epifania um momento de realizaçao subita de imediato entendimento e compreensao a maioria das pessoas que usa esta palavra a coloca em um contexto religioso ou filosofico uma experiencia religiosa ou de profunda compreensao de algum dilema etico importante gente que usa ela normalmente e literalmente profunda e estudiosa daqueles que ao tentar ver o fundo da piscina definitivamente nao se distraem com o reflexo da propria cara na superficie mas correndo o risco de soar pedante epifania foi o que senti naquela manha de junho de 2018 ao tocar para araras sozinho no banco do motorista de um c4 lounge novinho como alguem pode ter uma epifania ao volante de um seda automatico qualquer indo a algum lugar mais qualquer ainda explico voltava de uma viagem com a familia de 3000km ida e volta e esta viagem tinha sido feita em um chevrolet um cruze sport6 turbo tambem novinho numa bonita cor furta cor que ia do cinza escuro azulado ao preto dependendo da luz que para quem fala cruze e conhecida pelo nome de azul petroleo para quem nao e fluente nessa lingua mais rara que esperanto e quase tao morta quanto ele outra liçao pedante em linguas obscuras sport6 em cruze significa hatchback se o cruze for o de segunda geraçao como aquele significa tambem sem porta malas mas divago; o fato e que minha epifania mequetrefe do dia dizia sim respeito a esses dois carros o que deve me enfurnar mais ainda na inutilidade disso tudo ninguem liga mais para sedas e hatches medios esses carros de velho do passado remoto todo mundo quer um suv o c4 lounge nao existe mais zero km substituido pelo cactus um suv aspas propositais o cruze ainda existe mas nao se sabe o motivo; e absolutamente a prova de vendas mas mesmo assim sao importantes para este momento de iluminaçao pessoal por causa das marcas que levam em sua frente basicamente sejam os caminhos que os criaram mais convolutos e estranhos que sejam; ainda assim falamos de um chevrolet e um citroen ora qualquer um que conhece um pouco de automoveis vai lhe dizer que essas duas marcas nao podiam ser mais diferentes separadas em origem geografia ambiçoes imagem e raison d etre deviam ser incomparaveis como cachorro quente e um prato de foie gras duas coisas que estao numa mesma categoria generalista comida no caso da analogia aqui mas nao deviam e compara los nao era minha intençao ao sair de casa naquele dia; era tao somente chegar la e so o c4 era um mero meio de transporte mas viagens solitarias sendo o que sao logo a mente viaja e se perde em pensamentos sobre a montaria feito um renato teixeira sem o cheiro de curral e o que era inescapavel inegavel obvio absolutamente impossivel de deixar de perceber ali era tambem um pecado dificil de articular em palavras uma heresia mas minha obrigaçao profissional e indole ta bom ninguem e perfeito me compele a ir adiante e dizer o que percebi naquele dia ensolarado ali bem perto de sta barbara do oeste mas ainda nao em limeira em pleno limbo da terra de ninguem o c4 e o cruze eram carros identicos na perspectiva da cadeira de motorista blasfemia como um chevrolet pode ser igual a um citroen pois e garanto que fiquei tao estupefato quanto voces foi o exato momento em que percebi que em algum lugar do passado ao inves de cada um de nos tomarmos nossos caminhos diferentes para chegar a um mesmo lugar todo mundo pegou a autoestrada de quatro pistas pensando ser ela a mais segura e com menos risco; ficou congestionada a ponto de nao se mover mais todo mundo parado junto sim claro que nao sao carros exatamente iguais me poupem ne falo de como pareciam detras do volante andando mesmo barulho de 4 cilindros em linha turbo moderno mesmo torque alto em faixas de rotaçoes parecidas mesmo cambio auto de seis marchas com comportamento parecido mesmo comportamento no limite mesmo nivel de aderencia se fosse possivel dirigir vendado apenas o assento mais gordo no meio e a diferente pega do volante do citroen denunciaria diferença identicos a mesmissima coisa incrivel inacreditavel um chevrolet e um citroen exatamente iguais detras do volante como e chatos tambem dois picoles de chuchu com molho de nada e temperados com essencia destilada de vento carros muito bons objetivamente claro potentes economicos estaveis relativamente confortaveis mas clinicamente esterilizados de qualquer sensaçao que possa de alguma forma elevar os batimentos cardiacos de uma pessoa normal nao ha motivo para chorar sua morte aqui apenas em numeros melhores de desempenho e economia de combustivel os suvs que os substituem sao piores e quem liga para isso carros assim sempre existiram sim e devem continuar a existir existem dias que so se deseja uma capsula de isolamento sensorial que nos leve a algum lugar com conforto velocidade economia e liberdade e para isso sao realmente perfeitos nao e este o problema aqui voces certamente entenderam mas talvez o problema seja localizado apenas dessas duas marcas hoje em clara decadencia entao nem que seja para expurgar esses sentimentos ruins vamos lembrar hoje o ponto da historia onde esses dois estiveram mais longe; o ano em que lançaram os carros que sao seus maiores simbolos os carros pelos quais serao lembrados com maior carinho quando como tudo na vida finalmente acabarem e se tornarem apenas uma vaga lembrança em um livro empoeirado na estante o ano de 1955 onde tanto citroen quanto chevrolet se tornaram o melhor que poderiam ser e de formas completamente diferentes claro o chevrolet 1955 edward nicholas ed cole e o principal personagem aqui provavelmente a segunda pessoa mais importante na historia da gm cole era o mais inovador e independente engenheiro a jamais liderar o gigante americano se tornando presidente em 1967 sua carreira realmente começa quando lidera na cadillac a criaçao do primeiro v8 moderno do pos guerra lançado em 1949 esse v8 era o desenho basico que seria copiado por decadas por toda industria americana um comando no vale do v acionado por corrente varetas e balancins operando valvulas paralelas nos cabeçotes camara de combustao em cunha wedge alta taxa de compressao seu v8 era compacto potente e economico como nunca antes e iniciou uma mudança total na industria americana tambem mudou sua carreira se torna engenheiro chefe da chevrolet em 1952 e na chevrolet que realmente brilha primeiro contrata o russo zora arkus duntov para empurrar sua agenda de inovaçao e alta performance na companhia depois começa a projetar um novo tipode chevrolet que mudaria a imagem da marca para sempre isso porque ali a imagem da marca era bem diferente se voce fosse jovem e interessado em alta performance como todo jovem entao voce gostava dos ford e de v8 uma industria de alta performance nasceu e cresceu em volta do v8 ford e todo jovem sabia que era aonde devia ir ja os chevrolet eram carro comportados para pais de familia seu seis em linha era comportado e invisivel; economia e confiabilidade eram seus argumentos de venda cole e zora iriam mudar isso profundamente com no ano/modelo 1955 o chevrolet 1955 era algo totalmente diferente mais largo baixo e comprido e com um estilo totalmente novo e rapido o novo v8 da marca estreia ali o motor que ficaria mundialmente famoso como o chevrolet small block v8 realizado usando se novas tecnicas de fundiçao era um motor tao a frente de seu tempo que sobreviveria ate depois do ano 2000 em serie e e ate hoje fabricado para venda para reposiçao e competiçoes e ainda hoje o motor mais vendido da historia bem como o que mais venceu corridas uma obra imortal de engenharia ate hoje em uso e amada como poucos seu maior segredo e o tamanho e peso reduzidos nao pesava mais que o seis cilindros que substituiria mas era maior em deslocamento mais eficiente e potente os cabeçotes eram nao somente pequenos e bem desenhados; contavam com um novo tipo de balancim estampado balanceado um parafuso fulcro o trem de valvulas era extremamente leve simples e ainda assim barato a venda de peças de preparaçao em concessionarias e as vitorias em pista com zora e os corvette rapidamente fez o chevrolet substituir os ford no coraçao dos jovens americanos e seria o trampolim definitivo para cole; em 1956 ja era presidente da chevrolet a caminho da cadeira maxima da companhia em 1967 o chevrolet 1955 era o simbolo do carro americano tradicional em mecanica feito para ser seguro e tranquilo nas estradas e ruas espaçosas de seu pais com desempenho e conforto superior o tamanho o desenho externo e interno e a potencia e acessoriamento do carro americano o faziam os mais desejados do mundo o citroen ds se cole e o protagonista da chevrolet em 1955 na citroen ele era outro engenheiro ainda mais propenso a revoluçoes andre lefebvre engenheiro aeronautico que se formara em 1914 na prestigiosa ecole superieure de l’aeronautique et de construction mecanique no boemio bairro de montmartre começou a projetar carros na fabrica de seu mentor o indefectivelmente frances gabriel voisin gabriel voisin e um famoso pioneiro da aviaçao tanto por sua incrivel capacidade tecnica quanto por sua conhecida personalidade excentrica era tambem extremamente orgulhoso de seus feitos e sua capacidade intelectual e um frances de estirpe de uma epoca muito diferente adorava almoços longos e bem feitos seguido de uma boa soneca e mantinha amantes e affairs para todo lado que ia era tambem direto franco e sem papas na lingua uma caracteristica que lhe presenteou amigos fieis e inimigos vorazes em igual quantidade quando gabriel começou a fazer automoveis andre seguiu com ele e dessa relaçao quase paternal surgiu uma das mais frutiferas parcerias da historia do automovel lefebvre e voisin desenvolveriam teorias e estudariam o automovel profundamente num tempo em que pouco existia de teoria e pratica disponivel e ao faze lo criariam um legado de excelencia sem precedentes legado este que permaneceria vivo anos apos a morte de ambos mas e na empresa de outro andre o citroen que lefebvre se mostraria um dos maiores engenheiros da historia andre citroen era otimista por natureza e acreditava na filosofia de inovaçao como caminho para lucratividade criar um novo veiculo que usando todas as inovaçoes disponiveis na epoca seria tao avançado que pudesse ser vendido praticamente inalterado por anos a fio pelo menos dez e usando as novas tecnicas de produçao em massa com estampos gigantes e maquinario pesado fosse tambem extremamente barato de produzir o carro que esses dois andres criariam juntos o traction avant e um dos primeiros carros modernos popularizando o monobloco estampado e a traçao dianteira de uma so vez mas a ultima e maior aposta de andre citroen seria vitoriosa no fim so nao para ele ao criar o novo carro em um ambiente de vendas em queda contraiu dividas cada vez maiores ate ser incapaz de paga las pouco depois do lançamento a empresa acaba nas maos do maior credor a michelin e andre citroen sem duvida por causa do stress vem a falecer de cancer no estomago nao muito depois em julho de 1935 mas a citroen e lefebvre nao podiam encontrar dono mais benevolente que a michelin tambem dedicada a inovaçao a empresa deu carta branca a seu corpo tecnico que nao decepcionou o 2cv de 1948 e finalmente o ds de 1955 mostravam ao mundo uma empresa que nao parecia errar nunca o ds era inovador de uma forma dificil de explicar em poucas linhas deixou o mundo de queixo caido e ate hoje parece algo inovador tirando um detalhe ou outro o desenho moderno de flaminio bertoni era incrivelmente avançado frente a seus contemporaneos uma nave espacial em meio aos rabos de peixe americanos a bitola traseira era menor que a dianteira algo que lefebvre usara em voisins de competiçao nos anos 1920 e que julgava ideal para traçao dianteira a suspensao tinha raio de rolagem zero velha tradiçao sua desde a voisin tambem a transmissao era agora semiautomatica mas a maior inovaçao veio no sistema de mola amortecedor simplesmente porque nao havia mola nem muito menos amortecedor em seu lugar fluido hidraulico em alta pressao controlado por esferas de nitrogenio esse circuito de alta pressao tambem dava assistencia aos freios e a direçao o pedal do freio era um cogumelo de borracha preta que respondia a pressao e nao ao movimento maluco psicodelico revolucionario profundamente diferente mostrava uma independencia de pensamento principalmente totalmente ausente do mundo de hoje como previsto por andre citroen o ds e um imenso sucesso por muito tempo so deixa de ser produzido em 1975 vinte anos depois de lançado o ultimo e maior projeto de lefebvre o chevrolet 1955 de cole era apenas evoluçao; um carro contemporaneo com um motor simples mas genial o citroen ds era o contrario um motor qualquer empurrando uma nave espacial terrestre algo tao fora da realidade tao diferente de todo o resto que nunca mais foi tentado de forma tao completa mas quase que essas duas escolas acabam juntas muito antes de convergirem ao chuchu com a dupla adinamica c4/cruze lefebvre na chevrolet mas o mais incrivel dessa historia toda e algo que acontece pouco depois do lançamento do ds uma anedota uma pequena passagem da historia que quase uniu essas duas empresas e personalidades tao diferentes em 1956 entao no auge de sua carreira lefebvre recebeu dois jornalistas americanos para uma entrevista em sua casa em paris o mais respeitado engenheiro automobilistico da frança de entao nosso amigo tinha consideravel orgulho proprio e uma lealdade ferrenha para com a empresa que o empregava ha 24 anos e que lhe permitiu realizar tantas coisas sabia que em outros lugares nunca teria a liberdade de fazer tanto levava uma vida confortavel e claro mas estava longe de ser rico a um dado momento um dos jornalistas revela o real motivo da visita diz que foi autorizado pela diretoria da general motors a convida lo a um cargo de diretor de engenharia da companhia o salario o quanto ele quisesse dinheiro nao era problema o general tornaria lefebvre um homem rico bastando que ele dissesse o quao rico ele desejava ser a general motors era a maior empresa do mundo entao e queria lefebvre nao ha como nao imaginar um dedo de cole aqui entao presidente da chevrolet e um engenheiro que sabia inovar e reconhecer talentos uteis a mente viaja em imaginar o talento para motores avançados de cole e cia unido aos outros inumeros talentos de andre lefebvre mas nunca se tornaria verdade claro; era uma outra epoca onde dinheiro e gloria ainda nao eram os unicos objetivos possiveis para um humano indignado como so um frances pode ficar lefebvre se levantou olhou bem na cara dos jornalistas que lhe ofereciam uma montanha de dinheiro e disse diga a seus patroes que eu sou uma pessoa e nao uma mercadoria eu nao estou a venda eles nao podem me comprar obrigado pela visita e passem bem devia ter pego a grana andre do jeito que vejo ia acabar tudo no mesmo lugar de qualquer forma ou nao
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