De tempos em tempos aqui no FlatOut investimos na ideia de que aumentar os limites de velocidade pode ser uma solução para reduzir o número de acidentes nas rodovias (nas ruas a história é um pouco mais complexa). Agora, surgiu mais uma evidência disto: no estado americano de Utah, onde desde 2008 limite de velocidade nas rodovias interestaduais vem sendo aumentados, estudos chegaram à conclusão de que não só os acidentes diminuíram, mas a frequência de infrações por excesso de velocidade também.
O aumento de velocidade foi gradual e implementado em três etapas (2008, 2013 e 2014). Hoje em dia, de acordo com o Departamento de Transportes do estado, 36% das rodovias de Utah teve seu limite de velocidade aumentado de 75 mph (120 km/h) para 80 mph (130 km/h). Desde que as medidas de aumento de velocidade começaram, o estado realizou diversos estudos para medir os impactos do novo limite e, invariavelmente, chegou a resultados positivos.
, um estudo realizado em 2009 concluiu que o comportamento dos motoristas mudou para melhor, com uma redução de 20% de motoristas andando acima do novo limite de velocidade. Mas os dados mais importantes vieram em 2012, quando outro estudo mostrou que em todos os trechos onde o novo limite de velocidade passou a vigorar houve reduções de 11% a 20% no número de acidentes causados por motoristas em alta velocidade, variando de acordo com o trecho analisado.
Os resultados em Utah já estão levando outros estados americanos, como Wyoming e Idaho, a aplicar o mesmo aumento no limite de velocidade (de 75 para 80 mph) a partir de julho deste ano. Até agora, contudo, as mudanças não foram exatamente eficientes: Wyoming registrou um leve aumento nas fatalidades nas estradas enquanto Idaho aplicou, entre julho e novembro deste ano, 300 multas por excesso de velocidade a mais do que no mesmo período do ano passado.
O jornal Times News, que deu a notícia, observa: as multas a mais podem ter sido causadas por um aumento na fiscalização e não pelo aumento da quantidade de infrações. “Quem andar um pouco acima de 80 mph tem mais chance de levar uma multa do que quem estivesse a um pouco mais de 75 mph no ano passado”, diz a publicação.
Faz sentido. Além disso, os dados são inconclusivos — nos dois estados, a polícia diz que será preciso esperar pelo menos um ano para ter dados mais concretos. E a polícia de Idaho já declarou que “80 mph (130 km/h) é rápido o bastante”.
Como já comentamos aqui, toda rodovia tem uma velocidade operacional/natural, que é aquela que pelo menos 85% dos motoristas praticam quando não há nenhuma indicação de limites ou fiscalização visível, induzidos apenas pelas condições da pista e pelos elementos do ambiente viário. Quando os limites impostos são muito mais baixos do que a velocidade operacional, cria-se uma situação de risco por uma série de motivos, que vão desde motoristas que não obedecerão o limite (por quaisquer razões) e por consequência estarão muito mais rápido que os outros, ou por obrigar o motorista a policiar permanentemente seu velocímetro, tirando a atenção que precisa ser dispensada ao trânsito.
No Brasil, em 2014 quatro rodovias federais (as BR 158, 285, 290 e 472, no Rio Grande do Sul) anunciaram um aumento no limite de velocidade de 80 km/h para 100 km/h. Tudo para respeitar a velocidade operacional, visto que boa parte dos veículos já trafega nesta velocidade há muito tempo e as condições da via são boas. Nesse caso, uma velocidade muito baixa pode ser prejudicial e causar mais acidentes.