Prezados caras! A nossa vida é movimentada por escolhas! Fato. Não importa em qual direção decida seguir, a certa altura do caminho, você sempre irá se perguntar sobre o caminho contrário, e se não teria sido melhor ter seguido por ele. E, como não podia deixar de ser, isso está acontecendo comigo agora.
Vamos contextualizar, eu sempre sonhei em possuir um muscle car — brasileiro ou americano. Em 2002 quando eu pedi demissão da concessionária Toyota onde trabalhava para montar minha oficina, uns dias antes de se mudar para Sinop/MT, a cidade que tinha em mente para o empreendimento, fui visitar a mecânica de um amigo.
Lá chegando me deparei com um Maverick azul marinho metálico, cara de poucos amigos, munido de rodas gaúcha calçadas com pneu Cooper Cobra, e o mais importante um motor V8 302 inquieto debaixo do capô urrando vorazmente. E estava à venda! O valor do carro era exatamente o valor do acerto que eu tinha recebido. E agora comprar ou não comprar? Eis a questão.
E o que aconteceu? Bem, a minha fala com vocês hoje aqui da Confraria FlatOut é justamente por não ter comprado aquele carro!
Agora, falemos do Dodge. Mesmo esperando mais de 11 anos, eu acredito que fui um pouco afoito quando comprei o nosso Charger, mesmo levando em consideração uma busca de mais de três meses quando decidi que era chegado o momento de fato pela aquisição, poderia ter esperado mais.
Não que eu esteja infeliz ou arrependido com o meu carro! Em realidade, minha posição é absolutamente oposta a isso; sonho com ele todo dia! Sempre que vou visita-lo no estaleiro, me sinto absorto em um momento transcendental, onde me encontro um homem de alma desarmada, como um guri que espera o carrinho no natal, contemplando seu projeto motorizado, imaginando o momento da partida inaugural!
Minha intenção é lhe dar um conselho, realize seu sonho automotivo com a melhor e mais completa versão que o carro dos seus sonhos já teve, seja paciente e muito criterioso na escolha. E nesse quesito Deus me abençoou, comprei o Dodge sabendo que era um Charger R/T de plaqueta, apesar disso, era o mítico Amarelo Montego 75, um dos Dodge mais cobiçados, dado esse que descobri depois.
Pense e cheque todas as variáveis possíveis, inclusive levando em altíssima conta quem serão os futuros profissionais que trabalharão no seu carro. E olha que eu farei a parte mecânica, portanto só dependo de funileiros e pintores.
E é por causa deles, que parei para pensar sobre o outro caminho, quando se chega ao ponto que me encontro agora, com a paciência sendo posta à prova toda semana devido a serviços suínos.
Que outro caminho seria esse?
Talvez poderia ter comprado um carro pronto e dado somente aquele toque pessoal na ‘caranga’, em oposição ao que eu fiz de comprar um carro para fazer, ou melhor refazer do zero.
A vantagem da escolha por qual eu optei, é a de que eu saberei exatamente o que tem por baixo, sem nenhuma camuflagem, e até mesmo em uma (im)possível valorização em um futuríssimo, longínquo e improvável, momento de venda.
Reflita comigo, e se você adquirir um carro pronto, pelo preço de um fígado, embora que foi restaurado por um picareta? O que fazer depois de descobrir a picaretagem?
Você deve estar pensando o porquê do tom “segunda feira chuvosa e cinzenta” em minhas palavras iniciais.
Aprenda isto, é deveras importante para um gear head, saber que um dos maiores mistérios da humanidade é a cabeça de um funileiro.
Assim como um pedreiro, o profissional automotivo em questão, no decurso de um serviço, toda vez que você questioná-lo do por que determinada peça do carro não está de acordo com o seu gosto ele responde: – ‘Ainda “numtá” pronto!’
Depois de alguns dias, a peça fica pronta e o defeito continua, e como está pronto vai desmanchar por que? Vai perder material, mão-de-obra, solda, tempo…
Outro elemento igualmente crucial, ele deve pensar que a mão-de-obra da sua restauração será feita de graça, (só pode!) em razão de que, é só aparecer um “retóquim”, que lá vai ele fazer e deixa seu serviço de lado, afinal é um “servissim rapidim”, e ele precisa levantar umas pratas, para amanhã se dedicar exclusivamente ao seu carro. Apesar de que, esse amanhã parece que nunca chega!
O Dodge fez um ano este mês no estaleiro e ainda nem apontou em direção ao seu término. Após uma conversa mais dura, o nosso ilustre funileiro resolveu terceirizar o grosso da preparação, para um “profissional” que viria trabalhar a noite, cabendo a ele dar o toque final. Apenas mais um drama!
Amigos, vocês acreditam que o serviço executado por este “profissional” terceirizado não pode ser qualificado de porco, pois seria francamente ofensivo aos suínos.
Ele simplesmente rebocou com massa poliéster as duas portas e os dois para-lamas do Dodge!
Eu estranhei a espessura da massa pelo buraco onde será instalada a maçaneta da porta, e questionei o meu funileiro sobre isso. Ele olhou, olhou, olhou, e de novo… Respondeu que “não estava pronto”, e que ainda iria retirar o excesso de massa do local para o preparo final, blá, blá, blá…
Como a vida dá voltas, durante a montagem para alinhamento do para-lama dianteiro direito, o nosso funileiro colocou o esticador para fazer uns ajustes, e assim nesse ínterim, escuta-se um barulhinho característico de algo se partindo, “tec”, parou o serviço e buscando a causa… a massa trincou! Trincou feio, trincou rude.
Diante disse, nosso intrépido funileiro resolve checar com uma lixadeira na mão, do jeito que ficou o serviço do “terceiro”, da maneira que trabalhou à noite, não se sabia ao certo o que tinha feito. Ele descobriu que o noturno profissional não rebateu nenhuma imperfeição da lata, e também não desamassou qualquer amassado, e o pior, passou massa por cima dos pontos de ferrugem! É mole?
No dia seguinte ele me chamou lá e me mostrou a lambança, e assumindo o erro, removeu por completo aquela camada espessa de massa das portas e para-lamas, para refazer todo o serviço novamente, com a menor quantidade de massa possível, que é o correto. O serviço está moroso, porém caprichado.
Neste caso, e por seriedades como esta, eu vejo que escolhi certo o funileiro para fazer o serviço. Apenas só é um “pouquim” enrolado.
Após esse imbróglio, o nosso Charger está no meio do preparo da pintura, ainda falta algumas soldas e alinhamentos, todavia já começou a andar o serviço!
Portanto toda essa melancolia inicial é causada pelos “profissionais” que temos a disposição. O engraçado é que para fazer um serviço decente, ou seja, rebater toda a lata e aplicar massa somente em locais específicos e que necessitem, é muito mais fácil do que fazer um reboco de parede como aquele.
Lembra do mistério da humanidade? Pois é, cabeça de funileiro…
Apesar disso, vamos mudar este tom em 180°, de “segunda-feira-cinzenta-chuvosa”, para “hoje-é-sexta-feira-e-segunda-é-feriado”!
Eu ganhei um carro numa rifa!
E não é qualquer carro, é um Opala 1979 com 83.000 km originais!
Aqui na minha cidade existe o AVAS, Associação de Veículos Antigos de Sinop, que promove e participa de encontros e eventos.
E no último encontro, promoveram o evento com um sorteio de um Opala, e eu comprei dois números da rifa de um amigo. Veja que interessante eu iria comprar apenas um número, o 617, e ele me convenceu a levar pelo menos dois, então eu pedi o 627, e ainda comprei fiado! E qual foi o bilhete premiado? Isso mesmo o 627!
O evento foi ano passado, no entanto, eu estava esperando algumas novidades do Dodge para falar tudo junto. Desculpem a demora!
Como bom gearhead, eu dei um talento no Opala, coloquei nele as rodas Magnum 500 com pneus Cooper Cobra que seriam do Charger, troquei o volante, revitalizei a grade dianteira e fiz um polimento geral!
Apreciem as fotos do Opala, e agora a bordo de um clássico, bem a espera pelo Dodge ficou muito mais divertida!
Até a próxima caras!
P.S.: eu sei a pergunta que você irá fazer! Eis a resposta: o motor do Opala é quatro-cilindros! E o que tem? Rsrsrs!
P.S. 2: a furação do Dodge é diferente do Opala, por isso troquei o cubo dianteiro e iria fazer novas furações para a instalação destas rodas.
Por Irineu Siqueira Neto, Project Cars #29