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Automobilismo

Como foi assistir a classificação do GP do Brasil de F1 de dentro dos boxes da Mercedes-AMG

Olá, amigos. Dia 12 de novembro, na véspera do meu aniversário, ganhei um dos melhores presentes da minha vida. Tive a oportunidade de acompanhar o sábado da Fórmula 1 em Interlagos do SkyLounge, o camarote da equipe Mercedes AMG Petronas. A experiência foi tão incrível que compartilhar como tudo aconteceu aqui com vocês era o passo natural.

Na quarta-feira, um amigo e gerente de vendas da empresa Pure Storage, americana que vende os equipamentos de armazenamento de dados para o time me liga para almoçarmos juntos. No papo, dentre assuntos de negócio e lazer, ele me faz o convite. Ele só tinha credencial para sábado. Antes que ele mudasse de idéia, topei na hora! Só tinha um problema – as passagens àquela altura estavam custando uma fortuna! Para se ter uma idéia, pesquisando muito consegui a R$ 2.000 ida e volta BSB-CGH contando taxas e impostos. Simplesmente inviável para qualquer ser humano normal.

Mas como eu sou obviamente demente apaixonado por carros, a solução estava fácil e sempre me agrada muito: estrada! Mas como eu sou obviamente apaixonado por carros demente, meu único carro (o PC #368) estava no preparador finalizando a instalação dos upgrades finais. Aguardem que em breve eu mando a postagem de encerramento.

Agora não havia mais volta. Já havia aceitado o convite e negociado a folga com o chefe. O carro teria que ficar pronto e com um acerto razoável para que eu pudesse vir com tranquilidade. Avisei esse pequeno “detalhe” para o preparador. Ele, muito tranquilamente, me entregou o carro na quinta-feira e me disse “vaza”. Até agora eu não entendi se eu o perturbei além da conta ou se era para eu pegar estrada que o carro estava pronto. Na dúvida, escolhi a 2ª opção.

Cheguei a Sampa na sexta-feira à noite. Fiz check-in no hotel e fui direto para o quarto tomar um banho e dormir. Ou melhor, tentar dormir. Estava impossível conter a ansiedade!

No sábado, cedo pela manhã, nos encontramos em um dos salões do hotel para tomar café da manhã e ver a programação do dia. Já na chegada, ganhamos camiseta, boné, pendrive, toalha de rosto, bateria externa para carregar o celular e uma mochila maneiríssima da equipe de F1. Em seguida pegamos uma van que nos levou ao local onde saíam os translados para os boxes de Interlagos. No ponto de encontro das vans, recebemos a credencial do dia e mais presentes – dessa vez uma sacola e uma camisa polo – e seguimos para a pista.

O dia foi bem cheio! Entre assistir os treinos e as categorias de apoio, faríamos dois passeios. Por volta de 10h fizemos um tour guiado pelo box da equipe, onde pudemos ver todo o trabalho que acontece por trás daquelas divisórias que nós vemos quando os carros estão nos boxes. Nesse momento, não é permitido tirar fotos, por questões óbvias de segredos industriais.

Aqui, o nosso guia nos passou muita informação legal. Vou colocar as que eu me lembro:

  • Os carros possuem, dependendo da configuração, entre 200 e 400 sensores! Esses sensores, segundo o inglês que nos explicava, faziam tantas coletas por segundo que uma simples passagem por todo o pitlane gerava um fluxo de dados de tamanho total equivalente a 15 a 20 álbuns mp3. Aqui, ele não quis dizer o valor exato, creio eu que por questões estratégicas;
  • Para se ter uma idéia, há duas câmeras infravermelho nas asas dianteiras, imperceptíveis pela TV. Essas câmeras filmam os pneus dianteiros e os dados de temperatura da banda de rodagem são analisados para saber como os pneus estão se comportando e se é necessário alguma alteração de ângulo de asa ou geometria de suspensão;
  • Esses dados são mandados em tempo real para Brackley, Inglaterra, onde uma equipe de aproximadamente 25 engenheiros analisa toda a informação. O atraso do link é tão pequeno que o maior delay é ocasionado pelo GPS e seu tempo de coleta;
  • Para acompanhar in loco vem a outra metade do time de engenheiros, também para análise dos dados e aplicação de mudanças. As duas ficam em contato durante todo o tempo do GP;
  • Por prova eles trocam a asa dianteira a cada treino, fora a que usam na corrida. O nível de refinamento aerodinâmico é tamanho que pedriscos na pista, borracha e outras sujeiras quando batem na asa, a marca que elas deixam é suficiente para alterar a aerodinâmica da frente do carro. Daí essas asas são tratadas para voltarem ao padrão e recebem novos adesivos, antes de voltarem para os carros. Esse é o nível de preciosismo dos caras;
  • Lewis Hamilton é baixinho;
  • As baterias do sistema híbrido esquentam tanto nas recargas rápidas dos geradores de energia que elas precisam ter refrigeração líquida. A Petronas fornece até mesmo esse líquido refrigerante;
  • Por corrida são gerados e analisados aproximadamente 6 TB de dados, somando os dois carros. Os equipamentos de armazenamento de dados precisam ser MUITO rápidos para acompanhar o fluxo de informação sem atrasar a equipe;
  • A turbina fuma na marcha-lenta;
  • O capacete do Rosberg é fornecido pela Bell. O casco custa aproximadamente US$ 3.000,00; a viseira com as sobreviseiras mais US$ 700 e a pintura pode chegar a custar até US$ 7.500, caso do casco que o Hamilton usou nos treinos e corrida;
  • Os carros podem carregar apenas 100 kg de combustível. Isso é suficiente para 1h de corrida. Não fossem os sistemas elétricos, nenhum carro completaria a prova.

Depois desse tour, voltamos para o camarote para poder acompanhar o treino livre da manhã. Enquanto a maior parte do pessoal estava sentado de boas bebendo e comendo, eu estava praticamente pendurado no parapeito da sacada (da visão do público, o camarote fica do lado esquerdo do pódio, ao lado da P2) para acompanhar o trabalho dos boxes. Esse trabalho é muito interessante e eu não ia perder a oportunidade de assistir aquilo estando tão perto.

Algo que já foi amplamente comentado é a respeito do ronco dos motores. Na mochila tinha um protetor auricular, mas em momento nenhum ele foi necessário. De fato ele é bem abafado pela turbina e o volume é comparável ao dos Porsches GT3 RSR que correram no fim do dia. Nesse ponto, se alguém pôde acompanhar a era dos V12, V10 e V8 atmosféricos se decepciona. Mas nem por isso o ronco é feio ou de liquidificador, pelo contrário. Eu achei o timbre bem bonito e grave, e o barulho do turbo enchendo e aliviando a pressão é muito legal. Só falta volume mesmo.

Antes do almoço, enquanto os mecânicos trabalhavam, o pit lane foi aberto para visitação do público. Obviamente, ele ficou lotado. As equipes mais disputadas eram a Williams (por conta do Felipe Massa), Ferrari (because Ferrari) e Mercedes. Nessa hora, a Mercedes e Ferrari deixam um número limitado de pessoas passar a fita que segurava o público longe para poder acompanhar bem de perto as atividades. Como eu estava com credencial da Mercedes, tive free pass nessa hora.

Finalmente, fomos para o almoço. Tive que comer rápido porque o treino começaria logo e nesse momento aconteceria uma surpresa. Senhores (e senhoras, porque não?), pensem na minha cara quando fui chamado para acompanhar o Q2 DENTRO DO BOX DA MERCEDES! Eu quase me engasguei quando recebi a notícia!

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Fomos em um grupo de sete pessoas. Recebemos rádios com fones de ouvido para escutarmos a conversa entre pilotos e engenheiros. Ficamos atrás do carro do Hamilton, num espaço entre a área da equipe e a divisória. Nesse espaço tinham telas onde conseguíamos ver os tempos e velocidades por trecho de todos os pilotos, a transmissão da TV e dados meteorológicos como pressão atmosférica, temperatura do ar e da pista, velocidade e direção do vento, etc. O mesmo guia que havia nos levado pela manhã nos acompanhou de tarde, e, muito simpaticamente, tirou todas as nossas dúvidas que surgiram nesse momento.

box

Nessa hora, duas coisas me impressionaram muito. O calor que emana do carro é bem alto, mesmo estando a mais ou menos três metros de distância dele. Os mecânicos trabalham absolutamente calados, e o trabalho é tão sincronizado que eles não chegam nem a se esbarrar naquele espaço curto. É um nível tão alto e um trabalho tão frenético e impressionante que eu sinceramente duvido que qualquer outra categoria consiga igualar isso.

Voltei a tempo de ver o Felipe Massa entrando na área de pesagem dos carros e pilotos, que fica embaixo do camarote. Por pouco não consegui registrar o momento.

Após o treino oficial, o pintor de rodapé Lewis Hamilton subiu para o camarote e ficou por aproximadamente cinco minutos lá, onde respondeu quatro perguntas feitas pela assessoria de imprensa da Mercedes-Benz (a marca de carros, não a escuderia). Rapidamente ele saiu para voltar para o hotel descansar, pois os pilotos deveriam comparecer a um evento promocional às 21h.

Me dei por satisfeito e o dia foi encerrado após ver a largada e as duas primeiras voltas da Porsche GT3 Cup, uma das categorias acessórias nesse fim de semana de F1. Já passavam das 16:30 e o cansaço começou a chegar.

O dia foi muito intenso e, por mais que eu não acompanhe tanto a F1, foi absolutamente inesquecível. Nunca, nem nos meus devaneios mais loucos, eu imaginei ver um dia de F1 no camarote da equipe que levará, no fim de tudo, o título de construtores e pilotos. Eu peço desculpas se o texto ficou repetitivo. Mas é impossível não passar várias vezes por interjeições como “incrível”, “impressionante” ou “inesquecível” quando o que se vê é realmente incrível, impressionante e inesquecível.

Foi o melhor presente de aniversário da minha vida.

PS: Para acompanhar as estatísticas da F-1, sugiro fortemente o site . Nesse site, há estatísticas dos 10 primeiros colocados em todas as provas, e se faz até uma análise preditiva das estratégias das equipes com base em dados históricos. Esse tipo de coisa é o que ajuda os dirigentes a tomarem rapidamente as melhores decisões possíveis para a equipe e são o diferencial para vencer numa categoria tão competitiva.

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