Dizem que a moda é cíclica, e que se repete a cada 20 anos. Com isto, em 2016, estaríamos estilísticamente, revisitando o auge da década de 1990. E o que isto tem a ver com carros?
Ora, é simples. É natural que, quando a moda assuma alguma tendência, outros aspectos culturais a acompanhem. Faz parte do ser humano. Assim, não estamos apenas vestindo jeans e flanela. Também estamos ouvindo Nirvana e Guns n’ Roses, jogando games de 16 e 32 bits, assistindo desenhos da infância no Youtube (ou nas madrugadas do Cartoon Network) e no caso dos entusiastas, idolatrando como nunca os automóveis da década de 1990.
O fenômeno fica ainda mais evidente nas redes sociais, porque quem está na internet é justamente quem cresceu na década de 1990 e, não raro, passa o dia no Facebook ou no Twitter exalando nostalgia.
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É bem provável que você tenha gasto bons minutos assistindo a vídeos da Best Motoring International, procurando fotos de carros fabricados há vinte e poucos anos e vasculhando sites de classificados atrás de algum carro novo demais para ser antigo e velho demais para ser moderno. Aliás, você notou como eles têm ficado cada vez mais caros?
Se, em 2010, você começou a juntar dinheiro para comprar um Escort XR3 ou Kadett GSi, por exemplo, e estava bem perto de ter o suficiente, de repente percebeu que não estava mais tão perto assim. Até pouco tempo atrás, um exemplar bem cuidado podia ser encontrado por coisa de R$ 12 mil. Hoje em dia, pode se preparar para desembolsar de R$ 20 mil a R$ 25 mil. E tenha certeza: os preços vão continuar aumentando.
O mesmo acontece com um dos carros mais simbólicos da década de 1990: o Chevrolet Omega, especialmente na versão CD da primeira leva, com motor europeu de três litros.
A chegada do Omega ao mercado nacional, em 1992, foi bastante comemorada. Isto porque a Chevrolet, com o Opala, sustentava desde a década de 1970 o reinado entre os sedãs grandes. No entanto, ao longo da década de 1980, o ícone foi ficando para trás. Claro, o Opala foi lançado em 1968, e não podemos deixar de admirar sua longevidade.
Até mesmo o Monza, menor e mais moderno, porém de um segmento inferior, estava tomando seu espaço – aliás, o Monza foi o carro mais vendido do Brasil em 1985 e 1986. Só que ele também já estava ultrapassado quando os anos 1990 começaram. Era preciso fazer alguma coisa.
Por “alguma coisa”, entenda-se pegar um belo sedã da Opel e trazê-lo para cá. Nasceu, então o Omega. Ele tinha um moderno seis-em-linha de três litros e 165 cv vindo da Alemanha, desenho muito mais moderno que o do Opala, suspensão independente na traseira e construção em monobloco que formava uma célula de sobrevivência, protegendo seus ocupantes. O acabamento do interior era impecável, os itens de conforto eram abundantes e o carro ainda era capaz de chegar aos 100 km/h em 9,5 segundos, com máxima de 210 km/h.
Apesar de tudo, o Omega já estava na segunda metade de sua vida quando veio para o Brasil. Na Europa, ele havia sido lançado em 1986 e passado por uma reestilização. Em 1994, quando o Omega ainda estava curtindo seu reinado por aqui, o Velho Mundo ganhou a segunda geração do modelo — que só começou a ser importada para o Brasil cinco anos mais tarde.
Mas voltando à primeira geração, o Omega foi o responsável por colocar a Chevrolet de volta na frente entre os sedãs. Foi um verdadeiro sucesso de vendas e, ao longo dos anos, conquistou uma base grande e leal de fãs, que até hoje o consideram o melhor carro já fabricado no Brasil. Tanto que, a exemplo de outros ícones noventistas, vem acumulando preço nos últimos anos. Um bom Omega CD 3.0 custa, hoje, pelo menos R$ 25 mil.
E se você acha que isto só acontece no Brasil, saiba que não é o caso. Temos uma aposta entre os estrangeiros: o Honda NSX.
Lançado em 1990, o NSX causou uma excelente impressão ao aliar design e desempenho próximos aos dos supercarros, com praticidade e confiabilidade dos automóveis mais comuns da Honda, como o Civic e o Accord.
Na década de 1990, o NSX utilizava um V6 de três litros e 274 cv, montado em posição central-traseira (mas deixando espaço para um porta-malas!), acoplado a uma caixa manual de cinco marchas ou automática de quatro marchas. Era um motor robusto, confiável e de manutenção descomplicada, e ainda era capaz de levar o esportivo de 0 a 100 km/h em menos de seis segundos – desmpenho comparável às Ferrari de entrada da época, como a 348.
O NSX foi atualizado e ganhou um motor de 3,2 litros em 2002 – três anos antes de ser descontinuado. Sendo um carro relativamente decente, ele ainda não “pegou preço”. Você não vai vê-lo em um leilão da Bonhams, por exemplo. Mas isto é questão de tempo.
O que a gente quer saber, indo direto ao ponto, é o seguinte: tal qual o Omega e, futuramente, o NSX, queremos saber: que carros são verdadeiros ícones noventistas e estão se tornando (ou vão se tornar em breve) itens de coleção?