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De São Paulo ao Uruguai: uma viagem de 4.000 km com um Passat LS 1977 1.5 placa preta

O ano era 1977… não, espera! Julho de 2017! Isso mesmo leitor, você não leu errado, 40 anos depois de ter saído das linhas de montagem da Volkswagen em São Bernardo do Campo o velho Fastback fez um bate e volta de São Paulo (Capital) à Punta del Este em uma semana rodando cerca de 4.000Km, praticamente ininterruptos.

O modelo em questão pertence ao amigo Rodrigo Accioli. Ele é um dos nossos e amante de carros. Este Passat LS 1977 foi comprado há pouco mais de três anos, alguns ajustes foram feitos e o carro foi submetido à rigorosa inspeção realizada pelo Fusca Clube do Brasil para obtenção da placa preta. Passou com louvor na vistoria.

Este carro não foi escolhido à toa, pois o referido modelo foi praticamente o primeiro veículo do Rodrigo quando ele tinha 19 anos ainda na década de 90, justamente um Passat muito parecido com o das fotos, Passat dado pelo seu pai, sr. Luiz Accioli.

Rodrigo tinha uma ideia que martelava sua cabeça havia anos: fazer uma longa viagem com um veículo antigo, porém sempre havia uma desculpa, contratempo, outra prioridade. Só que em 2017 Rodrigo estava decidido a fazê–la e uma perda na família adiantou as coisas. Seu sogro, carinhosamente apelidado de “Nininho” andava triste pois havia perdido sua esposa repentinamente. Diante disso, Rodrigo decidiu que tiraria o sogro de casa a fim de distraí–lo com essa viagem maluca!

Objetivo traçado e planejamento realizado, Rodrigo então pegou algumas dicas com outros amigos que já fizeram o mesmo trajeto (o amigo Luciano Kobal já fez a mesma viagem por duas vezes — uma com um Gol GT e outra com um Passat GTS Pointer), convocou também para a empreitada seu pai, sr. Luiz Accioli, seu primo Ronaldo Machado, nosso amigo e mecânico sr. Luiz Manzini (um inspirador para a realização da viagem com um veículo antigo) e o cara que vos escreve. Já adianto que declinei por falta de habeas corpus de dona patroa. Seria na mesma semana do aniversário dela, então não tive argumentos suficientes!

O plano B, no caso de ocorrência de algum problema mais grave, estava estabelecido também: carro retornaria de guincho e os passageiros de ônibus, simples assim!

O Passat desde que foi adquirido, sempre foi confiado ao nosso mecânico e amigo Edison Noronha (carinhosamente chamado pelos mais próximos por “Du”), que se encarregou de executar uma revisão detalhada para a viagem:

De São Paulo à Punta del Este de Passat 77_última versão

Rodrigo e Edison Noronha

Carro revisado, algumas peças de contingência no porta-malas (ou seja, praticamente metade ocupado com ferramentas, mangueiras, correias, bobina, distribuidor completo, bomba d’água, bomba de combustível, cabos, condensador e platinado), sobrou a outra metade onde colocamos cinco mochilas, uma de cada passageiro e pé na estrada!

Sim, cinco pessoas dentro do velho Passat! Apenas três manifestaram interesse em “pilotar”: Rodrigo, Ronaldo e, claro, o Luizinho Manzini (se deixasse ele iria dirigindo daqui até lá). Os aposentados, Luiz Accioli e Nininho, queriam mesmo curtir o título de aposentados… nada de volante!

Então às seis da manhã de uma segunda-feira a saga começava. Rodrigo, com o Passatão, buscara todos em casa e no terceiro embarque na casa do Luizinho o mesmo se trancara para fora de casa acreditando ainda que sua carteira estava dentro quando na verdade acharam a carteira caída na calçada. A palhaçada já começava ali.

Conforme o combinado, eles fariam o percurso sentido Uruguai em dois dias, ficariam dois dias por lá passeando e mais dois dias de estrada novamente na volta à São Paulo e assim foi feito.

De São Paulo à Punta del Este de Passat 77_última versão

Luiz Manzini ao volante e Rodrigo à esquerda 

Durante o referido dia o primeiro “problema” surgiu: deformação do pneu dianteiro direito ao sair de um posto de combustível em Florianópolis; pararam para troca e seguiram viagem.

De São Paulo à Punta del Este de Passat 77_última versão

Trocando um dos pneus deformados

Após 12 horas desde a saída de São Paulo e com aproximadamente 50% do trajeto de ida concluídos com sucesso (e já com a “ficha caída”), a primeira noite foi dormida em Passos de Torres/SC em uma pousada que honrava o passeio, chamava – se “Pousada Aventura”.

No dia seguinte, café da manhã e estrada logo cedo, pararam por volta das 12:00hs já em Pelotas/RS para abastecer, almoçar e encontrar mais um “Passateiro” (o amigo Rigro) para dar mais umas dicas e tirar umas fotos com o grupo.

Almoço feito, tanque cheio e de volta à estrada, notaram o segundo contratempo: o hodômetro do velocímetro acabara por travar mas, como era um problema que não atrapalharia em nada, seguiram viagem.

Com o friozinho do sul do país no mês de julho, além do calor humano gerado por cinco marmanjos, o útil e disponível ar quente do LS fazia a diferença. Enfrentaram muito frio e chuva neste segundo dia (e um pouquinho de água dentro do carro também!).

A partir daí uma preocupação existente se aproximava: a passagem pela fronteira. Apesar dos cuidados e preparação — são exigidos um seguro para o veículo chamado de Carta Verde (valor aproximado de R$ 150,00), documentos do veículo em ordem e RG original) — um dos picaretas não conseguira tirar a 2ª via de seu RG antes da viagem e seguiu apenas com a CNH, documento que não seria aceito. O Passat se aproximava da cidade de Chuí (fronteira Brasil x Uruguai) e a tensão aumentava. Chegando à fila de carros na fronteira com a “pastinha” na mão e documentos de identificação de todos, mais o tal seguro Carta Verde do carro em mãos, a autoridade da fronteira simplesmente não pediu absolutamente nada e indicou para seguir direto, sem sequer precisar descer do carro! Vá entender!

Passada a Fronteira e com o dia dando lugar a noite, uma parada para algumas fotos para eternizar a viagem.

Já em território estrangeiro e sem comunicação com as famílias (ninguém habilitou o pacote de dados internacional pois a idéia era utilizar Wi-Fi de lanchonetes e hotel), contamos apenas com um GPS off-line que nos conduziu pelas estradas do Uruguai até o destino. No referido trecho foram muitos quilômetros sem postos ou ocupação de casas ao longo da rodovia e o pensamento era: carrinho, nada de quebrar aqui, beleza?  O velho VW respondia com seu rodar firme e sua tocada ímpar no alto de seus 41 anos.

Com certo atraso, às 23:00 da terça-feira o Passat estacionou em Punta Del Este, com seus passageiros sentindo uma mistura de alegria e cansaço indescritíveis!

De São Paulo à Punta del Este de Passat 77_última versão

El Passat de la mano

Saldo da ida: todos literalmente “arrebentados” mas felizes, muitas e muitas histórias e risadas, “bundas quadradas”. Resumindo bem, “doideira geral”. Cinco caras em um carro antigo, muitas horas sentados, mas tá valendo!

Apenas um pneu deformado, odômetro travado e 500 ml de óleo de motor gastos. Foi uma felicidade muito grande para todos, com todo o respeito, uma p*ta satisfação!

A quarta-feira e a quinta-feira foram dias de passear em Punta del Este e Punta Balena. Claro que rolou muita bagunça: café da manhã no hotel, jantar de pizza e hambúrguer, tentativas de desenrolar um “portuñol”, diversão no cassino, e uma passagem em um bar temático com cenário automotivo, o Garage Bar.

De São Paulo à Punta del Este de Passat 77_última versão

 

Garage bar

Na entrada do Hotel/Casino Conrad, mais algumas fotos meio que “escondidas” até que foram surpreendidos por um dos gerentes: depois de alguma explicação com o espanhol “afiado”, ele não apenas entendeu a situação, mas também deixou todos bem a vontade para mais algumas poses:

De São Paulo à Punta del Este de Passat 77_última versão

Hotel e Casino Conrad

Chegou a sexta-feira e a hora de voltar: mais 1.800Km de estrada pela frente. Com a confiança adquirida na viagem de ida, a velocidade de cruzeiro foi aumentada para 110 km/h e tudo correu perfeitamente bem. O único senão foi mais um pneu deformado. Fora isso o velho Volkswagen com seu EA 827 de 1,5l da geração denominada BR aguentou honrosamente todos esses quilômetros com cinco passageiros, bagagem e 40 anos nas costas. No sábado à noite o velho guerreiro estava de volta à sua garagem, no bairro do Jabaquara, Zona Sul de São Paulo.

Saldo da viagem: um fortalecimento de amizades, algo inesquecível para contar para amigos, filhos, netos entre outros e uma imensurável amostra de carinho do Rodrigo com seu sogro. Acredito que nesse mundo corrido de hoje, devemos planejar menos e fazer mais, a vida é uma só, o tempo passa e não volta, outro dia tínhamos 18 anos e hoje já estamos nos 40! Se você tem vontade de fazer algo com os “pés no chão”, faça, não passe vontade!

De São Paulo à Punta del Este de Passat 77_última versão

Los cinco amigos

Um abraço!