Head-up display, ou simplesmente HUD. O equipamento, que vem se tornando cada vez mais comum nos carros, projeta informações importantes em tempo real no para-brisa e permitem que o motorista as observe sem desviar o olhar do caminho à frente. E, além disso, o HUD também confere um toque industrial/futurista ao interior dos automóveis.
A associação imediata, ao menos para mim, é com as telas transparentes dos computadores nos filmes de ficção científica, ou as informações projetadas no visor do capacete de Samus Aran em Metroid Prime, clássico do GameCube dos anos 2000. Não por acaso, aliás, as informações que aparecem na tela quando estamos jogando videogame – barra de vida, minimapa, objetivos ou, no caso dos jogos de corrida, velocímetro, conta-giros e indicador de marchas – também são chamadas de HUD. (“Neeeeerrrd”, grita um membro da audiência.)
Embora seja difícil pensar em uma aplicação prática para uma tela transparente no computador da sua casa, em um automóvel o HUD realmente ajuda a conferir as informações sobre o carro sem precisar tirar os olhos da pista – aquele instante crucial, de frações de segundo, pode fazer a diferença entre sofrer um acidente e conseguir reagir a tempo.
Não é uma finalidade muito diferente da original – o HUD apareceu primeiro nos aviões da década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. A ideia era a mesma: permitir que o piloto tivesse acesso às informações do radar sem olhar para a tela do instrumento, desviando o olhar da linha de voo. Eram instantes que se mostravam preciosos entre identificar o alvo, mirar e acertar o inimigo.
Não eram muitos os aviões que usavam HUDs durante a Segunda Guerra Mundial. O versátil de Havilland Mosquito, um dos mais famosos bombardeiros da época, era um deles – tinha uma placa de vidro plana com revestimento especial, montada logo acima dos instrumentos, na qual eram projetadas as informações do radar e um horizonte artificial. O princípio é o mesmo desde então.
Os HUDs só funcionam porque as imagens criadas por eles são colimadas. Isto quer dizer que os raios de luz que as produzem são paralelos e, assim, as informações que aparecem no para-brisa são projetadas em foco infinito – é preciso focar no que está além delas para enxergá-las com clareza. Ao olhar para a frente, tais informações visuais parecem estar inseridas no ambiente – seja no céu ou no chão.
Nos anos que se seguiram, os HUDs evoluíram rapidamente – no início da década de 1960, já havia um sistema padronizado de informações exibidas no display e, com isto, pilotos comerciais podiam trocar de avião sem a necessidade de se adaptar. E foi nesta época que as fabricantes de automóveis começaram a estudar sua aplicação em seus modelos. A General Motors saiu na frente: já na década de 1960 houve testes com HUDs para automóveis, e o primeiro carro produzido em série a receber o item foi o Oldsmobile Cutlass Supreme de 1988.
Era a primeira geração do Cutlass (primo-gêmeo do Chevrolet Monte Carlo, do Buick Regal e do Pontiac Grand Prix) a ter uma plataforma de tração dianteira com motor transversal. A adoção do painel digital e do HUD e a mudança no layout mecânico denotavam uma preocupação em mostrar modernidade diante do início de uma nova década – uma era muito mais antenada em novas tecnologias.
Não era exatamente um recurso chamativo: ao ser ativado, o HUD projetava um velocímetro digital mais ou menos na altura dos olhos do motorista, e também as pequenas setas para indicar a direção dos piscas. E só. O equipamento era relativamente simples, mas seu efeito visual era muito bacana e, de fato, era possível olhar a velocidade sem tirar os olhos da estrada. Com isto, o HUD passou a ser opcional em diversos outros modelos da linha da GM nos EUA, incluindo o Pontiac Grand Prix, o Chevrolet Cavalier e o Cadillac Bonneville – neste último, era de série.
No Japão, a Nissan foi uma das primeiras a oferecer um HUD, disponibilizando o equipamento como opcional para o cupê 240SX vendido de 1989 a 1994. Também era um sistema simples, com o velocímetro exibido no canto inferior esquerdo do para-brisa.
A Toyota introduziu um HUD como opcional em 1991 para o Toyota Crown Majesta, apenas para o mercado japonês. Era um complemento bacana para o cluster de instrumentos, que já era totalmente digital. No entanto, sua função de ajudar o motorista a manter o foco na estrada era um tanto limitada, visto que a velocidade era exibida bem próxima ao painel.
Em 1998, a Chevrolet apresentou um HUD mais completo para o Corvette de quinta geração. Era o head-up display mais avançado do mercado, com diferentes modos de exibição (apenas o velocímetro, velocímetro e conta-giros, ou um modo completo com termômetro e marcador do nível de combustível) e melhor definição. A partir daí, tornou-se tradição no Corvette oferecer o HUD como opcional.
É claro que a Chevrolet não é a única a oferecer os HUDs, que se tornaram um opcional relativamente comum a partir dos anos 2000. E nem todos refletem as informações diretamente no para-brisa: outra maneira é utilizar um combinador óptico retrátil para projetar os números. Esta tela transparente é a responsável pela colimação dos fachos de luz gerados pelo projetor, permitindo que os números sejam exibidos em foco infinito – e lembra muito os HUDs originais dos avições.
Com o avanço da tecnologia, os HUDs acabaram ganhando novas funções com o passar do tempo. Em 2003, por exemplo, o HUD do Toyota Prius não espelhava apenas as informações do painel de instrumentos, mas também do navegador GPS. Com isto era possível, por exemplo, exibir uma seta indicando a direção a seguir poucos metros antes de um cruzamento, por exemplo. Outros trabalham em conjunto com as imagens captadas pela câmera frontal para destacar os limites da estrada e até mesmo sinalizar obstáculos à frente.
Hoje em dia, existem alguns HUDs aftermarket que podem ser instalados em qualquer carro. Normalmente eles são ligados ao leitor OBD2 do carro e utilizam os dados fornecidos pela central eletrônica. Repare como é preciso colocar uma película especial no para-brisa, e como apenas ela reflete os dados mostrados pelo projetor, que fica em cima do painel.
A tendência, porém, é que cada vez mais carros novos comecem a sair de fábrica com HUDs, deixando os sistemas aftermarket obsoletos, como são hoje os aparelhos de GPS. Hoje em dia, a Mercedes-Benz oferece o equipamento até no Classe A, seu modelo mais barato – e a Audi está perto disto: a partir do A4, já é possível comprar um modelo das quatro argolas com HUD. Nos próximos anos, podemos esperar uma popularização cada vez maior deste gadget, assim como hoje se pode comprar um Golf com tela digital colorida de alta definição no lugar dos instrumentos analógicos tradicionais.