AFun Casino Online

FlatOut!
Image default
Car Culture

Como um piloto de aviões comprou o primeiro Ford Mustang fabricado no mundo

Hoje com quase 60 anos, o Ford Mustang está mais que sacramentado como um dos automóveis mais importantes da história. Nascido como resposta ao fenômeno chamado Chevrolet Corvette, que ganhou sua segunda geração em 1963 e assumiu de vez o papel de esportivo das massas, o Mustang foi concebido como um esportivo compacto, bom de guiar e ainda mais acessível que o Corvette, e diretamente oposto ao Corvair Monza da mesma marca em tamanho, preço e mercado alvo. Foi desenvolvido em tempo recorde – apenas 18 meses, entre setembro de 1962 e abril de 1964, de conceito ao início da produção em série.

Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , ,  e muito mais!

 

FLATOUTER

O plano mais especial. Convite para o nosso grupo secreto no Facebook, com interação direta com todos da equipe FlatOut. Convites para encontros exclusivos em SP. Acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Direito a expor ou anunciar até sete carros no GT402 e descontos em oficinas e lojas parceiras*!

R$ 26,90 / mês

ou

Ganhe R$ 53,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

*Benefícios sujeitos ao único e exclusivo critério do FlatOut, bem como a eventual disponibilidade do parceiro. Todo e qualquer benefício poderá ser alterado ou extinto, sem que seja necessário qualquer aviso prévio.

CLÁSSICO

Plano de assinatura básico, voltado somente ao conteúdo1. Com o Clássico, você terá acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, incluindo vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Além disso, você poderá expor ou anunciar até três carros no GT402.

R$ 14,90 / mês

ou

Ganhe R$ 29,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

1Não há convite para participar do grupo secreto do FlatOut nem há descontos em oficinas ou lojas parceiras.
2A quantidade de carros veiculados poderá ser alterada a qualquer momento pelo FlatOut, ao seu único e exclusivo critério.

Fruto da mente visionária de Lee Iacocca, o Mustang foi de roadster de motor V4 central-traseiro (o conceito Mustang I) ao arquétipo de pony car. O termo foi cunhado logo após o lançamento pela revista Car Life para definir um carro compacto – ao menos para os padrões americanos – com proposta esportiva, motor seis-em-linha ou V8 e um grande catálogo de acessórios e componentes de preparação, e acabou criando uma categoria à parte dos muscle cars.

A Ford não podia se dar ao luxo de cometer erros com o Mustang, e por isso fez diversas experiências com seu estilo e uma boa quantidade de protótipos antes de chegar ao design – e ao acerto – definitivo. Mas deu resultado: com uma campanha de marketing agressiva, com direito a comerciais de TV no horário nobre, aparições no cinema e anúncios impressos em 2.600 jornais e 24 revistas (totalizando uma circulação de 68 milhões), as concessionárias da Ford ficaram inundadas de encomendas no dia do lançamento.

Documentos da época dizem que a Ford vendeu, no primeiro dia, 20% dos carros que esperava vender pelo resto do ano. Eventualmente, doze meses depois do lançamento a Ford já havia recebido 417.000 encomendas do Mustang – quatro vezes mais que o esperado.

Na verdade, o sucesso do Mustang foi tão grande que o primeiro exemplar, de VIN #001, foi vendido três dias antes do lançamento oficial, em 17 de abril de 1964. Quem comprou foi um piloto comercial de aviões – ele gostou tanto do carro que conseguiu convencer a Ford a quebrar o protocolo. Mas como?

Para entender esta história, é preciso entender como foi o processo de lançamento do Mustang. No dia 17 de abril, uma sexta-feira, ocorreu o lançamento oficial, com o pony car apresentado por Iacocca em pessoa. Durante o fim de semana seguinte, 22.000 exemplares foram encomendados.

A Ford já havia começado a fabricar o Mustang meses antes. Segundo os registros da própria fabricante – que, ainda assim, não são 100% confiáveis – entre agosto e dezembro de 1963 fora feitos cerca de 15 exemplares piloto. Esses carros foram usados para testar o ferramental da linha de produção e realizar os últimos ajustes finos no processo. Depois, veio uma série de pré-produção, com algo entre 180 a 200 automóveis que seriam utilizados para fins promocionais e testes de colisão, além de servirem como base para os primeiros Mustang de corrida. A produção em série de fato começou em 9 de março de 1964 na fábrica da Ford em Dearborn.

Para garantir que todas as concessionárias da América do Norte (EUA e Canadá) tivessem ao menos um exemplar do Mustang pronto para visitação na época do lançamento – e as concessionárias mais distantes receberam os primeiros carros, por questão de lógica (e logística). E foi assim que a pequena concessionária George Parsons Ford, da cidadezinha de St. John, na província canadense de Terra Nova e Labrador, recebeu o primeiro Mustang fabricado. Era o dia 14 de abril de 1964.

Terra Nova e Salvador é a província mais a leste do Canadá, na borda do continente, não tão longe assim da Groenlândia. A concessionária ficava a exatos 3.500 km da fábrica da Ford em Dearborn, no Michigan.

O número completo do chassi era 5F08F100001, e correspondia a um Mustang conversível branco “Wimbledon White” com interior preto. O motor era o V8 small block 260 da Ford, com 164 cv, ligado a uma caixa automática de três marchas. A capota de lona também era branca, e o carro tinha calotas raiadas e pneus com banda branca. Clássico.

Estacionado no pátio da George Parsons Ford, o carro chamou a atenção de uma pequena multidão. Stanley Tucker, piloto comercial da Eastern Provincial Airlines, passava em frente ao prédio e decidiu ver o que era toda aquela comoção.

Naquele dia, o vendedor Harry Phillips estava de plantão e, empolgado com o novo modelo, foi mostrá-lo a Tucker.

Os pormenores do encontro entre ambos se perderam no tempo, e a própria Ford já contou duas versões. Uma diz que Phillips não sabia o destino do carro – como unidade de pré-produção, ele ainda não havia sido homologado e tecnicamente não estava apto a circular nas ruas, e muito menos a ser vendido a um cliente. A outra diz o contrário: Phillips sabia muito bem que aquele exemplar era puramente para demonstração, que o lançamento só aconteceria dali a três dias, e que o carro não poderia ser entregue, mas ignorou todos os procedimentos para garantir que seria o primeiro vendedor a negociar um Mustang.

O dono da concessionária, George Parsons, relutou em permitir a venda, mas no final acabou cedendo. O carro só não podia ser entregue naquele dia. Novamente, há mais de uma versão da história: uma diz que Tucker só precisou esperar até o dia seguinte para ir buscar o carro. Outra afirma que, na verdade, ele teve de aguardar pelo menos uma semana – até o fim do período de exposição e o início das vendas de fato.

De todo modo, por algum tempo o Capitão Tucker foi o único dono de Mustang em toda a província de Terra Nova e Labrador. E ele aproveitou cada minuto – mais tarde, ele disse que seu carro nunca havia lhe dado problemas, apenas alegria. E que era muito bacana ver as crianças gritando “Mustang!” quando ele passava – mas que às vezes era pego de surpresa por algum curioso que o fazia parar na beira da pista para perguntar sobre o então recém-lançado pony car.

Acontece que não demorou muito para que a Ford percebesse o engano. Passados alguns meses, ao reunir todos os carros da primeira leva para encaminhá-los ao ferro-velho, a fabricante sentiu falta de um deles – e justo o primeiro!

Não foi difícil localizar a concessionária responsável pela venda, nem encontrar o Capitão Tucker. Difícil foi convencê-lo a devolver o carro.

Primeiro, a fabricante tentou comprá-lo de volta – porque, apesar de ter comprado um Mustang que não deveria ter sido vendido, Tucker era o dono legítimo do carro. Mas ele recusou, pois simplesmente gostava muito do carro, e rodou mais de de 10.000 milhas com ele (cerca de 16.000 km).

Tucker só mudou de ideia dois anos depois, quando a Ford lhe fez uma proposta tentadora: em troca do Mustang número 1, ele receberia o Mustang número 1.000.0001. Sim: em apenas dois anos a Ford produziu 1 milhão de unidades – um atestado incontestável do sucesso do pony car.

O carro era um Mustang prata, também conversível, mas com motor V8 289 de 225 cv. O câmbio também era automático, e o carro veio equipado com todos os opcionais possíveis – ar-condicionado, toca-fitas estéreo, freios a disco na dianteira e o chamado Rally Pac, que era nada mais que um conta-giros e um relógio instalados na coluna de direção.

Antes de entregar o Mustang, Tucker foi fotografado com o carro e acabou fazendo parte de mais uma campanha publicitária. Apesar disso, oficialmente ele não é considerado o primeiro comprador do Mustang, mas sim uma mulher chamada Gail Wise, que comprou seu Mustang azul em 15 de abril de 1964 e ficou com ele desde então. Até já contamos a história dela por aqui.

Esta senhorinha foi a primeira pessoa a comprar um Ford Mustang – e está com ele até hoje

O carro do Capitão Tucker foi levado direto para o museu Henry Ford, em Dearborn, Michigan. O Mustang está lá até hoje, e é uma das atrações favoritas do público.

 

O Capitão Tucker morreu em 2008, mas o homem que vendeu a ele o Mustang continua vivo. Harry Phillips tem hoje 85 anos e,em 2019, teve a chance de encontrar o carro novamente – sua neta, Stephanie Mealey, fez uma campanha na Internet para ajudá-lo a viajar até o museu Henry Ford. Lá, o ex-vendedor ficou maravilhado ao ver que o Mustang estava exatamente igual ao dia em que chegou à concessionária, 57 anos atrás.