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Como a importação de gasolina e etanol ajudou a baixar os preços nas bombas

Notou que os preços dos combustíveis caíram sutilmente nos últimos meses? Normalmente os preços da gasolina e do diesel caem após reduções da Petrobras nas refinarias, enquanto o do etanol varia de acordo com o período de safra. Mas desta vez estes não foram os únicos motivos: os preços caíram com uma pequena ajuda das importações.

Embora a ideia de uma importação baratear os preços possa soar contraditória — afinal o dólar está cotado a quase R$ 3,35 — o aumento do volume de combustíveis importados ajudou nessa redução de preços. Tudo parece confuso assim jogado em dois parágrafos,mas ao longo deste post você irá entender como as peças se encaixam.

O negócio começa com a atual política de preços da Petrobras, que reune uma comissão todos os meses para avaliar se os preços dos combustíveis em suas refinarias devem subir, baixar ou permanecer iguais. Para isso eles levam em consideração variáveis como custo do frete, cotação internacional do barril de petróleo e cotação do dólar. Se tudo for favorável, o preço desce. Nos últimos meses os preços vêm caindo sutilmente (leia bem: sutilmente) a ponto de chegar à menor cotação desde 2015, como vimos aqui.

A política de preços da Petrobras costuma ter um impacto significativo nos preços dos combustíveis porque a estatal domina praticamente todo o setor de extração e refino de petróleo no Brasil. Se você quiser comprar combustível produzido por aqui, você só terá duas opções: as refinarias Petrobras ou a refinaria de Manguinhos, que é privada.

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Acontece que nenhuma distribuidora é obrigada a comprar combustível no Brasil. Elas podem simplesmente importar combustível.

Aqui é onde a mágica acontece (embora não seja mágica): ao definir sua política de preços, a Petrobras não está impondo que todo combustível comercializado no Brasil deve seguir seus preços. Ela só está dizendo quanto vai custar o combustível em suas refinarias. Se alguém importar o combustível por um preço mais baixo, poderá vendê-lo por um preço mais baixo. E é exatamente isso o que está acontecendo: o volume de importações de gasolina e diesel está aumentando desde 2015. Prova disso é que as refinarias da Petrobras .

O combustível chega a um preço competitivo suficiente para que as distribuidoras consigam melhorar suas margens e ainda assim reduzir sutilmente os preços se necessário. “Se necessário”, porque como a Petrobras fixa seus preços publicamente, ela também estabelece uma espécie de “piso”.

E como era de se esperar em um mercado minimamente livre, diante da competitividade da gasolina e do diesel importados, .

 

E o etanol?

Com o etanol há algumas diferenças: mesmo sendo o maior produtor mundial de etanol, . Um dos motivos foi a entressafra da cana, que reduziu a produção, como acontece em todos os anos.

Para piorar, a gasolina comum brasileira precisa ter obrigatoriamente 27% de álcool anidro — nem mais, nem menos. Até 2015 esse percentual podia variar entre 20% e 25%, e na década passada a variação poderia ser de 18% a 25%. A variação do percentual da mistura era uma forma de se adequar à oferta de álcool. Quando ele ficasse mais caro ou mais escasso (entressafra), bastava reduzir o percentual. Quando ficasse mais barato ou abundante, aumentava-se o percentual de mistura.

Sem a variação, não é possível reduzir a demanda na entressafra, e aí a solução é subir o preço ou dar um jeito de conseguir mais etanol.

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Usina de etanol de milho nos EUA

Mas ainda tem outro problema: nos últimos dois anos a produção de açúcar tornou-se vantajosa com a redução da produção açucareira na Índia. As usinas reduziram a produção de etanol para priorizar o açúcar, muito mais lucrativo, especialmente quando seu concorrente não está muito bem.

A solução então foi simplesmente importar etanol de milho dos EUA, que também chegou ao Brasil com preços competitivos o bastante — especialmente por não ser tributado.

 

Até quando?

É claro que a atual situação não continuará sempre favorável: as importações só se tornaram vantajosas porque: 1) os combustíveis estão baratos no exterior; 2) a cotação do dólar se manteve estável nos últimos anos. Sem essas condições a importação se torna inviável e arriscada.

Além disso, como a importação compromete estes setores do mercado/indústria e desequilibra a balança comercial, o governo já estuda novas regras para conter as importações (e proteger as empresas locais), entre elas estão a obrigatoriedade de um estoque mínimo de etanol ao final da safra anual e até uma taxa de 17% sobre o combustível importado — embora este último seja menos provável devido ao risco de retaliação dos EUA.