Foto: Canepa
Há alguns dias, você deve ter visto por aqui um Porsche 959 de mais de 770 cv feito pela Canepa Motorsports. De acordo com seu preparador, Bruce Canepa, o carro é tão rápido que consegue acompanhar um 918 Spyder. Foi então que a gente se deu conta de que, embora tenhamos citado a Canepa algumas vezes aqui no FlatOut, jamais dedicamos um post aos caras. Uma grande injustiça, que será resolvida agora!
Bruce Canepa pode estar exagerando um pouco quando diz que seu Porsche 959 Generation III (este foi o nome dado por ele) anda junto com um 918 Spyder, mas dá para entendê-lo: os Porsche estão em sua vida desde o fim da década de 1970, pelo menos, e sua relação com a marca é das melhores. Foi Canepa quem ajudou a fabricante a levar o 959 para os EUA nos anos 1980, realizando todas as modificações necessárias para adequá-lo às leis de emissões dos EUA, que eram mais severas na época.
E por que foi que a Porsche confiou este trabalho à Canepa? Simplesmente porque Bruce já tinha intimidade com a marca. Aliás, intimidade é pouco: em 1979, depois de competir na IMSA GTP Series, ele sentou ao volante de um Porsche 934/5 com sua própria equipe, a Canepa Motorsport, e foi o terceiro colocado nas 24 Horas de Daytona.
O 934/5 é omo uma mistura do Porsche 934, versão de competição do Porsche 911 Turbo 930, e do insano 935, o vencedor das 24 Horas de Le Mans de 1978. O motor era um flat-six de três litros e 550 cv, e o carro continua no museu da Canepa até hoje. Bruce jamais se desfaria dele.
Seis anos depois, em 1985, era inaugurada a Canepa, uma oficina de restauração, customização e preparação que hoje, se define como uma “organização automotiva multifacetada”. Além de continuar competindo em corrida e restaurando, customizando e preparando carros de rua, a Canepa também vende carros e tem até um museu onde são expostos os carros de Bruce. Incluindo aquele 959.
Bruce começou a se interessar por carros muito cedo. Aos 12 anos de idade, aprendeu a dirigir em um Ford 1929 de seu pai, que tinha uma rede de concessionárias e, naturalmente, alimentou a paixão do filho.
Paixão esta que, naturalmente, não se resume aos Porsche. A coleção da Canepa é uma das mais ricas e estonteantes que já vimos. E é claro que os esportivos de Stuttgart recebem grande destaque – como o Porsche 918 Spyder Weissach com pintura exclusiva na cor Continental Orange, que fazia parte do catálogo da Porsche na década de 1980 e foi aplicada ao carro especialmente para Bruce; ou o 917K 1969 com pintura Gulf Oil que foi meticulosament restaurado pela companhia.
Aliás, olha ele aqui, com o próprio Bruce ao volante:
Mas não é só isto: Bruce sabe reconhecer um bom carro – é só dar uma reparada em seu Fiat Abarth 1000 de competição, em seu par de McLaren P1 (um “comum” e um GTR), no Tyrrell P34 (sim, o carro de Fórmula 1 com seis rodas) ou na Ferrar 250LM que, em 1965, venceu as 24 Horas de Le Mans, tornando-se o último carro da Scuderia a fazê-lo.
No valor de US$ 70 milhões, ou R$ 226 milhões em conversão direta, ela é o carro mais caro do acervo da Canepa.
O complexo, que inclui showroom, as oficinas de restauração, depósitos e a área do museu, ocupa quase 70 mil metros quadrados e fica em Scotts Valley, na Califórnia. De vez em quando, o lugar até recebe encontros de clássicos — como o Canepa Cars & Coffee, que é realizado algumas vezes por ano e recebe centenas de entusiastas, que aproveitam para babar na coleção.
A venda de carros é só uma das atividades da companhia — e ela vai muito bem, diga-se. Há carros que trocam de mãos por mais de US$ 15 milhões (R$ 42 milhões, em conversão direta) e, em um bom mês, a Canepa comercializa algo entre dez e doze carros.
Logo ao lado do showroom e dos escritórios, fica oficina. Todos os carros passam por lá, a fim de serem preparados para a venda. A maioria deles já é adquirida pela Canepa em bom estado e passa por uma restauração básica — retoques na pintura, acertos no acabamento, revisão mecânica, etc. No entanto, muitos deles já chegam impecáveis.
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Nesse caso, a Canepa realiza o que chama de preservation restoration, ou “restauração de preservação”. Poucos rodados, originais e extremamente conservados, eles são completamente desmontados, peça por peça. Cada componente é avaliado e qualquer troca ou reparo necessário é realizado. Depois, todas as peças são higienizadas e o carro é montado de novo. A diferença que isto faz é gigantesca, e os carros ficam parecendo novos.
Este 911 jamais foi restaurado, dá para acreditar?
De acordo com John Ficarra, diretor de marketing da Canepa, algo entre 25% e 30% dos carros que passam pelas mãos da Canepa são Porsche. Além da questão do marketing — o mercado do 911 está muito aquecido, de acordo com Ficarra — há toda a ligação de Bruce Canepa com a marca. Ele é um dos poucos caras no mundo que estão habilitados para dar a partida no Porsche 917K que venceu as 24 horas de Le Mans em 1971. Ele já pilotou em Le Mans com um Porsche. Ele transformou um dos supercarros mais icônicos e rápidos do planeta em algo ainda mais impressionante.
Mesmo que os Porsche não fossem lucrativos, Bruce Canepa provavelmente ainda passaria a vida lidando com eles.