Jack Brabham entrou para a história da Fórmula 1 ao se tornar o primeiro piloto a vencer o campeonato com sua própria equipe, ao volante de um carro que ele mesmo projetou e construiu, em 1966. Detalhe: aquele era seu terceiro título – ele já havia vencido em 1959 e 1960, e com sua última conquista ele tornou-se o primeiro piloto tricampeão da história.
Sir Jack Brabham morreu em 2014, aos 88 anos. De onde quer que esteja, temos certeza de que ele está orgulhoso de seu filho, David Brabham. E não somente porque David teve uma longa e produtiva carreira de trinta anos no automobilismo, incluindo a Fórmula 1, a American Le Mans Series e o WEC; mas também porque desde que se aposentou das pistas, em 2015, David Brabham se dedicou ao desenvolvimento de um novo superesportivo que tem tudo para honrar o nome da família: o Brabham BT62.
Seguindo a nomenclatura dos carros de Fórmula 1 da Brabham, o BT62 pretende competir com o alto escalão dos superesportivos especiais para a pista. Para isto ele conta com um V8 naturalmente aspirado desenvolvido in house e quantidades copiosas de fibra de carbono e Kevlar na estrutura. E mais algumas coisinhas, claro.
Revelado ontem (2) durante um evento em Londres, o Brabham BT62 não é baseado em nenhum outro carro (embora consigamos enxergar elementos de Ferrari, Lamborghini e McLaren em seu design) – é um projeto totalmente novo. Ele usa uma estrutura de fibra de carbono com gaiola integrada e Kevlar nas caixas de roda.
Não estamos falando de um carro conceito, e sim do primeiro exemplar da série de carros que serão fabricados em Adelaide, na Austrália. Assim, ficamos surpresos em ver o alto nível da execução do projeto. Não parece um kit car feito por uma companhia pequena. O acabamento, os detalhes aerodinâmicos e o visual do carro em geral mostram que não foram feitas concessões em nome da economia – apenas em nome do desempenho.
Em outras palavras: o carro tem tudo o que precisa para ser rápido e entregar performance que, para a Brabham, está no nível do McLaren Senna, da Ferrari 488 Pista e outros track toys. E dispensa tudo o que não precisa para isto.
O Brabham tem dois bocais de combustível para o tanque de 125 litros, como os carros de competição
O motor é um V8 de 5,4 litros (5.387 cm³) desenvolvido in-house, com comando duplo nos cabeçotes e 32 válvulas. Não há muito mais detalhes a respeito de sua origem ou suas características técnicas, mas os números são impressionantes para um carro sem indução forçada e sem tecnologia híbrida: 710 cv a 7.400 rpm e 68 kgfm de torque a 6.200 rpm. Com apenas 972 kg sem fluidos o Brabham BT62 tem a invejável relação peso/potência de 1,36 kg/cv. para se ter ideia, o Porsche 911 GT2 tem 2,1 kg/cv. O câmbio é sequencial de seis marchas, fornecido pela Holinger, atuado por aletas pneumáticas atrás do volante, que é removível. Nele concentram-se todos os botões para o motorista.
Gaiola de proteção exposta no interior. O banco do carona é opcional
Atrás do volante fica um painel digital com tela colorida de 12 polegadas sensível ao toque, que mostrará todas as informações necessárias, incluindo um data logger. Há uma tela monocromática no console central que servirá para controlar as funções mais mundanas, como setas, faróis, desembaçadores, ventilação e limpadores de para-brisa.
A suspensão do Brabham BT62 usa amortecedores inboard duplos da Ohlins e braços triangulares sobrepostos na dianteira e na traseira. Os freios são de carbono-cerâmica, com 380 mm de diâmetro na dianteira e 355 mm na traseira, sendo que as pinças são de seis pistões nos quatro cantos. Eles ficam abrigados sob rodas de 18×11 polegadas na dianteira e 18×13 polegadas na traseira, com pneus Michelin.
Suas medidas são compactas, bastante próximas da Ferrari 488 GTB ou do Audi R8: são 4.460 mm de comprimento, 1.950 mm de largura, 1.200 mm de altura e 2.695 mm de entre-eixos. O visual também não é exatamente original, mas é harmônico e agradável e vestindo muito bem seus elementos aerodinâmicos, que incluem um enorme spoiler dianteiro, entradas de ar generosas nas laterais, dutos de escoamento no capô dianteiro e, na traseira, asa e difusor gigantescos. Segundo a Brabham, o BT62 é capaz de gerar 1.200 kg de downforce em alta velocidade. Para se ter ideia, o McLaren Senna consegue gerar 1.000 kg.
A Brabham construirá 70 exemplares do BT62 para comemorar os 70 anos de história da família nas pistas, e começou a aceitar encomendas ontem. Cada um que comprar uma unidade poderá escolher entre 61 esquemas de pintura diferentes, homenageando carros de corrida do passado da Brabham. O primeiro carro mostrado homenageia o Brabham BT19 que venceu o Grande Prêmio da França em 1966.
Mais bacana do que isto: todos os compradores terão direito a um evento na pista onde os técnicos da Brabham os ensinarão a extrair todo o potencial do BT62.
Há, contudo, um objetivo maior em tudo isto: David Brabham espera que o BT62 seja o trampolim para que a equipe volte à elite do automobilismo. E seu primeiro objetivo é competir nas 24 Horas de Le Mans com uma versão de competição do supercarro. A categoria GTE está promissora para os próximos anos! Vamos ficar ligados!