Vivemos hoje numa época em que a indústria se move inexoravelmente para cima em preço. Na maioria das vezes, é algo depressivo para nós, que consideramos o automóvel uma forma de arte, e essencialmente um veículo que nos liberta das amarras geográficas de nosso próprio corpo limitado. Depressivo porque sabemos que carros mais caros e chiques, na maioria das vezes, apelam para as partes menos nobres da personalidade das pessoas: exibicionismo, soberba, superficialidade, hedonismo.
Mas não são todos assim. Veja por exemplo a nova empresa do gênio de camisa florida, o indefectível Gordon Murray. Diferente dos executivos que infestam as notícias exortando um futuro empacotado a vácuo e pronto para digestão politicamente correta imediata, Murray está no negócio de construir automóveis porque — surpresa! — ama automóveis.
Quer ganhar dinheiro com isso, claro, mas basta uma olhada na sua coleção de carros e sua carreira para entender que não precisava fazer mais nada, se quisesse. Mas as pessoas nascem para fazer coisas na vida, não ganhar dinheiro e só. Se não fosse assim, se dinheiro fosse tudo, só existiriam banqueiros.
Murray, ao contrário de CEO alemães que infestam praticamente todas as empresas inglesas tradicionais de carros especiais e caros, inertes carreiristas apenas cumprindo suas funções em conglomerados gigantes, quer agora fazer carros que considera o ápice do que sabe e aprendeu sobre eles. Claro que os produzirá em baixíssimas quantidades e a preços altíssimos; o melhor nunca é barato. Mas seus clientes não são roubados da Bugatti; não desejam um Bentley; não querem Tesla e Taycan e Cullinan; querem o melhor carro possível para se dirigir.
Vale olhar os princípios da GMA, empresa criada por Murray para construir seus sonhos, e se possível, vende-los com lucro suficiente par financiar os próximos, e continuar fazendo isso ad infinitum. Isso porque esses princípios não foram criados em reuniões que tentam deixálos tão destilados e pouco ofensivos que os fazem sem sentido algum. Não, os princípios da GMA são de verdade. São sete:
- Uma marca premium: um fabricante como nenhum outro. Inovação de engenharia, com qualidade superior. Nós produzimos carros ingleses com a melhor qualidade possível.
- A volta da beleza: proporções perfeitas, desenho balanceado, e para durar para sempre. Cada peça ou parte tem um propósito.
- Arte de engenheiro: Cada peça é exclusiva do carro, e desenhada como uma peça de arte em engenharia. Simplicidade é bela.
- Perfeição ao dirigir: Simplesmente a melhor experiência atrás do volante existente, algo que vai desde os controles diretos até o melhor V12 da história do automóvel.
- Baixo peso: Na GMA baixo peso é um modo de vida, e um que permite dinâmica sem pares.
- Exclusividade: a GMA sempre fará apenas 100 modelos de cada carro.
- A jornada do cliente: acesso total a todo projeto e desenvolvimento para todos os 100 clientes. A fábrica é sua casa.
Fazer apenas 100 carros de cada modelo significa que a empresa estará continuamente projetando seu próximo modelo, para manter a fábrica andando. A empresa recentemente anunciou a mudança de sua sede global para um novo local em Windlesham, Surrey, Reino Unido, onde um novo campus de tecnologia, Heritage and Customer Center, e instalações de engenharia e design sob medida estão sendo criadas. A construção já começou e as primeiras instalações estarão prontas em 2022, com todo o projeto concluído em 2024.
Olhando por esse prisma, não é surpreendente que mesmo relativamente pouco tempo depois de revelar o T.50, a empresa volta hoje com um novo carro, o T.33.
O novo T.33
“É um design belo e atemporal. A arte da engenharia se estende por todo o carro, desde switches sob medida até componentes do motor que são pura escultura. Tudo o que você vê tem uma função, nada é supérfluo. É a beleza da simplicidade.” – Gordon Murray
O segundo carro da GMA é bem mais simples, e certamente será mais barato, que o sensacional T.50. Murray parece cansado da supercomplicação moderna, e quer, neste carro retornar à simplicidade técnica e de design dos anos 1960. Assim, o carro, por exemplo, terá apenas dois lugares, e não mais 3 com o motorista central que ele tanto gosta. Terá também uma versão menos extrema do V12 do T.50. A estrutura não será mais somente em fibra de carbono, mas sim com algum alumínio; mais peso, mas mais simplicidade técnica.
Sobre o interior, diz: “A cabine do T.33 é decididamente focada no motorista. Representa um retorno ao design simples e bonito. Não há telas sensíveis ao toque com seus submenus confusos. Os controles de alumínio usinado proporcionam uma sensação soberba, enquanto os pedais de liga de alumínio proporcionam sensibilidade e controle de direção excepcionais.”
O T.33 também não tem o enorme ventilador que suga o ar debaixo do carro no T.50. Em vez disso, formas agressivas de difusor e dutos inteligentes fornecem um novo sistema aerodinâmico Passive Boundary Layer Control (PBLC) que é 30% mais eficiente do que um supercarro convencional de efeitos de solo. Além de um discreto spoiler traseiro ativo, que se desdobra automaticamente ou pode ser ativado pelo motorista, a superfície superior do carro permanece limpa e aerodinâmica.
Mesmo mais pesado que o T.50, o T.33 é facilmente o supercarro mais leve de sua classe. A leveza vem de materiais cuidadosamente escolhidos, como a carroceria de fibra de carbono, e a nova arquitetura “super leve” de carbono e alumínio. Ele vem de engenharia e design inteligentes, reduzindo o tamanho e o peso ao mínimo. O objetivo de peso é 1.090 kg; lembre que o T.50 pesa 980 kg.
O motor é uma nova variante do V12 Cosworth do T.50. Chama-se agora GMA.2, e no T.33, pesa apenas 178 kg, gira a 11.100 rpm e produz 615 cv a 10.500 rpm. Menos potente que o T.50, mas ainda absolutamente incrível; e um motor belíssimo. Arte na engenharia, indeed.
O câmbio é manual de seis marchas, mas há opção de um sequencial IGS (Instantaneous Gearchange System) de seis marchas, ambos criados sob medida pela empresa britânica Xtrac. A caixa de câmbio manual é derivada do T.50 e, com 82kg, é a caixa de câmbio de supercarro mais leve do mundo. O IGS (com borboletas) é um design engenhoso que segundo a empresa não dá interrupção de torque durante a troca de marchas. Segundo a GMA, será a troca de marchas mais rápida do mundo sem a necessidade de embreagens múltiplas pesadas e, com 78 kg, é a caixa de câmbio semiautomática mais leve do mundo.
Outro detalhe interessante são as rodas. Fabricadas em liga de alumínio forjado, são excepcionalmente leves e rígidas, e pesam menos de 7 kg cada, o que é incrível. Os pneus Michelin Pilot Sport 4 S, menores e mais estreitos do que os pneus convencionais de supercarros, possíveis graças ao baixo peso do T.33. Isso melhora a sensação do motorista e o conforto de condução, além de reduzir a resistência ao rolamento.
Murray disse que o exterior era uma volta à simplicidade dos anos 1960, mas que não seria retrô. Parece que conseguiu. O T.33, por mais caro e inatingível que seja, é ainda assim mais um ícone para quem ama engenharia e o automóvel, e não precisa de um nome famoso na grade. E que, principalmente, goste de dirigir.
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