Entre os reparos e manutenções que você pode fazer por conta própria na garagem de casa está a troca de pastilhas de freio. Sim, por mais estranho que pareça, desmontar as pinças de freio do carro é uma tarefa simples e que requer apenas um pouco de cuidado e uma noção básica de como o sistema funciona. E quem vai nos ajudar hoje é um cara chamado Mehdi Sadaghdar, também conhecido como “o sabe tudo” ou simplesmente “o cara do Electroboom”.
Se você curte eletrônica é provável que já conheça o cara: ele é um YouTuber famoso por usar experiências desastrosas para ensinar um pouco de elétrica e eletrônica ao seu público — o que inclui choques, incêndios e explosões verdadeiras, que são muito bons para ilustrar o que pode acontecer se você fizer algo errado. Embora o sotaque carregado e a fisionomia do oriente médio auxiliem a veia cômica, Mehdi é um iraniano que vive no Canadá, onde se tornou mestre em engenharia elétrica. Veja por exemplo este vídeo em que ele mostra o que “mata mais – corrente ou tensão?””
Interessante não? O vídeo que ensina a trocar as pastilhas é na mesma levada, mas em vez de choques e estouros, ele nos mostra os perigos envolvidos no processo de desmontagem da roda e da pinça. Apesar da zoeira, o procedimento descrito pelo iraniano malucão é bem didático e bastante correto, com apenas algumas variações de acordo com o carro. Assista aí antes de seguir para os nossos comentários:
O primeiro passo é tirar a roda, logicamente. Se você sabe trocar um pneu furado, saberá fazer isso. Se não sabe, talvez seja melhor procurar outro hobby (). Em todo caso, afrouxe os parafusos ou porcas com o carro ainda no chão e só depois comece a levantá-lo com o macaco/jacaré.
A dica do Mehdi é muito boa: hoje se encontra facilmente os mini jacarés/macacos hidráulicos por cerca de R$ 100. Eles são compactos e fáceis de levar no porta-malas, e também são muito mais práticos que o macaco comum e mais seguros para fazer esse tipo de procedimento. Aliás, falando em segurança, sempre que você for trabalhar com o carro levantado use cavaletes. Nesse caso da troca de pastilhas os cavaletes não são essenciais pois você não vai entrar embaixo do carro. Apenas siga o conselho do vídeo e não coloque as mãos embaixo do disco.
Se você não quiser sujar as mãos, pode usar luvas, mas não as de borracha que ele usa no vídeo. Existe um tipo de luva específico para esse tipo de trabalho chamada luva para tato. Ela é mais resistente a rasgos e permite que você manuseie parafusos e materiais pequenos sem dificuldade.
Depois de remover a roda, o passo seguinte é desmontar a pinça. Elas geralmente usam um par de parafusos em cada extremidade, então basta soltar esses parafusos para remover a parte superior e expor as pastilhas como mostrado no vídeo. Em alguns carros não é preciso remover os dois parafusos — basta soltar o parafuso inferior e levantar a pinça pivotada no parafuso superior (foto abaixo).
Quando for remover a pinça tome cuidado para não torcer, romper, dobrar ou simplesmente arrancar as linhas hidráulicas dos freios. Outra observação: jamais pressione o pedal com a pinça desmontada. O curso do pistão da pinça é limitado pela pastilha pressionada contra o disco. Se não houver nenhum limitador, ele simplesmente sairá do lugar e você terá que sangrar o sistema para recolocá-lo no lugar — ou, dependendo do estrago, até mesmo substituir o pistão.
Com a pinça desmontada basta remover as pastilhas velhas e colocar as novas no lugar. Se seu carro tem sensores de desgaste, memorize o local de encaixe dos conectores antes de desmontá-los.
Agora que as pastilhas estão no lugar basta montar a pinça, certo? Errado: primeiro é preciso empurrar o pistão (ou os pistões) de volta para dentro da pinça. Você pode usar um grampo para isso, ou simplesmente empurrar com alguma ferramenta semelhante. O único cuidado aqui é empurrar lentamente para evitar eventuais problemas por forçar o fluido de volta para as mangueiras muito rapidamente. Alguns pistões — geralmente de pinças traseiras — usam um sistema de rosca para voltar ao lugar, então verifique o tipo antes de sair apertando o negócio de volta.
Em seguida, você coloca a pinça de volta com cuidado para não dobrar ou torcer as linhas hidráulicas, aperta os parafusos, monta a roda e aí sim pressiona o pedal para checar se está tudo ok.
Quando trocar as pastilhas?
Diferentemente do que é dito no vídeo, nem sempre os chiados do freio indicam desgaste das pastilhas. Isso pode acontecer por vários motivos — desde a vitrificação das pastilhas (algo que acontece quando elas estão muito quentes e são molhadas pela água fria da chuva) até a qualidade do material de atrito da pastilha. Por isso os fabricantes de pastilhas e de automóveis desenvolveram alguns métodos para se identificar o desgaste das pastilhas.
O mais simples deles é um corte feito no material de atrito (foto abaixo) que auxilia a inspeção visual. Você observa a pastilha pela janela das rodas (ou removendo as rodas, se for o caso) e verá a profundidade deste corte. Quanto mais raso, mais desgastada a pastilha estará. Se ele não aparecer, é sinal de que elas já chegaram ao limite e devem ser trocadas.
Outro método de indicação de desgaste consiste em um simples pedaço de metal afixado nas bordas da pastilha. Quando o material se desgasta, o metal toca o disco de freio e produz um ruído de arrasto metálico. Se o seu carro usa esse tipo de pastilha, esse será o sinal para trocá-las o mais rápido possível.
Depois há os sistemas elétricos, usados em boa parte dos carros modernos. Há uma pequena peça metálica dentro do material de atrito que faz a função de aterramento enquanto o fio positivo está ligado ao circuito da lâmpada de alerta.
Quando a pastilha atinge seu limite de desgaste, essa peça metálica toca o disco de freio e faz a lâmpada de alerta acender. A maioria dos carros com este sistema usa uma variação do ícone abaixo (que representa um tambor de freio), embora alguns carros usem a mesma luz do alerta do freio de mão ou ainda uma mensagem escrita no computador de bordo. Isso é algo que você descobrirá facilmente checando o manual do carro.
Por último, há um outro sensor mais sofisticado, capaz de medir a posição do mecanismo de freio para indicar quando o ponto pré-determinado pela fábrica/autorizada foi atingido. O alerta também é feito por uma luz ou mensagem no painel, da mesma forma que o do sensor elétrico.