Olá, pessoal! Se você perdeu o 1º capítulo da saga, recomendo que você leia para entender toda a novela que foi para o Yellow chegar até mim. Se você acompanhou, obrigado pela leitura, paciência e comentários, inclusive os malditos da música do Corsinha amarelo.
No capítulo anterior, eu relatei sobre a paixão e postei fotos do 1º GSi (preto). Algumas pessoas me perguntaram por que não fui atrás dele ao invés de comprar o amarelo. Bom, vamos lá….
Como eu havia dito, o meu pai passou o carro para minha tia, que não transferiu para o nome dela, que vendeu o carro para um 3º que também não transferiu. Ou seja, esse Gsi sempre esteve no nome do meu pai, sendo assim, era impossível acha-lo. Até que um dia (eu já tinha o Yellow) uma pessoa comentou no grupo de WhatsApp que havia comprado um teto solar de uma sucata e queria saber como adaptar em Corsas normais. Foi aí que descobri da maneira mais triste possível, que o Gsi preto tinha chegado ao fim da vida.
Naquele momento fiquei sem reação, era uma mistura de saudades, decepção, tristeza, ódio e lembranças boas! Viagens, rolês, amigos, os encontros, as aceleradas, o dia que ele chegou, o dia que o vi pela última vez, tudo misturado com a raiva de como alguém poderia deixar um carro emblemático como aquele chegar a esse ponto. Eu não queria acreditar, por dias essas imagens me entristeceram e toda a esperança de um dia reencontra-lo rodando por aí, tinham se acabado. Enfim, ele foi muito importante para mim e mesmo tendo um final triste, essa é imagem que sempre vou guardar dele!
Luto vivido, bola para a frente…
Voltando ao Yellow. Sem exagero e perdão da palavra, o carro quando chegou era uma b0st@! Vou relatar algumas coisas para que vocês não achem que sou exagerado ou que esteja mentindo:
– ar condicionado não funcionava;
– retrovisores elétricos não funcionavam;
– desembaçador não funcionava;
– direção hidráulica vazando absurdamente;
– barulho no motor parecido com um moedor de cana;
– bancos com jogos e as espumas já tinham acabado fazia tempo;
– faróis paralelos de uma marca vagabunda com o foco descascando;
– lanternas traseiras uma original trincada e uma paralela de outra cor;
– vidro do passageiro não funcionava pela porta do motorista;
– o carro tinha 1 chave pra abrir a porta do motorista, 1 chave para ligar e abrir a porta do passageiro e 1 chave de tampa de tanque (a tampa não tinha chave) então não sei por que veio;
– Falta de tampas de acabamento de soleira, colunas e bancos;
– regulagem de altura do banco não funcionava;
– o volante estava sem couro;
– acrílico do painel riscado e faltando o pino do odômetro;
– todas as luzes de erro do painel estavam acesas;
– o Tid havia sido trocado pelo do Corsa GL, que só marca a hora;
– sensor de temperatura externa não existia;
– ABS não funcionava;
– A ventoinha não desligava mesmo com o carro gelado;
– A frente do carro totalmente desalinhada (capô, paralamas, parachoque e faróis);
– Parabrisa trincado;
– alarme não funcionava;
– A chave original com lâmpada não acendia;
– Portinha da tampa do tanque quebrada e a trava também não funcionava;
– Trava elétrica hora funcionava, hora não;
– Trambulador totalmente desregulado, a 5ª marcha entrava quase que no porta luvas e a ré não precisava puxar o acionador;
– manopla do câmbio solta;
– porta luvas de cor diferente do painel;
– grade do parachoque quebrada, após “incidente”;
– forros de portas e laterais traseiras quebrados;
– vazamento na linha de arrefecimento;
– caixa do filtro de ar quebrada;
– reservatório do fluído da direção vazando.
Essa “pequena” lista foi apenas o que um “leigo” como eu observou. Ainda tinha toda a parte mecânica e elétrica que seria avaliada posteriormente pelos profissionais envolvidos.
Apontando os defeitos, consegui um “desconto” do valor combinado. Fiz todo o trâmite financeiro e levei o antigo proprietário na rodoviária. Lembram que a data não foi cumprida e a passagem aérea foi perdida? Então, ele teve que voltar de ônibus.
Agora não tinha mais volta! O jeito era ir com calma, paciência e muito inve$timento para trazer o Gsi as devidas e merecidas condições. Se os carros “possuem” vidas, eu preciso dar os parabéns para o meu, pois nesses 21 anos, ele foi guerreiro e sofreu muito na mão de péssimos proprietários!
Peguei o carro, fui até o meu mecânico de confiança e analisamos. Como esperado, as notícias não eram boas. Seria necessário tirar a mecânica inteira fora e revisar tudo! Assim, combinamos a data da internação e um “possível” orçamento (que ilusão). Acredite, se o mecânico te passa um valor x, já se prepara para 2x, 3x ou 4x….
Voltei com o carro para casa, com a sensação que a jornada ia ser longa! E assim, até o dia da internação ele ficou parado e eu comecei a caça atrás de peças, acabamentos e afins que faltavam.
Após uma semana, o carro retornou para o mecânico. Abaixo algumas fotos do processo de “destrinchação” do Gsi.
Bom! É agora que a criança chora e a mãe não vê! A cada passo que se dava, algo aparecia para ser consertado ou substituído. Foi então que a surpresa chegou:
– O bloco tinha um risco no terceiro cilindro (retífica);
– Polimento do virabrequim, apesar de novo havia um risco.
– Bomba da direção hidráulica;
– Caixa de direção;
– Retífica do cabeçote;
– Troca dos tuchos;
– Troca das válvulas;
– Correia dentada;
– Capa da correia dentada;
– Radiador;
– ventoinha;
– Mangueiras;
– reservatório de expansão;
– Cabo da embreagem e acelerador;
– Buchas da suspensão;
– Caixa do filtro de ar;
– Mangueira do filtro de ar e sensor;
– Coletor de admissão quebrado;
– Suporte do Tbi quebrado;
– Alternador adaptado;
– Motor de partida fazendo barulho;
– Kit de reparo do trambulador;
– Compressor do ar condicionado;
– Condensador do ar condicionado;
– Mangueiras do ar condicionado;
– Roda fônica;
– Vários suportes e travas;
– Bateria;
– EGR (pra variar);
– ABS;
– Bronzina de biela e mancal;
– Sonda lambda;
– Cárter;
– Homocinética;
– Coxim de motor e câmbio;
– Ponta de eixo traseiro;
– Válvula termostática;
– Freios e mais “algumas” coisas…
Com o orçamento na mão, enfiei a viola no saco e fui para casa dar a notícia à Dona Onça. Lógico! Nós brigamos, discutimos e vi todo o meu sonho ir pelo ralo. O meu plano de vender a HD 883, comprar o Gsi e o restante ir para poupança, ficaria muito distante! Eu teria que usar o dinheiro que sobrou e mais um pouco para deixar a parte mecânica em ordem.
É meu nobre leitor, aquele momento que você quer cavar um buraco e entrar dentro dele. O que fazer? Vender o Corsa “desmontado” por um valor simbólico e tentar ao menos empatar o prejuízo? Picá-lo igual a alguns mercenários sanguessugas de Gsi que existem por aí? Encostar ele na garagem, não usar o dinheiro prometido para a poupança e aos poucos guardar e tentar arrumá-lo um dia quem sabe?
Foram dias angustiantes, o clima não estava nada bem em casa e o Gsi continuava largado na oficina. Por um lado, eu entendia o lado da patroa, por outro lado, eu não tinha culpa da voadora com os 2 pés no peito que havia tomado. Meus planos sempre foram 1/2 da 883 para o Gsi e 1/2 para a poupança, mas nem sempre as coisas saem como a gente imagina. Nesse momento eu lhes escrevo em caixa alta para que não haja dúvidas: NUNCA! EM HIPÓTESE ALGUMA! COMPRE QUALQUER COISA USADA QUE VOCÊ NÃO POSSA VER PESSOALMENTE OU LEVAR PARA ALGUÉM ANALISAR ANTES. MUITO MENOS COMPRE ALGO NO CALOR DA EMOÇÃO, QUE ASSUMO TER SIDO O MEU PONTO FRACO NESSA NEGOCIAÇÃO.
Enfim, após alguns dias, chegamos à conclusão que era um caminho sem volta. Meio contrariada e com raiva, a patroa concordou que o melhor seria a gente arrumar o Gsi. Entrei em contato com o antigo proprietário, relatei os fatos e ele se prontificou a me ajudar com algumas peças (algumas só chegaram meses depois que o Corsa já estava funcionando) e assim iniciamos o ardo processo mecânico.
Achar peças para um Gsi, que parou de ser fabricado a 20 anos, não é nada fácil! Além do que eu moro no interior de São Paulo e a cada passo que se dava, novos problemas eram encontrados. Então toda vez que precisava de alguma peça, o prazo para entrega era de no mínimo três dias causando ainda mais lentidão no processo. Com isso, o Corsa ficou no fundo da oficina. Abaixo algumas fotos do processo.
Devo dizer que se o mecânico não perdeu a amizade comigo nessa fase, ele nunca mais vai perder (Obrigado Mecânica Botion). Eu ia todo santo dia na oficina encher o saco e ver como as coisas estavam. Saía do trabalho as 17:30 e ia lá.
Enquanto isso, aproveitei para correr atrás de alguns detalhes. Ele veio com as Ventiladores (Vectra Gsi) aro 15″, não gosto dessas rodas (desculpem os apaixonados). Com isso saí a caça de um jogo original, vendi as rodas e os pneus, comprei as 14″, reformei e coloquei quatro pneus novos.
Os retrovisores estavam quebrados, sempre fui fã dos retrovisores Indy Modelo M3, que eram usados na antiga Copa Corsa. Consegui um jogo em bom estado e pintados já em amarelo, fiz a instalação do mecanismo elétrico neles.
Consegui uma grade em bom estado e os borrachões do parachoque, mais conhecidos como Mosca Branca de Olhos azuis.
Comprei as lanternas traseiras originais e os faróis máscara negra da Pickup Sport.
Jogo de fechaduras completo. Chave com lâmpada e reserva
As borrachas “pingadeiras” exclusivas do GSi, que ao longo dos 20 anos sumiram do carro
Isolante do capô
Suporte do sensor de temperatura externa
Capa da bateria
Isolante da parede corta-fogo
Trava da portinholaa do tanque
Guia do parachoque do GSi
Mandei revestir o volante de couro e fiz o detalhe da costura em vermelho
Acredite! Algum “abençoado” tirou a cortina do teto. Consegui essa e mandei trocar o tecido
Adeus tampão “chora boy”
Capa do extintor
Acabamentos do cinto de segurança
Tampa dos parafusos das soleiras
Rele Cigarra, aquele que apita com o farol aceso e a porta aberta
Suporte do tampão
Tampa da dobradiça do banco traseiro
Quatro manuais e quatro VHS originais de Manutenção e Instruções do Corsa Gsi, isso é muito raro!
E após longos seis meses, ele saiu da oficina. Vejam a minha alegria no dia que ele ficou pronto…. ou quase.
Quando eu comprei o carro, o antigo proprietário disse que o ar funcionava, mas isso não era verdade! O compressor não prestava, as mangueiras estavam todas dobradas e com vazamentos, o condensador era “xingling”, havia sido adaptado e os botões do painel não funcionavam (esse papo de vendedor que o ar só precisa de uma carga em 99,99999% das vezes é mentira).
Após algumas conversas, ele se comprometeu a enviar um kit completo (compressor, mangueiras, condensador, caixa de ar, suportes e o painel), só que isso demorou muito! Chegou ao ponto, que ou eu tirava o carro sem ar condicionado ou o carro ia ficar parado na oficina. Como não sabíamos se ele iria mesmo enviar, optei por tirar, esperar e resolver isso posteriormente. Mesmo sem AC, pude curtir o carro, afinal havia passado quase 1 ano que eu estava com o carro e não tinha andado nada com ele.
Enquanto a novela do ar continuava, resolvi tocar o processo interno. Mandei revisar a parte elétrica, vidros, travas, retrovisores, alarme, instalei o Tid e um CD “original”, instalei a cortina do teto e o mecanismo elétrico do teto do Omega (plug and play).
Muitos não sabem, mas existem diferenças entre os Ssi 94,95 e 96, umas delas é o alarme, todos são acionados com a chave quando se travam as portas, porém os 94 e 95, não possuem sensor de presença, ele só dispara abrindo as portas, capô ou o porta malas. Como é um item muito ultrapassado, optei por instalar um alarme mais moderno e seguro.
Já podia curtir o carro e dar uns rolês com a patroa nos finais de semana. Mas toda vez que isso ocorria, ela reclamava dos bancos que machucavam, as espumas estavam ruins, sendo assim partimos para a restauração dos bancos. Os tecidos “do meio”, raios vermelhos estavam bons, mas os navalhados cinzas lisos precisavam ser todos trocados. Por sorte, o tapeceiro local tinha um rolo desse tecido e foi possível manter a originalidade. Seguem fotos de antes e depois do serviço.
Antes:
Depois:
Aproveitei e comprei um jogo de tapetes personalizados.
Com o interior reformado e a mecânica em ordem, eu encerro mais um capítulo. Aguarde os próximos episódios e novos imprevistos. Muita coisa ainda está por vir! Um forte abraço e até a próxima!
Por Junior Zumpano, Project Cars #469