Fala, galera do FlatOut! Tudo certo? Meu nome é Danilo Porto, tenho 22 anos e sou estudante de Engenharia de Computação (sim, Computação!) na Universidade de São Paulo, na Escola de Engenharia de São Carlos.
Acredito que vocês já conheçam o projeto Formula SAE através de outras equipes que já tiveram a oportunidade de aparecer por aqui. Mas pra quem não conhece vou tentar dar uma explicação rápida pra todos entenderem melhor a competição que a gente participa.
Fórmula SAE
Fundado pela SAE Internacional (sigla em inglês para Sociedade dos Engenheiros Automotivos) lá nos Estados Unidos, a competição começou nos anos 80. A intenção da competição, em resumo, é que estudantes de engenharia de universidades se juntem em equipes com a meta de projetar, construir, testar e competir com um carro de competição. Existe um conjunto de regras aos quais somos submetidos e temos que respeitar para podermos competir, e fora isso todo desenvolvimento do projeto é por nossa conta.
Atualmente existem 13 competições oficiais e mais algumas não-oficiais com mais de 580 equipes participando no total. Temos competições nos EUA, Inglaterra, Austrália, Alemanhã, Japão, Itália, Áustria, Hungria, Espanha, Rússia, e, claro, Brasil!
Foto da competição da Alemanha — Formula Student Germany 2013
Como vocês podem ver nessa foto acima, a tendência é que os carros tenham mais ou menos a mesma cara. Isso acontece por causa daquele conjunto de regras que eu falei antes: são mais de 100 páginas de condições de segurança que temos que seguir. Isso vai desde o tamanho mínimo é máximo do carro, passando pelo motor, indo no chassi e terminando no equipamento de segurança do piloto. Por exemplo, na limitação do motor podemos usar motores de até 610 cm³ com ciclo de quatro tempos, e também temos que ter um restritor da entrada de ar cujo diâmetro depende do combustível — para gasolina, 20 mm de diâmetro; para etanol (E85), 19mm.
Apesar dessas restrições existirem e parecerem limitar bastante o projeto, é realmente impossível ver dois carros iguais. Isso vai porque cada universidade, cada equipe, deseja fazer seu próprio carro com a sua marca, e a regra ainda permite uma liberdade imensa de projeto!
Já esse #wingsdontwork é uma história que surgiu por 2011. Foi nesse ano que uma grande quantidade de equipes começaram a usar essas asas para gerar uma quantidade considerável de downforce, só que devido ao estilo do circuito que corremos na competição, cuja velocidade média é de 70 km/h, a asa tem que ser um pouco maior para ser efetiva. Disso, surgiram asas relativamente grandes, como da equipe da Universidade de Monash, cuja foto está logo abaixo. Muitas pessoas acreditavam que era exageradamente grande para ser pouco efetiva, logo, #wingsdontwork. Bom… o que eu posso dizer da minha experiência é que #wingswork!
Na competição temos 2 grandes divisões de provas: Estáticas e Dinâmicas.
As provas estáticas nos julgam na parte de projeto. A primeira delas é o Design Judge, uma prova na qual os alunos têm 25 minutos para mostrar para um conjunto de juizes (todos eles engenheiros inseridos no mercado de trabalho) todo o desenvolvimento e validação do projeto. A segunda é a prova de Custos e Manufatura, na qual temos que mostrar que nosso carro é bem barato de ser feito numa produção em escala. Por último temos a Presentation, nesta temos 10 minutos para fazer uma apresentação para juizes que estão na figura de investidores, com o motivo de convencê-los que abrir uma fábria de Formulas é altamente viável!
Já nas provas dinâmicas temos:
- Aceleração: 75 m de pista em linha reta. Quem fizer o menor tempo, ganha!
- Skid-Pad: Uma pista em formato de 8. Dá-se 2 voltas para um sentido e 2 voltas no outro, de forma a medir o desempenho lateral do carro. Faz a média das voltas e o menor tempo também fatura.
- Autocross: Há uma pista de aproximadamente 0.8km (ou ½ milha), na qual o piloto juntamente com o carro precisam desempenhar o menor tempo possível pra levar o máximo de pontos.
Até então essas 3 provas você faz com 2 pilotos, cada um tendo a chance de fazer a prova duas vezes. No final, então, você tem quatro tomadas de tempo pra tentar pegar o melhor tempo.
- Enduro + Eficiência energética : A prova mais difícil da competição, de fato. 2 pilotos precisam percorrer 11km cada com o carro, totalizando 22km. Além de ter que desempenhar o menor tempo possível, o carro não pode apresentar falha alguma, ou seja, se quebrar ele não pontua nesta prova. Depois dela, os carros são julgados pelo consumo de combustível/energia juntamente com o tempo numa equação, e determina-se o carro mais eficiente a partir disso.
Formula SAE Brasil
Fotos da competição do Brasil de 2013
No Brasil tivemos 36 equipes competindo — quatro equipes de Formula Elétrico e 32 de Combustão. Na foto infelizmente não conseguimos reunir todos à tempo depois das provas de domingo, mas pra 2014 teremos mais!
Nosso carro, o E60
Vamos ao carro!
O projeto do E60 começou logo após a competição de 2012, em Dezembro. Inicialmente nossa meta era continuar com o projeto do ano anterior, o EX, porém botar nele algumas melhoras consideráveis, principalmente na suspensão e na aerodinâmica.
O projeto estava andando bem e tudo dentro do cronograma, até que em fevereiro tivermos uma reunião com o nosso professor orientador e lá tivemos que pesar uma decisão muito importante: trocar o motor de 600 cm³ da CBR600RR por um de 450 cm³, preferencialmente da YFZ450R ou da WR450.
Ou seja, todo o projeto que havia sido feito até então iria mudar. Para começar, nosso sistema de admissão e exaustão do motor iria ter que ser completamente modificado para o novo motor, pois fomos de quatro para um cilindro. Depois, seria preciso modificar todo o chassi e a suspensão, para se adequar às novas forças e peso do carro. Ainda por cima tivemos que fazer ajustes na eletrônica, nos freios, e também recriar a aerodinâmica inteira para o novo motor!
Enfim, foram muitos ajustes que tiveram que ser feitos, e em um prazo extremamente curto, visto que tínhamos ainda que terminar o projeto, fazer as peças, juntar todas as peças na oficina, montar o carro e começar a testar ele, tudo isso para a competição que já estava marcada para o dia 15 de novembro! Como vocês podem imaginar, ia vir um trabalho bem pesado ai no caminho…
Mas apesar disso, a Equipe teve um espírito animado para tocar o projeto pra frente e chegar preparado para a competição! E não que isso envolvesse trabalhar pouco…
E depois de todo o trabalho, construímos o E60!
E para quem tem interesse em alguns outros detalhes:
Bom galera, vou ficando por aqui nesse post! Espero ter introduzido bem a ideia do projeto para vocês. Deixem nos comentários o que vocês querem ver pros próximos posts que eu tento incluir o máximo que puder. Deixem também sugestões pra melhorar o artigo. Até mais!
Por Danilo Porto, Project Cars #100