Tente ignorar o jeitão de kit car do Connaught Type-D GT, com seus faróis de formato meio indefinido, proporções um tanto desajeitadas — a carroceria é alta e larga, fazendo as rodas parecerem um tanto pequenas demais e dando um aspecto pesado ao carro — e o nome que não é exatamente memorável. Mas tente de verdade, porque se trata de um carro bem interessante, que estava alguns anos à frente de seu tempo, ainda que jamais tenha sido produzido em série.
Mas o que esse tal de Type-D GT GT tem de tão especial? Primeiro: um motor V10 de dois litros na dianteira. Segundo: um compressor mecânico em cima do motor. Terceiro: uma das primeiras aplicações práticas de um sistema híbrido em um carro esportivo, lá em 2002 — nada menos que 14 anos atrás, e muito antes de ficarmos babando na santíssima trindade dos supercarros híbridos, composta por LaFerrari, McLaren P1 e Porsche 918 Spyder.
A Connaught Engineering foi uma equipe de Fórmula 1 britânica que esteve ativa entre 1952 e 1959. Seus carros participaram de 18 Grand Prix neste meio tempo. Ao longo de sua existência, a Connaught conseguiu um pódio uma vez, em 1956, no GP da Italia de 1956, disputado em Monza. Ron Flockhart, famoso por vencer as 24 Horas de Le Mans de 1956 e 1957, foi o terceiro colocado na prova ao volante do Connaught Type B.
Mais de quatro décadas depois, em 2002, dois engenheiros da Jaguar decidiram trazer a marca de volta, comprando os direitos sobre o nome e mudando seu direcionamento: em vez de uma equipe de corrida, a Connaught renascida seria uma fabricante de carros esportivos. E seus novos donos, Tim Bishop e Tony Martindale, tinham planos bem ambiciosos.
Agora chamada Connaught Motor Company, a empresa anunciou durante a edição de 2004 do Goodwood Festival of Speed e disse que faria seu primeiro modelo de forma totalmente independente, utilizando componentes de fabricação própria até onde fosse possível.
O resultado foi uma demora de quatro anos até que, em 2006, o primeiro protótipo funcional ficou pronto. É o único que existe e hoje não se sabe de seu paradeiro. O fato é que, apesar de parecer só um mockup ou um daqueles conceitos que só rodam devagarzinho nos Salões do Automóvel, o Connaught Type-D GT “Syracuse” é totalmente funcional, e traz um pacote bem interessante.
O V10 desenvolvido completamente in house reflete a origem na Fórmula 1 da Connaught: muitos cilindros, pouco deslocamento — como dissemos anteriormente, um V10 de dois litros. Infelizmente as especificações técnicas jamais foram reveladas por completo, mas a Connaught dizia que ele entregava pelo menos 300 cv e 37,8 mkgf de torque, sendo capaz de acelerar até os 100 km/h em 4,3 segundos, com máxima de 273 km/h. Claro que, hoje em dia, há hot hatches que são capazes de fazer melhor (Civic Type R e Focus RS, estamos olhando para vocês), mas nenhum deles tem um V10 de dois litros com supercharger e 300 cv que foi há quase quinze anos, tem?
E tem mais: o Type-D GT tinha um arranjo mecânico bastante interessante. O motor V10 ficava instalado na longitudinal e em posição extremamente recuada, praticamente aninhado entre os bancos dianteiros. Por isto o painel tinha um desenho curioso, e o console central era extremamente largo para acomodar a transmissão manual de cinco marchas igual às usadas pelos Caterham, com diferencial traseiro de deslizamento limitado.
Isto permitia um espaço interno razoável para quatro pessoas mas, ao mesmo tempo, que o Type-D fosse bem curto — apenas 4,26 metros. E o carro pesava só 949 kg graças à carroceria de alumínio sobre uma estrutura mista, feita com tubos de aço e um monobloco de fibra de vidro, com suspensão independente por braços sobrepostos do tipo duplo-A.
Depois de apresentar o carro ao mundo, em 2006, a Connaught revelou que planejava substituir o compressor mecânico por um motor elétrico, usando supercapacitores (não muito diferentes do que a Toyota utiliza em seus protótipos Le Mans) no lugar de baterias, acumulando energia das frenagens. A Connaught afirmou, na época, que já estava trabalhando em um protótipo, e que o ganho de potência foi tão grande que eles decidiram abandonar o compressor mecânico e adotar o sistema híbrido.
Como sabemos, no entanto, isto nunca aconteceu. Ainda que planejasse produzir 300 unidades do esportivo por ano — e até tenha recebido incentivos do governo britânico para tal, a Connaught acabou desaparecendo do mapa depois de 2008. Tudo o que eles deixaram para trás foi um website morto e esta história para contar. Ah, e o delicioso ronco de seu motor V10 de dois litros. Escute no vídeo abaixo, que só tem dez segundos, mas é o suficiente para nos deixar babando.