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Car Culture

É assim que se parece um Porsche 356 com 1,6 milhão de quilômetros rodados

Os melhores carros alemães são conhecidos por sua capacidade de proporcionar prazer ao volante, por sua durabilidade, por sua engenharia de primeira e por sua qualidade de construção e acabamento. Sendo assim, se fosse para escolher um carro que representasse o melhor dos automóveis germânicos, o Porsche 356 1964 do californiano Guy Newmark seria uma boa escolha.

Isto porque o carro está em sua família há mais de cinquenta anos, a maior parte deles nas mãos de Guy (que tem 72 anos), que o ganhou de seu pai como presente de formatura. E, neste mês de novembro, o carro virou 1.000.000 de milhas no hodômetro, número que fica ainda mais impressionante quando a gente lembra que é o equivalente a 1,6 milhão de quilômetros – dezesseis vezes mais do que os 100.000 quilômetros que, aqui no Brasil, usamos como parâmetro para considerar um carro muito rodado.

O feito rendeu até uma homenagem em vídeo feita pela própria Porsche, documentando até mesmo o momento em que o hodômetro de seis dígitos dá uma volta completa e passa de “999999” para “000000”. Naturalmente, a fabricante viu no 356 de Guy uma boa forma de chamar a atenção para a resistência de seus clássicos, mas isto é só um detalhe: a homenagem é legítima e merecida.

Guy conta que seu pai comprou o Porsche 356 do primeiro proprietário, que havia ficado com o carro por apenas alguns meses. Quando foi dado de presente a Guy, o Porsche tinha cerca de 80.000 milhas, ou cerca de 129.000 km, marcados no hodômetro.

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Para Guy, o segredo é simples: dirigir o carro sempre e não descuidar da manutenção. Dirigir sempre é a parte fácil – na verdade, Guy cultiva há décadas o hábito de inventar obrigações fora de casa para ter que dirigir o carro. E diz que às vezes, quando chega em casa, lamenta por ter sido tão rápido, pois queria continuar dirigindo.

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Carinhosamente apelidado de “Blu” (e sempre tratado no feminino, como os americanos costumam fazer com seus carros), o Porsche é surpreendentemente bem conservado para seus 52 anos de idade. A pintura é original, os acabamentos externos estão todos no lugar, e o mesmo acontece com o interior. Claro, há sinais na pintura e partes cromadas descascando, mas no geral o aspecto é bom. Na verdade, os detalhes deixam evidente que o carro é utilizado todos os dias e lhe conferem personalidade.

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Desde que está com o carro, Guy realiza uma revisão a cada 3.000 milhas (4.800 km), trocando fluidos e checando todos os componentes do carro. O motor boxer de 1,6 litro e 75 cv, por sua vez, já foi completamente refeito três vezes – o que dá uma média de 400.000 km a cada retífica, algo impressionante por si só. Sempre rodando com óleo limpo, o motor funciona como novo, e o último incidente aconteceu quando o hodômetro marcava 880 mil milhas, ou 1,4 milhão de quilômetros: enquanto dirigia, Guy ouviu um barulho estranho vindo do motor. Um dos contrapesos do virabrequim abriu o bico e desistiu de funcionar. A peça foi trocada e, desde então, nenhum outro passeio de Guy foi interrompido por problemas mecânicos.

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Claro, nem tudo são flores: em agosto de 2013, pouco depois de aparecer em um vídeo do Petrolicious (abaixo), o 356 de Guy foi roubado. Por sorte, o carro foi encontrado horas depois, apenas com alguns fios arrebentados debaixo do painel — o estrago típico de uma ligação direta. Teria sido um fim trágico para uma história tão longa e bonita.

Certamente que uma convivência tão fácil com o carro acaba gerando apego – caso o Porsche não fosse tão confiável e gostoso de guiar, talvez Guy já o tivesse vendido. Contudo, ele parece não enjoar nunca do carro. Ele sempre olha para trás quando estaciona Blu em algum lugar para admirar as curvas de sua carroceria, como se fosse seu primeiro dia com ele, e gosta de dizer que sua característica favorita é a completa ausência de linhas retas na carroceria. O carro é bonito, divertido e funciona como novo – não há sequer um rangido quando se está guiando. Precisa mais?

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Não, não precisa. “Quando penso no futuro com esse carro, só consigo me lembrar do passado, porque foi sempre igual. Meu futuro com ele será exatamente como foi nos últimos 50 anos, e eu acho que isto é maravilhoso”. A gente também acha, Guy. A gente também acha.

[ Fotos: Autobild.de, Petrolicious ]