Um grande filme não precisa de um grande elenco, um super orçamento ou um enredo muito elaborado para se tornar um grande filme. Ele só precisa ser executado do jeito certo — e é por isso que diretores são mais importantes que os atores.
Veja “Encurralado” (Duel, 1971), por exemplo: a história se resume a um caminhoneiro psicopata que resolve perseguir um homem comum a caminho do trabalho. É tudo o que acontece nos pouco menos de 90 minutos de tela, sem nenhuma evolução, sem nenhum plot twist. Foi a direção de Steven Spielberg que transformou esta história em um dos maiores clássicos do cinema, a ponto de ser comparado a Alfred Hitchcock com apenas 25 anos de idade.
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A história de Bullitt é igualmente simples: um tenente da polícia é incumbido de proteger a testemunha chave de uma investigação contra a máfia, a testemunha é assassinada e agora ele precisa descobrir quem matou o cara. Só isso. Não há nenhuma complexidade na trama para confundir o espectador. É apenas um policial correndo atrás dos bandidos.
Só que o policial é Steve McQueen, um daqueles atores cuja presença supera qualquer atuação. E sabendo disso, o diretor conduziu o filme, deixando Steve McQueen ser uma espécie de personagem de si mesmo. Depois, ele incluiu dois elementos inovadores na época: a violência gráfica e uma perseguição igualmente realista.
A primeira acontece em menos de dez segundos, na cena em que o assassino invade o hotel para eliminar a testemunha. Primeiro um tiro na perna do policial, depois um tiro no peito da testemunha. A câmera dá enfoque nos ferimentos e o diretor não se preocupa por ir além da sugestão e mostrar os ferimentos como objeto principal da cena.
Então temos a perseguição: 11 minutos. Onze. Com os carros trocando tinta, perdendo calotas, saltando e aterrissando pelas ladeiras de San Francisco, com uma tensão crescente como naqueles 89 minutos de Encurralado.
Bullitt seria um grande filme policial se tivesse apenas os três primeiros elementos: o roteiro direto, a personalidade de McQueen e a violência gráfica. Mas foi a perseguição que o elevou à categoria de clássico e cult movie.
Bullitt, 1968: tudo o que você sempre quis saber sobre a perseguição mais famosa do cinema
A perseguição de Bullitt foi aclamada já na época por ter as mesmas características do filme: é simples, direta, visceral e tem um personagem carismático — o Ford Mustang de Frank Bullitt.
Como explicamos neste post, o Mustang Bullitt original do filme é um modelo 1968 na cor verde “Highland Green”, que teve emblemas removidos, assim como o friso interno da grade dianteira, um aplique preto no painel traseiro, molduras das lanternas traseiras pintadas de preto e rodas Torq Thrust de 15 polegadas. O motor era o opcional FE de 390 pol³, combinado ao câmbio manual de quatro marchas.
O resultado foi uma representação automobilística do personagem principal. Como Steve McQueen, o Mustang também era um ícone popular, uma inspiração masculina. Como Frank Bullitt, o Mustang Bullitt era discreto, reservado, mas agressivo e competente. Não foi à toa que o carro se tornou um ícone imitado até hoje pelos fãs — caso deste tributo que está a venda nos EUA.
Apesar de ser um Mustang fastback 1967, ele também tem a carroceria pintada de verde “Highland Green”, também tem o motor V8 FE de 390 pol³ e o câmbio manual de quatro marchas, também tem as rodas Torq Thrust de 15 polegadas, o aplique plástico no painel traseiro e a tampa do bocal do tanque de combustível de alumínio usinado.
Como o Mustang original do filme, este tributo também ganhou uma preparação no 390. No carro original, os cabeçotes tiveram o fluxo retrabalhado em bancada, os coletores de escape foram redimensionados, o comando de válvulas um maior tempo de abertura e o sistema de ignição e carburação foram trocados. Neste tributo, a preparação do motor inclui um coletor de escape e comando de válvulas do motor 428 Cobra Jet, cabeçotes da versão policial do motor 428 (que tinha mais de 400 cv), ignição Mallory Unilite e um sistema de filtragem de óleo remota.
Os coletores de escape têm revestimento cerâmico e os canos de aço inoxidável são combinados a abafadores Magnaflow.
As semelhanças com o Bullitt, contudo, acabam no departamento de suspensão e freios. O carro manteve os tambores originais com cilindro-mestre da Wilwood na traseira, e discos ventilados com pinças de quatro pistões na dianteira. A suspensão usa barras estabilizadoras e Hellwig nos dois eixos, traction bars na traseira e amortecedores Koni nas quatro rodas.
Por dentro, ele também se distancia um pouco do Bullitt original: os bancos são semelhantes, os Scat Classic 1500, porém no tributo eles têm encostos de cabeça. O volante é do Shelby GT500 com revestimento de couro em vez do aro de madeira. Os cintos de segurança, obviamente são modificados: em vez de um modelo sub-abdominal agora há um cinco retrátil de três pontos e o carro ganhou o pacote de acabamento Deluxe do Mustang, com detalhes de alumínio escovado no painel, nas portas e no console central, além de um console no teto com luzes de leitura e bancos traseiros rebatíveis.
Para completar, diferentemente da cena de perseguição, este Bullitt tem trilha sonora: o rádio retrô é, na verdade, uma unidade moderna compatível com iPod e alto-falantes removíveis.