Quando Ferruccio Lamborghini fundou a fabricante que leva seu sobrenome não queria vencer corridas, e sim garantir que seus carros de rua fossem os melhores esportivos da Itália. Mais especificamente, melhores do que os da Ferrari.
Isto não impediu, contudo, que se aventurassem pelo automobilismo vez ou outra. Como aconteceu em 1997, quando a companhia francesa Signes Advanced Technology, ou simplesmente SAT, foi contratada para criar um carro de corrida a partir do Lamborghini Diablo. A ideia era que o supercarro seguisse o regulamento da categoria GT1 da FIA – a mesma que deu ao mundo o Porsche 911 GT1, vencedor das 24 Horas de Le Mans de 1998.
Enquanto a SAT se encarregaria de realizar as modificações estruturais e na carroceria, a Lamborghini forneceria o motor e se encarregaria de todo o processo de homologação, que exigia que fossem fabricados pelo menos 25 exemplares de uma versão de rua.
Em 1997, o Diablo usava um motor V12 de 5,7 litros que, na versão GT, entregava 583 cv. O regulamento da GT1 permitia motores de até seis litros e 600 cv e, para alcançar tais números, a Lamborghini ampliou o curso dos pistões e reprogramou o sistema de injeção. De acordo com o site Lambocars, especializado na história dos touros italianos, o resultado foram nada menos que 664 cv. Talvez a ideia fosse amansar o motor antes de apresentar o carro à FIA.
A carroceria também era um tanto diferente, feita toda de fibra de carbono pela própria SAT. O bodykit era novo, trazendo um gigantesco spoiler na dianteira, dutos no capô e uma traseira mais baixa, dando uma postura ainda mais sinistra ao Diablo. Além disso, toda a porção traseira podia ser removida para facilitar o acesso ao motor V12. Os faróis escamoteáveis deram lugar a peças fixas, com projetores e uma lente de que deixavam espaço para pequenas entradas de ar na parte superior. Atrás do para-choque dianteiro ficava um radiador de óleo.
A SAT também retrabalhou toda a geometria da suspensão e modificou o interior com uma gaiola de proteção integral, e não muito mais do que isto. Há também um novo console central, com a alavanca da caixa sequencial de seis marchas Hewland. Fora isto, o visual do lado de dentro é bastante similar ao original.
“Então existem 25 carros como este por aí, Flatout?” Não: existem apenas dois. Os carros foram apresentados para à Lamborghini em abril de 1997, e também aos oficiais da FIA, que confirmaram a homologação do bólido.
Acontece que, naquela época, a Lamborghini estava em transição, prestes a ser comprada pela Audi. Com isto, a fabricante julgou que seria imprudente continuar investindo no projeto sem saber se os novos donos o levariam adiante. Assim, o programa foi cancelado, e a fabricante não quis sequer ficar com os dois carros.
Um deles, branco, foi vendido para um clube de proprietários de Lamborghini no Japão, que correu com o Diablo GT1 no Campeonato Japonês de Turismo por alguns anos. O outro, amarelo, ficou com a SAT e, até pouco tempo atrás, era possível vê-lo em exposição na fábrica.
Note os dutos aerodinâmicos que começam no teto e desembocam na asa traseira
Há algumas semanas, porém, o carro apareceu à venda em , que o anunciou com preço sob consulta. No entanto, alguém deve tê-lo comprado, pois o anúncio saiu do ar. Por uma fortuna, imaginamos.
Fotos: Lambocars, Mistral Motors