Todo fã de muscle cars sabe que a era de ouro para estes carros foram os anos 60. Imagine as ruas dos EUA cheias de cupês baratos, bonitos e equipados com motores V8 potentes e barulhentos. Paraíso, não é? E a concorrência entre as fabricantes era feroz, com as três grandes de Detroit – Ford, General Motors e Chrysler — disputando a tapa a preferência dos entusiastas. Uma das maiores armas para conseguir boas vendas eram as corridas de arrancada: o carro mais rápido no quarto-de-milha se tornava o mais procurado pelo público. Win on Sunday, sell on Monday.
Por isso, as fabricantes não poupavam esforços para que seus modelos fossem os mais velozes na dragstrip, investindo dinheiro na preparação dos motores e criando verdadeiros esquadrões de mecânicos e pilotos para vencer os campeonatos organizados pela NHRA, a National Hot Rod Association. A divisão da Ford tinha até um nome: Drag Council, ou “Conselho de Arrancada”. Sua missão? Derrotar os rivais na categoria A/FX, na qual competiam os carros mais estúpidos, no melhor sentido da palavra.
Para isto, a Ford entregava os carros para a Detroit Steel Tubing, companhia de Dearborn que fornecia matéria prima para a fabricante havia anos. Uma de suas primeiras criações foi o Ford Fairlane Thunderbolt, de 1964, que já mostramos aqui.
Naquele ano, porém, foi lançado o Mustang. A Ford havia apostado todas as fichas no novo modelo, que tinha a proposta de ser um esportivo barato, potente e de apelo jovem. Qualidades para isto ele já tinha, como sabemos muito bem hoje. Contudo, há 50 anos ele ainda era apenas uma promessa e, como tal, ainda precisava mostrar seu potencial nas pistas.
Por isso, em 1965 a Ford encomendou uma nova leva de carros para o Drag Council — desta vez, uma frota de dez Mustang. E, desta vez, as modificações para arrancada ficariam a cargo da Holman Moody, equipe que ficou famosa nos anos 50 por ser a responsável pelos carros que a Ford colocava para correr na Nascar.
Não há consenso a respeito da quantidade dos carros que foram produzidos — se foram 10 ou 11 —, mas sabe-se que apenas cinco deles sobreviveram até os dias atuais. Um deles foi leiloado hoje (6) pela Mecum Auctions (a mesma que leiloou recentemente um dos Toyota Supra usados no primeiro “Velozes e Furiosos”) em um evento na cidade de Seattle, no estado de Washington, EUA.
Notou algo diferente nele? Pois é: o entre-eixos foi encurtado em alguns centímetros para melhorar a transferência de peso na hora da arrancada e, consequentemente, ajudar na tração. Acredita-se que este seja o único carro a preservar esta característica — os demais tiveram a modificação revertida para adequar-se às regras da NHRA para 1966. De qualquer forma, esta não foi a única modificação no carro.
Para começar, o motor era o V8 427 SOHC “Cammer”, um big block de sete litros que, como já contamos aqui, foi criado especialmente para competir contra o Hemi 426 da Chrysler na Nascar e entregava algo entre 500 e 600 cv. Para acomodar o novo motor, as caixas de roda eram recortadas e o sistema de suspensão original era substituído por um feixe de molas semielípticas. Além disso, para-lamas, capô e portas eram de fibra de vidro, enquanto todos os vidros (com exceção do para-brisa) eram substituídos por policarbonato para reduzir peso. O interior (que era todo forrado em vinil preto) perdia o banco traseiro, mas surpreendentemente seu aspecto era, em boa parte, original — e parece até confortável, diga-se.
De acordo com a Mecum, o carro leiloado competiu em 1966 com o piloto Bob Hamilton ao volante. Em algum momento de sua história (acredita-se que em 1967), o carro teve os dois carburadores de corpo quádruplo substituídos por um sistema de injeção da Hilborn. Anos mais tarde, o Mustang passou por um trabalho de restauração que, de acordo com a Mecum, deixou o carro exatamente como era quando competiu, incluindo as rodas de magnésio originais calçadas com pneus de arrancada de época. O lote inclui até mesmo um certificado de autenticidade assinado pelo próprio Bob Hamilton e por Lee Holman, da H&M.
De acordo com o , o Mustang Long Gone apareceu à venda pela última vez em 2011, no eBay, custando US$ 765 mil (cerca de R$ 2,4 milhões em conversão direta). A Mecum estimava um valor de arremate entre US$ 500 mil e US$ 700 mil (algo entre R$ 1,5 milhão e R$ 2,2 milhões). , porém, que o carro não foi arrematado. Ou seja: se você tem R$ 2 milhões dando sopa, ainda há a chance de comprar um legítimo Mustang de arrancada dos anos 60.