Lançado no Brasil em 2007, o Renault Logan era bem diferente antes de se tornar um gêmeo de três volumes do Sandero. Com linhas retas, faróis pequenos e proporções truncadas, seu design remetia à década de 1990. O acabamento era bem mais simples e barato, mas o espaço interno era acima da média, e a mecânica já era conhecida da linha Renault no Brasil. Logo o projeto romeno abrasileirado tornou-se sinônimo de carro feio, porém competente para uso no dia-a-dia.
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O Logan é o tipo de carro que, em inglês, costuma ser chamado de workhorse – “pau para toda obra”, em uma tradução livre. A gente não costuma enxergá-lo como um carro entusiasta. E é justamente por isto que a ideia de um Logan de competição soa tão alienígena.
Mais especificamente, de um Logan de rali – um carro que quase existiu de verdade, com equipe de fábrica e tudo: o Logan S2000.
Não foi uma iniciativa da Renault, mas sim da Dacia, a subsidiária romena da empresa, criadora da plataforma original de Logan, Sandero e Duster.
A ideia era adequar-se a uma nova categoria de rali que a FIA anunciou em 2005 (de fato, dois anos antes da estreia do Logan no Brasil), a Super 2000 ou simplesmente S2000. Precursora da atual WRC2, a S2000 era a classe intermediária entre a Super 1600 (usada no WRC Junior) e a categoria principal. Inicialmente, exigia-se motores naturalmente aspirados de até 2.000 cm³, mas hoje em dia também são permitidos motores 1.6 turbinados. A potência máxima é limitada em 280 cv, e o câmbio é sempre sequencial de seis marchas, fornecido pela Sadev.
Com modificações relativamente simples na mecânica, na carroceria e na suspensão, a S2000 visava oferecer às fabricantes a oportunidade de manter uma equipe de fábrica no WRC a um custo mais baixo – tanto que hoje, fabricantes como a Skoda, a Lada e a Seat mantém programas no WRC2 ao lado de empresas como Volvo, Citroën, Ford e Chevrolet, optando por não ingressar na categoria de topo.
As circunstâncias do projeto são um tanto misteriosas. Acredita-se que, com o sucesso imediato do Logan em sua terra natal, onde foi lançado em 2004, a Dacia tenha convencido a Renault a vender o sedã na Europa Ocidental. Sua participação na S2000 poderia servir como chamariz para o público. A Dacia foi, na verdade, a primeira fabricante de carros a iniciar o desenvolvimento de um carro para a WRC S2000.
As informações sobre o carro são escassas. Sabe-se que ele tinha um motor 2.0 naturalmente aspirado com potência entre 260 cv e 280 cv, e utilizava, obviamente, a transmissão sequencial de seis marchas Sadev exigida pelo regulamento. Este também exigia o uso de suspensão MacPherson nas quatro rodas. De acordo com o que se sabe, muitos componentes foram reaproveitados do Renault Clio S1600 que já competia na época, como os freios (discos de 343 mm na frente e 265 mm atrás) e demais sistemas.
O projeto teve início em 2005, e levou dois anos para que o primeiro e único protótipo construído fosse testado pela primeira vez em 2007, com o piloto Simon Jean-Joseph ao volante. Existem apenas um punhado de fotos e um único vídeo do carro em ação, todos em resolução baixa – mais nenhuma documentação visual.
O programa do Dacia Logan S2000 foi cancelado pouco depois, sem razão aparente. Acredita-se que a Renault decidiu que não era uma boa ideia investir na criação de um segundo carro de rali quando já havia o Clio S1600 – que, entre o público ocidental, tinha um apelo muito maior. Desde 1999, quando foi comprada pela Renault, a Dacia agiu como sua marca de baixo custo. Mesmo que o carro fosse oferecido a clientes, cada um deles custaria entre € 110.000 e € 150.000, o que efetivamente ia contra a proposta acessível do Logan.
Agora, embora não tenha entrado para o WRC, o Logan acabou virando carro de competição: ainda em 2007, foi inaugurada a Logan Cup, categoria monomarca na qual os carros continuam usando o motor 1.6 de 90 cv original de fábrica. As modificações são concentradas na redução de peso e em melhorias na suspensão, freios e pneus. E os carros que competem ainda são da primeira geração.
As corridas da Logan Cup acontecem em circuitos na Alemanha, na França, na Rússia e na própria Romênia. Alguns dos carros da Logan Cup também disputam o Campeonato Romeno de Rali sob as regras do Grupo N, com motor preparado para entregar 95 cv.