Apesar de lançado em 1986, o Porsche 959 acabou rivalizando com a Ferrari F40, que só chegou pra valer dois anos mais tarde. A “deusa” de Maranello era um superesportivo old school em quase tudo, porém com um toque de modernidade: carroceria leve e espartana, câmbio manual com grelha, tração traseira, nenhum tipo de assistência eletrônica… e um V8 biturbo de 2,9 litros e cerca de 500 cv.
Já o Porsche 959 era, em sua essência, um Porsche 911 anabolizado, e os alemães decidiram que seu trunfo seria a tecnologia. Assim, apesar de ser baseado em um projeto dos anos 60, ele tinha um motor flat-six biturbo com arrefecimento misto (líquido para os cabeçotes, a ar para o bloco), tração nas quatro rodas com controle eletrônico, suspensão ajustável e um interior confortável e equipado.
Na verdade a Porsche fez um trabalho tão bom que até hoje é possível elevar ainda mais o nível do projeto do 959 e transformá-lo em algo capaz de incomodar seriamente supercarros atuais. Duvida? Pois foi exatamente isto que a Canepa, oficina/preparadora californiana especializada nos esportivos de Stuttgart, fez. Eles acabaram de lançar um pacote de modificações que, entre outras melhorias, dá ao 959 quase o dobro da potência original, chegando aos 800 cv. Quer dizer, são 797 cv. Mas dá para arredondar, não?
Você talvez lembre de algo parecido aqui mesmo das páginas do FlatOut: em agosto de 2016 a Canepa apresentou um Porsche 959 com motor preparado para render 773 cv entre várias outras mudanças no projeto dinâmico do carro. Agora, aquelas e outras modificações estão disponíveis para qualquer dono de 959.
O chamado 959SC (de Sport Canepa) é a mais nova atualização do programa de modificação do 959 que a Canepa começou lá em 2000. A primeira, conhecida hoje em dia como Gen. I, elevava a potência do motor para 583 cv. A segunda geração aumentou este número para 648 cv. Em 2016 veio o 959 Canepa Gen. III (antecipado por aquele protótipo do nosso post na época), que entregava nada menos que 773 cv. A agora, com o 959SC, a potência chegou aos 800 cv.
A receita de preparação do flat-6 mantém a essência da anterior: os dois turbos originais, sequenciais, são trocados por turbos paralelos da BorgWarner com carcaça de titânio; os comandos de válvulas são retrabalhados, assim como a admissão; componentes como alternador, bateria, bombas pneumáticas e velas são substituídos; a injeção eletrônica é toda trocada por um sistema atual, com ECU elaborada e programada sob medida; e são incorporados alguns “truques”, como uma válvula no sistema de escape que se abre ao toque de um botão e aumenta consideravelmente o volume do ronco.
Aqui cabe uma observação: os turbos sequenciais usados originalmente visavam reduzir o turbo lag ao colocar as duas turbinas para trabalhar em momentos diferentes – uma para as rotações mais baixas, e a outra para operar junto com a primeira quando o motor girasse mais alto. Contudo, a tecnologia atual e a potência extra permitem que se tenha dois turbos paralelos, ou seja, trabalhando ao mesmo tempo, sem o “atraso” que os carros turbinados lutavam para atenuar nos anos 80.
As diferenças mecânicas em relação ao Gen. III são novos coletores de escape simétricos, a programação otimizada da ECU, as linhas e injetores de combustível e o sistema de ignição. Além disso a embreagem foi modificada para deixar o pedal mais sensível. Além disso, estão em desenvolvimento novas rodas de 18 polegadas com o desenho exatamente igual às originais de 17 polegadas porém mais leves, porém capazes de receber pneus melhores – os Michelin Sport Cup 2 feitos para velcocidades acima de 300 km/h) só estão disponíveis para rodas de 18 polegadas ou mais.
A Canepa pretende realizar a conversão para 959SC em apenas 50 unidades do Porsche 959. A exclusividade, contudo, significa que cada um dos carros passará por um processo minucioso de desmontagem, restauração, manutenção, repintura, remontagem e acabamento.
Os faróis e lanternas do 959SC usam lentes e carcaça originais, mas lâmpadas desenvolvidas sob medida com a mesma fornecedora da Porsche para garantir um nível de iluminação compatível com um supercarro moderno
A desmontagem é total, de acordo com a Canepa. Todos os componentes são removidos e catalogados, então a estrutura é preparada para a repintura por pulverização eletrostática a pó, garantindo mais durabilidade. Depois, todas as partes com a nova pintura recebem uma camada protetora à base de zinco. O mesmo acontece com os painéis de Kevlar e fibra de vidro da carroceria, carroceria, que é preparada à mão em um processo que, segundo a Canepa, pode levar até 500 horas de trabalho.
A maioria dos exemplares do 959 saiu da fábrica em vermelho, prata ou branco, mas Bruce Canepa se oferece para ajudar o dono a desenvolver sua cor exclusiva, com base nas cores oferecidas pela Porsche – que podem ser alteradas livremente. Segundo a Canepa, “o único limite é sua imaginação” e nenhum Porsche 959SC será da mesma cor que outro.
O mesmo vale para o lado de dentro, que pode ser revestido em couro (sempre natural) de qualquer cor, costurado à mão. Carpetes, tapetes e acabamentos plásticos e de borracha. Volante, painel de instrumentos, forro de teto e colunas são refeito à mão, com acabamento na cor desejada pelo dono. O toque final é um rádio original Porsche Classic com visual period correct, porém com uma tela colorida para o navegador por GPS integrado.
A única “exigência” da Canepa é que o carro que esteja em bom estado e íntegro — afinal não se trata de uma restauração, e sim de upgrades. Mas isso não deve ser tão difícil. Quem deixaria um 959 apodrecer ao longo dos anos com os valores que estes carros estão atingindo?