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Car Culture

Bigfoot: a história da picape que inventou os caminhões-monstro

São grandes as chances de você já ter se referido àquelas picapes e SUVs com suspensão elevadíssima e pneus gigantes, capazes de destruir outros carros ao passar por cima deles sem dificuldade, como “Bigfoot” — ou ao menos ter ouvido alguém fazê-lo.

É normal, como BomBril virou sinônimo de palha de aço, Band-Aid de curativos adesivos e Xerox, de máquinas de fotocópia. Acontece que, como você já deve ter entendido a esta altura, existiu um Bigfoot original — uma picape customizada que deu origem a toda uma subcultura de caminhões-monstros. Esta é sua história.

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Seu nome era Bob Chandler, e ele já era um ávido entusiasta do off-road quando ainda era um empreiteiro em St. Louis, no Missouri, EUA. Ele tinha uma picape F-250 que usava no trabalho durante a semana, e em viagens com a família e trilhas fora-de-estrada nos fins de semana. Não era uma picape difícil de quebrar — na verdade, a série de picapes F da Ford tinha a fama de ser uma das mais robustas de sua época.

Em 1974, ano da picape de Bob, a F-250 já estava em sua sexta geração (fabricada entre 1972 e 1979) e era uma das mais vendidas nos Estados Unidos na época. A ampla variedade de motores, que iam de um seis-em-linha de 4,9 litros e 117 cv a um V8 460 (7,5 litros) e até 240 cv eram em parte responsáveis por seu sucesso — além da suspensão robusta, claro. A F-250 serviu a Bob muito bem até que… ele conseguiu quebrá-la.

Sendo uma boa picape, a F-250 merecia uma segunda chance e por isso Bob partiu em busca de peças para consertá-la. O problema: ele não as encontrou em lugar algum. A oferta de componentes off-road definitivamente não era ampla como hoje, tanto no aftermarket quando nas concessionárias, então Chandler decidiu abrir sua própria oficina especializada em 4×4, usando como base a experiência adquirida em anos de hobby. Ele mesmo consertaria a sua picape e, de quebra, passaria ganhar a vida com uma de suas maiores paixões.

A Midwest Four Wheel Drive, nome da oficina, preencheu um nicho importante no mercado e não demorou a ser um sucesso. Contudo, parte disto também se deve à própria F-250 de Bob, que passou a servir como veículo de demonstração para a qualidade da oficina.

Usar um veículo como modo de promover seus serviços não é novidade no mundo automotivo. Acontece que, para se destacar, Bob sabia que não iria bastar um visual bacana e um trabalho bem feito. Assim surgiu a ideia de adaptar eixos de jipes militares e pneus gigantes na F-250.

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Com o tempo Bob, sua esposa Marilyn e o amigo e sócio Jim Kramer desenvolveram novos acessórios e componentes de suspensão, quer eram testados na picape e a tornavam cada vez maior e mais equipada, até que, em 1979, Chandler fez sua primeira exibição com ela.

Foi também naquele ano que a picape começou a ser chamada de Bigfoot. O apelido era originalmente de seu dono, que era famoso por seu pé direito pesado ao volante da picape. Bob achou apropriado o apelido, obviamente por causa dos pneus gigantes, e batizou assim o Bigfoot.

Dois anos depois, em 1981, aconteceria aquilo que ajudou a definir uma apresentação moderna de caminhões-monstro: um fazendeiro local deu a ele permissão para colocar dois carros velhos em sua propriedade e destruí-los, só por diversão, e filmar tudo. O resultado foi exatamente este:

O vídeo ficou em exibição em sua oficina até que, um dia, um promotor de eventos da cidade vizinha de Columbia perguntou se ele não poderia repetir a manobra publicamente.

Levou um tempo para convencê-lo, pois Bob não queria passar nenhum tipo de “imagem destrutiva”, mas ele finalmente concordou e, previsivelmente, foi um sucesso. O carro passou a viajar pelo país para exibições, culminando em uma apresentação em um estádio na cidade de Pontiac, Michigan.

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Em 1983, o Bigfoot passou a ser patrocinado pela Ford  — e já fazia um ano que o Bigfoot 2 havia sido construído para ajudar a cumprir a demanda por aparições públicas do Bigfoot original. Começando em 1984, outras oficinas por todo o país começaram a construir suas próprias versões e organizar eventos com eles.

Entre as provas, existiam competições de reboque de tratores e caminhões, travessia na lama e, claro destruição de carros. As apresentações eram pagas, e logo o Bigfoot se tornou o foco do negócio de Chandler, que era um dos mais bem pagos donos de caminhões-monstro da cena.

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Os primeiros Bigfoot (assim como os outros caminhões-monstro) eram picapes de verdade, com chassi e carroceria de metal, suspensão especial e pneus gigantes — como o Bigfoot 5, de 1986, que tem pneus de três metros de altura e é reconhecido pelo Guinness como o mais alto, mais largo e mais pesado caminhão-monstro do planeta até hoje.

Mas esta era a velha escola. Atualmente, depois de anos de aperfeiçoamento, os caminhões-monstro apenas lembram modelos de produção no visual e nos motores.

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É parecido com a Nascar: há uma organização oficial, a Monster Truck Racing Association (que, não por acaso, foi fundada por Chandler em 1987), e nela competem caminhões-monstro feitos sobre (ou sob, em alguns casos…) estruturas tubulares que usam bolhas no formato das carrocerias dos modelos que representam. O atual Bigfoot, por exemplo, é baseado na Ford F-150 SVT Raptor.

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O mais bacana é que, mesmo separados por 40 anos, tanto o primeiro quanto o último Bigfoot ainda estão na ativa, ambos patrocinados por empresas grandes como a Summit Racing e a Lucas Oil. Não é para menos: a cena de entusiastas dos caminhões-monstro é gigantesca, com milhares de pessoas se reunindo em arenas para assistir às provas e apresentações.

Uma das mais importantes acontecerá nos dias 18 e 19 de abril durante o Atlanta Motorama, que acontece todos os anos no Atlanta Motorspeedway em Atlanta/Georgia, EUA. A razão é fácil de entender: pela primeira vez na história, todos os 21 Bigfoot originais construídos se reunirão sob o mesmo teto — a todas as partes da história dos caminhões-monstro, lado a lado, no mesmo lugar. Será um dia histórico para qualquer admirador dos caminhões-monstro.

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Obviamente, isto inclui o Bigfoot 20, que tem o diferencial de ser o primeiro caminhão-monstro totalmente elétrico do planeta. Movido por 36 baterias automotivas da Odyssey, o Bigfoot 20 tem um motor elétrico que gera o equivalente a 350 cv, e faz deste o caminhão-monstro mais silencioso do mundo — o que, na prática, significa que ele soa menos como um caminhão e mais como um robô gigante e destruidor, o que o torna ainda mais assustador.

Na verdade, é até um pouco mais: dá para ouvir muito melhor o som dos carros sendo esmagados…