Quando você espeta a mangueira do calibrador na válvula da roda do carro, você está preenchendo o pneu com uma mistura de nitrogênio, oxigênio, uma quantidade minúscula de gases nobres, um pouco de gás carbônico e até água em estado gasoso.
Se você prestou atenção nas aulas no ensino fundamental, provavelmente lembra que tudo isso é simplesmente a composição do ar atmosférico, que respiramos o tempo todo. E se você fez a lição de casa direitinho, também vai lembrar que cada elemento que compõe o ar tem suas próprias características físico-químicas.
É por isso que a pressão dos pneus do carro varia com a temperatura: ao ser aquecido o ar se expande, aumentando a pressão interna. Ao ser resfriado, o volume diminui, diminuindo também a pressão. Essa variação se deve principalmente à expansão e contração do oxigênio e do vapor de água. Estima-se que a pressão varia cerca de 1 psi a cada 5º C e, por esse motivo se recomenda calibrar os pneus ainda frios.
Em carros de passeio essa variação não afeta significativamente seu desempenho e dinâmica, porém em carros de corrida a estabilidade da pressão é fundamental no acerto e no desempenho dos pneus. Daí veio a ideia de usar um fluido mais estável para calibrar os pneus. Algo como o nitrogênio.
O nitrogênio é um gás inerte, ou seja, não reage naturalmente com outros elementos. Suas propensão à difusão é menor que a do oxigênio, por isso ele teoricamente “vazaria” mais lentamente que ar comprimido. Além disso, o nitrogênio sofre menos variação de volume quando aquecido ou resfriado.
Ao encher os pneus com nitrogênio as equipes notaram muito menos alterações de pressão, mesmo com a variação térmica causada pelo uso intenso na pista. O fato de se difundir mais lentamente pelos poros dos pneus também colaborou com essa estabilidade da pressão.
Como muitas soluções do automobilismo, a ideia de calibrar os pneus com nitrogênio logo chegou às ruas, porém com benefícios um pouco diferentes.
Como dissemos mais acima, a pequena variação da pressão causada pela expansão/contração do ar atmosférico não afeta significativamente o desempenho do carro de passeio, mas o uso do nitrogênio puro mantém a calibragem correta por mais tempo.
O principal benefício acontece a longo prazo – algo que não existe em pneus de corrida. O oxigênio contido no ar comprimido é o elemento responsável pela oxidação de materiais como borracha e ferro. O processo é agravado pelo contato com a umidade presente no ar. A oxidação do ferro é a combinação do ferro ao oxigênio, algo que chamamos de ferrugem e que ocasiona a corrosão — que, por sua vez, também pode danificar a válvula da roda ou as paredes dos pneus, ocasionando vazamentos.
Com o nitrogênio puro, tais problemas simplesmente não ocorrem.
Não é à toa que, em diversas categorias do automobilismo, como a Fórmula 1, os pneus costumam ser calibrados com nitrogênio ou ar desumidificado (a umidade presente no ar é condensada e drenada; muitos compressores de ar já vêm com sistemas integrados de desumidificação), que também reduz bastante o risco de oxidação. O nitrogênio também é utilizado em pneus de aviões.
Vale a pena usar em meu carro?
Na prática, o nitrogênio será responsável por uma pequena economia de combustível por manter a pressão correta por quase o dobro do tempo. Além disso, por prevenir a oxidação, o nitrogênio também ajuda a reduzir o desgaste dos pneus em longo prazo.
No entanto, não há nenhuma diferença perceptível no conforto ao rodar ou no desempenho em aceleração e frenagem. Em média, encher um pneu de carro com nitrogênio custa R$ 5 em oficinas e borracharias — ou seja, R$ 20 para os quatro pneus.