O Porsche 911 híbrido finalmente chegou. E sim, ele foi feito por que os europeus estão paranóicos com as emissões de carbono e todo aquele papo sobre clima e blablablá. Se os híbridos são uma necessidade no cenário atual das regulações, que eles sejam usados para algo realmente legal, e não apenas para cumprir tabela.
Por isso, o conjunto híbrido deste novo 911 Carrera GTS não foi usado para diminuir emissões ou melhorar o consumo. Ao menos não como objetivo principal. A Porsche decidiu que o sistema híbrido, batizado “T-Hybrid”, seria usado como recurso de melhora de desempenho — uma abordagem semelhante à dos carros de Le Mans, por exemplo. Se é para ser híbrido, bem… que seja legal, não é mesmo?
O sistema é diferente do que todo mundo esperava. Não há um motor elétrico ensanduichado pelo flat-6 e pelo câmbio. O motor elétrico assíncrono em forma de disco, é feito pela ZF e posicionado dentro da caixa PDK de oito marchas, com excitação permanente — ou seja: ele está sempre gerando um campo magnético que produz a tensão necessária para gerar torque no rotor. Na prática, significa que ele está sempre “esperando” o momento de produzir torque.
Como o motor elétrico e o PDK são um componente único, isso também significa que o GTS manual de sete marchas deixou de existir. A Porsche também não mencionou nada sobre a continuidade do câmbio manual nos modelos abaixo do GTS, mas é importante lembrar que há rumores sobre um Porsche 911 Turbo de tração traseira que poderia muito bem ter uma transmissão manual.
Segundo o chefe de desenvolvimento do 911 na Porsche, Frank Moser, “na aceleração, nas frenagens ou desacelerações, e mesmo na velocidade máxima de 312 km/h, ele continua a armazenar energia cinética na bateria”. Se você está se perguntando como isso é possível, bem, porque este motor elétrico no câmbio não é o único motor elétrico no powertrain T-Hybrid.
Além dele há um motor elétrico integrado ao turbocompressor, este sim ensanduichado por dois componentes: ele fica entre o compressor (caixa fria) e a turbina (caixa quente). E embora ele sirva para otimizar a aceleração e respostas do motor por aplicar torque imediato ao eixo da turbina, ele também atua como um gerador de 11kW/15 cv movido pelo fluxo de gases do escape. Isso significa também que o flat-6 tem apenas um turbo, e não dois como nos demais modelos. Este motor elétrico integrado ao turbo também dispensa o uso da válvula wastegate.
O motor também foi modificado, passando de 3 para 3,6 litros pelo aumento do diâmetro de 91 mm para 97 mm e do curso de 76 mm para 81 mm. Ele, por si, produz 485 cv e 58 kgfm, mas com o conjunto elétrico auxiliando-o, o total vai para 541 cv e 62 kgfm — um aumento de 60 cv e 4 kgfm em relação ao GTS não-eletrificado. Como o motor elétrico produz até 15 kgfm de torque em lenta, esse novo GTS T-Hybrid vai de zero a 100 km/h em 3 segundos — ou 0,3 segundo a menos que o antecessor.
Mesmo com o motor maior e o conjunto híbrido — que exige um inversor de fase e um conversor DC —, o carro ficou apenas 50 kg mais pesado que o antecessor. Enquanto o inversor e o conversor ficam na traseira, junto do motor flat-6, a bateria de 400 volts que alimenta os motores elétricos e o compressor do ar-condicionado, fica na dianteira.
Se ele tem apenas um motor elétrico no câmbio e outro no turbo, significa que não há um motor elétrico no eixo dianteiro para fazê-lo integral como todo mundo esperava. Apesar disso, a Porsche disse que o sistema T-Hybrid pode ser usado com tração integral — provavelmente com o mesmo arranjo convencional dos demais modelos 4.
A Porsche trouxe o GTS híbrido como o garoto-propaganda da segunda fase da geração 992 (ou 992.2, segundo a terminologia porscheira). A principal novidade estética é que agora todas as luzes dianteiras, com exceção dos piscas, foram integradas ao farol principal, que usa tecnologia de matriz de LED.
Na traseira, a lanterna integral foi reestilizada, mas mantém o letreiro Porsche como nos modelos clássicos. Cada versão do carro terá saídas de escape diferentes, e os modelos cupê poderão ser equipados com o Aerokit.
Por dentro, os 911 agora virão sem os bancos traseiros. Quem quiser a configuração 2+2 para levar os filhos ou os inimigos, pode solicitar a instalação na hora da compra, sem custo adicional. O quadro de instrumentos continua totalmente digital, com sete opções de visualização — uma delas é a clássica configuração de cinco instrumentos circulares.
A versão Carrera básica irá manter o flat-6 biturbo de 3 litros, mas comum intercooler maior para gerar 10 cv em relação ao antecessor, chegando a 394 cv, mas com os mesmos 45,6 kgfm. Com o conjunto novo, o carro vai do zero aos 100 km/h em 4 segundos e chega aos 294 cv. Se for equipado com o pacote Sport Chrono, o tempo cai para 3,9 segundos. Tão rápido que você nem vai perceber.
Por ora, somente o GTS e o Carrera serão oferecidos com as atualizações. O GTS terá opções de tração integral ou traseira no cupê e no conversível, mas somente integral no Targa. Enquanto o Carrera começa apenas com as versões cupê e conversível, sempre com tração traseira e somente com o câmbio PDK.
Se a Porsche não inventar um modelo especial para colocar o câmbio manual de seis ou sete marchas, será a primeira vez em 60 anos que o 911 não terá uma opção manual.
A Porsche, com sua incrível capacidade de pegar coisas chatas e transformá-las em algo muito legal, surpreendeu praticamente todo mundo ao trazer um sistema híbrido fora do lugar-comum dos híbridos dos últimos anos. Como disse no início, o conjunto claramente reduz emissões e consumo, mas ele não parece ter sido feito com essa finalidade. É um jeito mais inteligente e eficaz de aumentar a aceitação dos híbridos no segmento dos esportivos e que tem potencial para entregar um tempero extra na pilotagem do carro.
Os fãs mais conservadores vão reclamar, sem dúvida, porque reclamar virou o esporte favorito da sociedade moderna — e o fã-clube da Porsche sempre teve muitos adeptos dessa prática. Mas até agora a Porsche acertou em quase todas as evoluções do 911, recuando apenas na retirada do câmbio manual do GT3 991. Dificilmente ela irá errar com esse T-Hybrid. Mal podemos esperar para conferir isso pessoalmente.