Em 6 de fevereiro de 1952, a jovem princesa britânica Elizabeth Alexandra Mary, então com 25 anos, estava em uma viagem pelo Quênia, na época um domínio do Reino Unido na África, quando recebeu a notícia de que seu pai, o rei George VI, havia morrido e que ela, a partir daquele momento, deixava de ser uma princesa real para se tornar a Rainha Elizabeth II. carros da rainha elizabeth
Ser rainha não estava em seus planos; seu pai era apenas o segundo na linha sucessória do trono; seu tio Edward era o herdeiro aparente do trono britânico, mas preferiu ficar com outra coroa e, por isso, abdicou depois de pouco mais de 11 meses — o que fez de seu reinado o mais curto da história do Reino Unido.
Com a abdicação do Rei Edward VIII, a vida da pequena Elizabeth, então com 10 anos de idade, mudou para sempre. Seu pai foi coroado o novo rei e ela, a partir daquele momento, era herdeira presumida do trono britânico. A partir daquele momento ela passou a ser preparada pelo Rei George VI para assumir seu lugar, o que aconteceria apenas 15 anos mais tarde.
Antes mesmo de ser coroada, Elizabeth fez uma promessa ousada. Em seu discurso de aniversário de 21 anos, ela veio a público dizer:
Veja, não estamos falando de uma garota comum fazendo uma promessa no jardim com as amigas, mas de uma mulher de 21 anos, na condição de futura chefe da nação, comprometendo-se publicamente a jamais se omitir de suas obrigações — o que diz muito sobre sua situação atual: aos 96 anos ela sequer considera a possibilidade de abdicar em favor de seu filho. Não precisa ser dito, mas todos sabemos que só a morte irá tirá-la do cargo.
Essa declaração, contudo, já podia ser observada na prática alguns anos antes, durante o momento mais sombrio e dramático da história recente do Reino Unido, a Segunda Guerra Mundial. Foi ali que a relação da então princesa Elizabeth com os automóveis se tornou pública, e não por mero interesse pessoal, mas por seu senso de dever.
Durante a Segunda Guerra, o palácio de Buckingham, a sede do governo britânico, foi severamente bombardeado pelas forças inimigas — foram nove ataques no total, um deles atingindo uma ala na qual estava o casal real. A família se recusou a deixar Londres e ignorou as recomendações de que as princesas fossem refugiadas no Canadá.
Em vez disso, ela se deslocou para o Castelo de Windsor, a alguns quilômetros de Londres e permaneceu ativa durante a Guerra pois achava importante estar presente como exemplo de força e moral aos combatentes e ao público. Foi daí que a princesa Elizabeth acabou ingressando no serviço militar.
Ao atingir a maioridade, em 1943, quando completou 17 anos, ela foi autorizada por seu pai, o rei, a se alistar no Serviço Auxiliar Territorial, uma divisão que, como explica seu nome, atuava dentro do território britânico com atividades auxiliares ao esforço de guerra.
Ali ela se tornou a primeira mulher da família real a assumir um posto nas forças armadas, muito por como parte de seus deveres reais, pois as mulheres solteiras com menos de 30 anos eram encorajadas pelo governo a fazer o mesmo — juntar-se ao serviço militar ou trabalhar em fábricas que produziam armamento.
Em 1945, depois de quase dois anos servindo, ela foi deslocada para uma base próxima do castelo de Windsor, onde, por acaso, era feito o treinamento de motoristas e mecânicos da frota de caminhões do exército real.
Ali, a princesa recebeu treinamento formal como motorista de caminhão e mecânica de motores diesel. Seu tempo neste serviço foi curto, afinal, a Segunda Guerra acabou em setembro daquele ano. Ao que tudo indica, foi ali que começou seu gosto pela direção.
Nos EUA, um presidente é obrigado a deixar de dirigir permanentemente como parte do protocolo de segurança criado pelo serviço de inteligência nacional. Nem mesmo após deixar a presidência eles são autorizados a dirigir em vias públicas. George W. Bush, quando gravou um programa com Jay Leno, teve de dirigir dentro de sua propriedade rural, por causa desta regra de segurança. No Reino Unido, contudo, a história é bem diferente.
Os hábitos automobilísticos da Rainha Elizabeth II são muito conhecidos, pois a monarca opta por dirigir seus próprios carros sempre que pode. Ela sempre foi fotografada pela imprensa e retratada em filmes, séries e documentários dirigindo seus carros. Há até uma cena famosa no filme “A Rainha” no qual ela diagnostica um problema mecânico em seu Land Rover — uma cena fictícia, mas que remete ao treinamento que ela recebeu na Segunda Guerra.
Um fato interessante é que . Ela é dispensada dessa formalidade simplesmente porque isso não faz sentido: como ela é a autoridade máxima do Reino Unido e documentos oficiais são emitidos em nome de suas respectivas instituições, ela é também a autoridade máxima do trânsito do Reino Unido. Portanto, ter um documento de habilitação seria como escrever um documento autorizando a si mesma a fazer alguma coisa.
Quando a Rainha Elizabeth II mostrou a um rei machista que mulheres mandam bem ao volante
Pela mesma razão ela não precisa ter um passaporte — se uma nação amiga a reconhece como chefe de estado, ela não precisa de um documento para comprovar isso. E também pelo mesmo motivo os carros oficiais da coroa britânica não precisam de placas de registro ou licenciamento. Os carros particulares da família real, contudo, aqueles que são usados exclusivamente pelos membros da família real em tarefas pessoais e momentos de lazer, são registrados como qualquer outro veículo britânico.
É por isso que as Bentley State Limousines usadas em cerimônias e afins não têm placas. E é por isso que seus Land Rover têm. Por falar neles, dizem que eles são os carros favoritos da rainha — os Land Rover clássicos, que foram rebatizados mais tarde como Defender. Mas ao longo de sua vida ela teve vários outros modelos, sempre de fabricantes britânicos, claro.
A “coleção” de carros da Rainha Elizabeth II
O primeiro carro da rainha veio quando ela ainda era princesa: um Bentley DB18 dado de presente por seu pai no aniversário de 18 anos. Foi neste carro que ela aprendeu a dirigir, meses antes daquele treinamento militar.
O carro era um sedã equipado com um seis-em-linha OHV de 2,7 litros, alimentado por um carburador SU, que produzia 70 cv e chegava aos 122 km/h de velocidade máxima. A transmissão era de quatro marchas, com o sistema de pré-seleção, semelhante ao dos Cord, no qual o motorista seleciona a marcha manualmente, mas a troca é feita de forma automatizada.
Este foi o carro pessoal da princesa Elizabeth até sua coroação. Já como rainha, ela passou a usar um Daimler Empress Mark II novinho, com motor de três litros e carroceria Hooper. O carro era o sucessor do DB18 que ela ganhara em 1944, mas agora com motor maior e mais potente.
Um indício de que a Rainha Elizabeth tem mesmo um apreço especial pelos carros está justamente neste Empress: quando trocou o DB18 por ele, ela transferiu a placa JGY 280 do carro antigo para o carro novo. E, em 1959, quando vendeu o Empress, ela manteve a placa para si e a reutilizou até os anos 1970, quando o sistema de placas foi modificado e ela acabou ficando permanentemente em seu Rover P5B 1971 que está no Heritage Motor Museum.
Com a exceção de algumas peruas Ford e Vauxhall que ela dirigiu nos anos 1960 e início dos anos 1970, todos o seus carros pessoais foram da Rover, Jaguar/Daimler, Bentley ou Land Rover.
Como tem sido mais discreta nos últimos anos, em parte pela pandemia, em parte pela perda do marido depois de quase 75 anos de casamento, não se sabe se ela ainda está dirigindo — relatos dizem que ela parou em 2019. Sua aparição mais recente a bordo de um carro foi em abril deste ano, quando foi fotografada a bordo de um de seus Land Rover no dia de seu 96º aniversário. Desta vez, contudo, ela estava no banco do passageiro, com um agente dirigindo o carro.
Nos últimos anos a Rainha Elizabeth II usou com frequência um Range Rover Vogue 3.6 TDV8 SE 2009 verde escuro, com câmbio automático e interior bege — que aparentemente é um de seus carros favoritos, pois foi nele que ela foi mais fotografada recentemente.
Além dele, ela também teve um Jaguar X-Type Estate 3.0 V6 Sovereign (nome apropriado para o carro de uma rainha; sovereign é “soberano” em inglês) ano 2008, igualmente verde com interior bege, e um Jaguar XJ Super V8 4.2 Supercharged LWB ano 2005, com a mesma combinação de cores. Aliás, aquele negócio das placas ela manteve também em suas peruas — sua Jaguar X-Type usa a mesma placa que sua antiga Vauxhall Cresta Estate.
Em sua foto mais recente, o Range Rover é um exemplar ano 2016, da versão Autobiography com o motor SDV8 de 4,4 litros, também com entre-eixos longo. Além deste, ela ainda tem um Range Rover híbrido 2021 — que, provavelmente, não dirige.
Além dos Range Rover, em 2017 a Rainha Elizabeth recebeu o primeiro exemplar de produção do Bentley Bentayga, um presente da marca à monarca — e uma bela ação publicitária espontânea para o lançamento do primeiro SUV Bentley.
Agora… tudo indica que o mais querido dos carros da Rainha Elizabeth sejam mesmo os Land Rover Defender. Estima-se que ela tenha tido mais de 30 exemplares desde os anos 1950 — e alguns deles até serviram à Coroa como veículos oficiais no Reino Unido e nos territórios britânicos além-mar.
Em muitos casos, o gosto pelos carros não vem da direção em si, mas das situações que eles proporcionam. O Defender é um carro bruto como os caminhões e picapes com os quais a Rainha Elizabeth lidou quando ainda nem era a rainha.
Também é o carro que ela sempre usou em seus momentos de lazer na Escócia, quando reunia o marido, os quatro filhos e seus corgies para ser uma família comum e assumia o papel mais mundano de ser somente mãe e esposa.
Talvez fosse isso. Um momento em que ela certamente tirava uma folga da dura promessa que fez aos 21 anos, e que manteve até hoje, 8 de setembro de 2022, depois de sete décadas — e sempre ao volante de um carro.
Esta matéria é uma amostra do nosso conteúdo exclusivo, que foi publicada aberta em homenagem à rainha dos britânicos, Elizabeth II.
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