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Enquanto a Porsche não lança a versão perua do Panamera, vamos com outra shooting brake da marca alemã. Na verdade ela não é um modelo oficial, e sim uma conversão, como praticamente todas as shooting brakes desta lista. O DP44 é uma criação da preparadora alemã DP Motorsports, e foi lançado em meados dos anos 1980.

A conversão usa o teto do Passat Variant B3 e algumas outras adaptações não detalhadas. Nessas três décadas a DP fez apenas 10 unidades do DP44, mas recentemente anunciou que ainda há cinco kits de conversão disponíveis a quem tiver coragem de picotar um Porsche clássico para transformá-lo em uma perua bem legal. Sendo um brasileiro de 2016, eu particularmente não faria isso, mas se eu fosse um colecionador de Porsches na Alemanha…

 

Callaway Aerowagon

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A tradição da caça é mais popular entre os britânicos e alemães, mas se você assistiu Looney Tunes nas antigas sabe que os americanos também curtem uma caçada. A diferença é que eles são mais pragmáticos: pegam logo uma picape full size heavy duty supercharger motherfucker, entram no mato, abatem os alces e ursos, jogam o rango na caçamba e voltam para casa.

Mas o Corvette é Vincent Price em forma de carro: um americano que parece europeu e é assustador. Por isso ele tem a licença poética para ser transformado em uma shooting brake. Os fãs das peruas-cupê sonham com isso há anos, mas foi somente no mês passado que a Callaway transformou o sonho em realidade ao anunciar o Aerowagon.

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E como aquele V8 que há 60 anos deu o toque americano ao esportivo com inspiração europeia, o toque americano da Aerowagon é aquele pragmatismo que falamos umas linhas atrás: em vez de submeter o Vette a um longo, caro e complicado processo de conversão feito por um carrozziere, a Callaway simplesmente desenvolveu uma traseira que pode ser instalada no lugar do vidro de trás. Você só precisa remover o vidro (que também é a tampa do porta-malas como em todo Corvette produzido a partir de 1984) e no lugar instalar o kit da Callaway. Só isso.

 

Ferrari 365 GTB 4 Shooting Brake

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Lembra como Memphis Raines descobre onde conseguir uma Ferrari 275 GTB/4 em “60 Segundos” (Gone in 60 Seconds – 2000)? Ele vai à concessionária posando de “man of wealth and taste” e fala que uma Ferrari daquelas expostas são muito comuns, e qualquer milionário poderia tê-las. Mas sendo um homem de bom gosto, ele gostaria de algo mais exclusivo, algo para connoisseurs, e então o incauto vendedor fala sobre o clássico da marca.

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O problema é que depois da popularização do filme vários novos ricos começaram a posar de connoisseurs e a comprar Ferraris clássicas, e agora os verdadeiros conhecedores podem ser confundidos com esses tipos. O que fazer então? Partir para as one-offs, aqueles modelos feitos exclusivamente por encomenda de clientes milionários que não queriam algo convencional. Um bom exemplo é a Ferrari SP12 EC, o tipo de carro que caras como Eric Clapton conseguem quando querem uma 458 Italia.

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A mesma regra se aplica aqui: se você quiser uma Ferrari shooting brake e acha que a GTC4Lusso é acessível a qualquer adolescente chinês na Califórnia, sua melhor opção é a 365 GTB4 Shooting Brake. Originalmente ela era a 805ª Ferrari 365 GTB 4 “Daytona” a sair de Maranello, mas seu proprietário a entregou à Panther Westwards, em Surrey, na Inglaterra e pediu que ela fosse modificada para carregar rifles.

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O resultado é essa belíssima shooting brake clássica, com um V12 de 4,4 litros 352 cv e uma beleza que vai te fazer querer morar dentro dela. Para sempre. Em uma vila no norte da Itália. Perto dos Alpes e daquelas estradas sinuosas.