Você pode amar ou odiar o Fusca, mas é impossível não admirar seu conceito levando em conta a época quando ele foi criado. Sua plataforma era tão versátil que, além do Carro do Povo, deu origem a outros carros de passeio, utilitários, e até esportivos. Entre eles está a Kombi, a emblemática Velha Senhora. Mas isto quase todo mundo sabe.
A Kombi foi lançada na Europa em 1950 como Volkswagen Type 2 (o Fusca, era o Type 1) e, apesar de ser considerada realmente ultrapassada nos últimos anos, tinha características que faziam dela uma bela obra de engenharia. Afinal, usando a plataforma do do Fusca, um carro de passeio que não era necessariamente espaçoso (porém, com construção monobloco, devido à fragilidade do projeto), a Kombi dava um show de aproveitamento de espaço — tanto que podia levar até 15 pessoas ou mais de 4.000 litros de bagagem. Além disso, tinha tanto carisma que muita, mas muita gente mesmo, a utiliza como carro de passeio ou lazer. Caramba, dá até para morar nela!
Foto: ThisIsFromMatilda.com
Impressionante para um carro que tem o tamanho do Fusca, não? Bem, não. Quer dizer, não exatamente.
No último dia 13 de março, o programa Autoesporte fez uma matéria especial sobre a Kombi, mostrando várias histórias de diferentes pessoas que tinham a Velha Senhora como parte importante de suas vidas — fosse para trabalho, lazer ou simples meio de transporte. A matéria completa é bem bacana, e tem até uma Kombi customizada ao estilo German Look, com motor turbinado.
No entanto, um detalhe chamou a atenção dos mais entendidos no assunto: em determinado momento, o programa diz que a Kombi tem o mesmo tamanho do Fusca — fazendo até uma comparação animada, com os dois carros lado a lado, em 3D. E foi aí que começou o problema.
O screenshot acima é de uma cena que dura poucos segundos, mas que foi suficiente para causar revolta nos fãs dos Volkswagen refrigerados a ar. Dá para entender o motivo: a animação traz um Fusca maior que realmente seria em relação à Kombi, a fim de mostrar que os dois têm o mesmo tamanho de para-choque a para-choque e exaltar o milagre de engenharia feito pela Volks. Mas eles não têm!
O erro passou despercebido por muita gente — afinal, não são poucos os que sabem que a Kombi e o Fusca dividem muitos componentes mecânicos e, pelo senso comum, não viram problemas com a comparação.
O especialista Alexander Gromow, no entanto, decidiu esclarecer as coisas. Gromow é um dos caras mais conhecidos na comunidade aircooled, já escreveu livros sobre o Fusca e é creditado como o criador do Dia Mundial do Fusca, reunindo vários clubes de proprietários pelo mundo todo. Ele sabe do que está falando, e explicou no Facebook que o Autoesporte teve uma boa intenção, mas falhou ao dizer que Fusca e Kombi têm o mesmo tamanho.
O que eles têm de igual é o entre-eixos, que é de exatos 2.400 milímetros (2,4 metros). No Fusca, o entre-eixos é dominado pelos bancos dos passageiros, comandos (volante, câmbio e pedais) mas, na Kombi, todo ele fica livre como área útil para carga. A própria Volks usou isto em material publicitário, incluindo aqui no Brasil.
Dito isto, o entre-eixos é a única medida idêntica entre os dois veículos — comprimento total, balanços e até mesmo a bitola da Kombi são maiores. Isto é até meio óbvio, na verdade, pois a Kombi traz o motorista sentado sobre o eixo dianteiro e todos os comandos de pilotagem à frente deste. Ou seja, mesmo com o entre-eixos igual, a Kombi tem mais espaço. A foto que abre este post e a imagem abaixo ilustram isto de forma bem simples e eficiente.
Um detalhe interessante: a Kombi usada pelo Autoesporte no exemplo é da primeira geração (T1), conhecida como “Corujinha” aqui no Brasil. Na Europa, ela foi produzida até 1967, quando foi substituída pela segunda geração (T2), que manteve o entre-eixos igual ao do Fusca, porém tinha balanços maiores (o que fica evidente na foto de abertura do post).
No Brasil, a T2 só começou a ser fabricada em 1975, porém mantendo as laterais da corujinha. As janelas largas e a porta corrediça só chegaram em 1997. Nessa mesma época a Kombi conviveu no Brasil com suas descendentes Eurovan e Caravelle, mas elas não vingaram por aqui e assim a Velha Senhora continuou firme e forte até 2013, quando a obrigatoriedade de airbags e ABS levaram a Volkswagen a tirá-la de linha.